sábado, 3 de novembro de 2012

SEXO E DESTINO -LIVRO DE CHICO XAVIER

CONTINUAÇÃO

Capítulo 13

Tornei ao Flamengo, apreensivo.
Não conseguira auscultar as minudências do plano obscuro que se formava. Os pensamentos de Cláudio e do vampirizador entrelaçavam-se em estranhos propósitos imprecisos.
Expedi comunicação, em despacho rápido para o irmão Félix, salientando a necessidade de nosso encontro, recolhendo-lhe a resposta, que não me alentava. Viria à noitinha, não mais cedo, à vista de inadiáveis obrigações.
Seria desaconselhável qualquer recurso a Neves, que sabia ocupado e, talvez, providencialmente ocupado, já que as dificuldades morais se esboçavam em labirinto e alguma ameaça de irritação nos frustraria objetivos e movimentos. Amigos outros, de cujos préstimos seria licito dispor, jaziam longe do assunto.
Era forçoso agir só, trabalhar por mim mesmo.
O momento não comportava aflições inúteis. Necessário manejar os recursos em mão.
Para intervir sem vacilações, julguei prudente ouvir o acompanhante desencarnado, de Cláudio, que eu desconhecia de todo.
A princípio, encontráramos dois. Entretanto, apenas um deles se mantinha constante, aquele cuja inteligência aguçada me ferira a atenção.
Não seria justo investigá-lo, perquirir-lhe os anseios?
Diante dos microaparelhos existentes no Plano Físico para emissão e recepção de mensagens, a longas distâncias, é desnecessário comentar
as facilidades de intercâmbio no Plano Espiritual.
Rememorei experiências anteriores, em que juntamente de outros amigos desencarnados modificara a apresentação externa, através de profundo esforço mental.
Aspirava a fazer-me visível à frente daquele amigo enigmático que claramente habitava o lar dos Nogueiras.
Poderia transfigurar-me, adensando a forma, como alguém que enverga roupa diversa.
Recolhi-me em ângulo tranqüilo, à frente do mar. Orei, buscando forças.
Meditei, fundo, compondo cada particularidade de minha configuração exterior, espessando traços e mudando o tom de minha apresentação habitual.
Quase uma hora de elaboração difícil esgotou-se, até que me percebi em condições de empreender a conversação cobiçada.
Não me autorizava a perder um minuto.
Avancei, prédio acima, batendo à porta, cerimonioso.
Aconteceu como previa, porque o parceiro invariável de Cláudio veio atender.
Olhou-me, desconfiado, de alto a baixo, esquadrinhou-me os intuitos.
Humilhei-me, vulgarizei a linguagem quanto pude.
Semelhante atitude era indispensável pela minha necessidade de informações. Atento a isso, afetei absoluto desinteresse pelos moradores do apartamento, centralizando nele o núcleo natural de minha atenção.
Expliquei andar procurando um amigo e perguntei pelo outro camarada que vira, ali, dias antes. Vira-os, juntos, precisamente naquele local, quando transitava no corredor; entretanto, passava, apressado, a peso de obrigações. Guardara, porém, a impressão de que o companheiro cujo encontro ambicionava era ele.
Esse o expediente mais simples que me ocorreu para cativálo, conversando com espírito de submissão e fraternidade naturais, de modo a ganhar-lhe alguma confiança e carinho.
Ele pareceu sensibilizar-se, tratou-me com a generosidade acidental de um fidalgo que não se desmerecia por dar migalha de consideração a um mendigo.
Compleição robusta e enorme, tocou-me o ombro com a destra, ensaiando o gesto de quem se prepara a despachar, polidamente, uma pessoa importuna, e catou minudências. Analisou-me, perscrutou-me, repisando inquirições.
Inteirando-se do exato momento em que os vira reunidos e reconhecendo os detalhes que conseguira, de minha parte, mencionar, esclareceu tratar-se de um amigo, que costumava hospedar, de vez em vez, para o reconforto de uns “drinques”. Naquele momento, contudo, não estava. Ao que sabia, recreava-se numa casa, em Braz de Pina, cujo endereço indicou.
Lamentei. Solicitei-lhe o nome, estava reconhecido à gentileza do acolhimento e tornaria ao Flamengo em outra oportunidade.
Estimaria nomeá-lo com a possível intimidade quando voltasse, na hipótese de ser constrangido a perguntar por ele a desconhecidos.
Ele não se fez de rogado. Respondeu, cortês.
Chamava-se Ricardo Moreira. Em alguma necessidade, porém, bastaria que o designasse tão-só por Moreira. Era estimado, possuía numerosas relações, contava com muitas afeições no prédio. Se chegasse a vê-lo, de novo, em companhia do colega ao qual me reportava, que o sacudisse, despertando-lhe a atenção.
Até ali, tudo bem. Era necessário, entretanto, que eu lhe examinasse as mais íntimas reações. Imprescindível conhecê-lo, sopesá-lo.

CONTINUA AMANHÃ

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