sábado, 17 de novembro de 2012

SEXO E DESTINO - LIVRO DE CHICO XAVIER

CONTINUAÇÃO

Cláudio ouviu, chorando... Intimamente, aceitou a hipótese.
Sem dúvida, a filha não pudera sobreviver ao insulto de que ele próprio se acusava. Aquele desconhecido confirmava-lhe as impressões.
Refletiu no suplício moral da jovem humilhada, antes de
se lançar ao gesto infeliz, sentiu-se o mais abjeto dos homens, no arrependimento que lhe azorragava todas as fibras da consciência, e agradeceu ao interlocutor, sofreando os soluços. Abraçou Salomão, num impulso de louvável sinceridade, e salientou que ele, o visitante gentil, era o verdadeiro e talvez o único amigo daquela
criança que procurara a morte e que tudo fariam para reaver.
O farmacêutico apiedado arriscou um alvitre. Confessou-se espírita e assinalou que os passes, sob a cobertura da oração, beneficiariam a menina prostrada. Ignorava quais os princípios religiosos de sua família; entretanto, possuía um amigo, o senhor Agostinho, a quem poderiam recorrer. Confiava na prece, no amparo espiritual. Se Cláudio permitisse, buscá-lo-ia. Nogueira
aceitou com humildade. Afirmou-se sozinho. Não lhe seria lícito recusar um auxílio que lhe era oferecido com tanta espontaneidade.
Apenas admitiu que se via na obrigação de rogar o consentimento das autoridades.
O facultativo, que lhes atendeu ao chamado, ouviu a petição.
Homem experimentado em angústias humanas, fitou Marita, não só com a inteligência do técnico que observa um aparelho, a caminho do desmonte para verificações finais, mas também com o sentimento de um pai afetuoso, e asseverou que Cláudio dispunha do direito de prestar à filha a assistência religiosa que desejasse, e
que, em se abstendo de ferir o regulamento da instituição, fora do quarto, ali estava como em sua própria casa.
Compadecido, ele mesmo favoreceria a vinda de Salomão com o espírita que indicasse. E, às oito da noite, o boticário de Copacabana entrou com o amigo que carregava pequeno pacote, em que se encontrava um livro.
Nogueira espantou-se. Aquele homem, que o saudava fraternalmente, e que lhe era apresentado por senhor Agostinho, freqüentava o banco, onde se alinhava entre os clientes mais respeitados.
Conhecia-lhe a posição de comerciante distinto, conquanto não lhe desfrutasse a intimidade. Entretanto, se o recém-chegado o reconhecia, não dava qualquer mostra.
Interessou-se delicadamente pela moça e inteirou-se de todas as minudências do desastre, com as atenções de quem escuta a própria família.
Logo após, entre Cláudio e Salomão, orou, emocionado. Suplicou a bênção do Cristo para a menina atropelada, qual se expusesse, diante de Jesus invisível, uma filha profundamente cara, e, em seguida, ministrou-lhe passes de longo curso com o devotamento de quem lhe transferia as próprias forças.
Cooperamos com ele, sob o olhar penetrante de Moreira, que tudo anotava como que sequioso de aprender.
A operação, saturada de agentes reconstituintes do plano físico, infundiu grande bem à moça, melhorando-lhe a condição geral. Relaxou-se-lhe mais intensamente o esfíncter da micção, a respiração desoprimiu-se e conseguiu entrar em sono calmo.
Cláudio solicitou a presença da enfermeira e, enquanto a serviçal modificava a rouparia, os três conversaram em saleta próxima.
Informado, então, de que Nogueira jamais tivera contacto
com princípios religiosos, Agostinho ofereceu-lhe o livro que trazia, um exemplar de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, e prometeu voltar na manhã seguinte.

CONTINUA AMANHÃ

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