sábado, 6 de outubro de 2012

SEXO E DESTINO - LIVRO DE CHICO XAVIER

CONTINUAÇÃO 

a cada um a regalia de agir como melhor lhe pareça.
Adotaremos princípios que valham menos, perante as normas que afiançam a harmonia entre os homens?
Rematando as elucidações lapidares que entretecia, o irmão Félix revestira-se de um halo brilhante.
Enlevados, não encontrávamos em nós senão silêncio para significar-lhe admiração ante a sabedoria e a simplicidade.
O instrutor fitava Cláudio com simpatia, dando a entender que se dispunha a abraçá-lo paternalmente, e, receando talvez que a oportunidade escapasse, Neves, humilde e respeitoso, pediu se lhe relevasse a insistência; entretanto, solicitava fosse aclarado, ainda, um ponto dos esclarecimentos em vista.
Diante do mentor paciente, perguntou pelos promotores de guerra, entre os homens. Declarara Félix que a justiça tacitamente cerceia as ações dos que ameaçam a estabilidade coletiva.
Como entender a existência de governantes transitórios, erigindo-se na Terra em verdugos de nações?
Félix sintetizou, reempregando algumas das palavras de que se utilizara:
– Dissemos “cercear” no sentido de “corrigir”, “restringir”.
Assinalamos igualmente que toda criatura vive na área de responsabilidade que a lei lhe delimita.
Compreendendo-se que a responsabilidade de alguém se enquadra ao tamanho do conhecimento superior que esse alguém já adquiriu, é fácil admitir que os compromissos da consciência assumem as dimensões da autoridade que lhe foi atribuída.
Uma pessoa com grandes cabedais de autoridade pode elevar extensas comunidades às culminâncias do progresso e do aprimoramento ou afundá-las em estagnação e
decadência.
Isso na medida exata das atitudes que tome para o bem ou para o mal.
Naturalmente, governantes e administradores, em qualquer tempo, respondem pelo que fazem. 
Cada qual dá conta dos recursos que lhe foram confiados e da região de influência que recebeu, passando a colher, de modo automático, os bens ou os males que haja semeado.
Víamos, porém, que Félix não desejava estender-se em mais amplas considerações filosóficas.
Assentando no rosto a expressão de quem nos pedia transferir para depois qualquer nova interrogação, acercou-se de Cláudio, a envolvê-lo nas suaves irradiações do olhar brando e percuciente.
Estabeleceu-se ligeira e doce expectativa.
O benfeitor acusava-se emocionado.
Parecia agora mentalmente distanciado no tempo.
Acariciou a cabeleira daquele homem, com quem Neves e eu, no fundo, não nos afináramos assim tanto, semelhando-se médico piedoso, encorajando um doente menos simpático.
Aquele momento de comoção, entretanto, foi rápido, quase imperceptível, porque o irmão Félix retomou-nos a intimidade e comentou, despretensioso:
– Quem afirmará que Cláudio amanhã não será um homem renovado para o bem, passando a educar os companheiros que o deprimem? Por que atrair contra nós a repulsão dos três, simplesmente porque se mostrem ignorantes e infelizes? E admitir-se-á, porventura, que não venhamos a necessitar uns dos outros?
Existem adubos que lançam emanações extremamente desagradáveis;  no entanto, asseguram a fertilidade do solo, auxiliando a planta que, a seu turno, se dispõe a auxiliar-nos.
O benfeitor esboçou o gesto de quem encerrava a conversação e lembrou-nos, gentil, o trabalho em andamento.

CONTINUA AMANHÃ

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