sexta-feira, 5 de outubro de 2012

SEXO E DESTINO - LIVRO DE CHICO XAVIER

CONTINUAÇÃO

– Ora, Neves, você precisa compreender que nos achamos à frente de pessoas bastante livres para decidir e suficientemente lúcidas para raciocinar. No corpo físico ou agindo fora do corpo físico, o Espírito é senhor da constituição de seus atributos. 
Responsabilidade não é título variável. 
Tanto vale numa esfera, quanto em outras. 
Cláudio e os companheiros, na cena que acompanhamos, são três consciências na mesma faixa de escolha e manifestações conseqüentes. 
Todos somos livres para sugerir ou assimilar isso ou aquilo. 
Se você fosse instado a compartilhar um roubo, decerto recusaria. 
E, na hipótese de abraçar a calamidade, em são juízo, não conseguiria desculpar-se.
Interrompeu-se o mentor, volvendo a refletir após momento
rápido: – Hipnose é tema complexo, reclamando exames e reexames de todos os ingredientes morais que lhe digam respeito. 
Alienação da vontade tem limites. 
Chamamentos campeiam em todos os caminhos. 
Experiências são lições e todos somos aprendizes.
Aproveitar a convivência de um mestre ou seguir um malfeitor é deliberação nossa, cujos resultados colheremos.
Verificando que o orientador se dava pressa em ultimar os esclarecimentos sem mostrar o mínimo propósito de afastar as entidades vadias que pesavam no ambiente, Neves voltou à carga, no
intuito louvável do aluno que aspira a complementar a lição.
Pediu vênia para repisar o assunto na hora.
Recordou que, sob o teto do genro, o irmão Félix se esmerava na defesa contra aquela casta de gente. Amaro, o enfermeiro prestimoso, fora situado junto de Beatriz principalmente para correr com intrometidos desencarnados. 
O aposento da filha tornara-se, por isso, um refúgio. 
Ali, no entanto...
E perguntava pelo motivo da direção diversa. 
Félix expressou no olhar a surpresa do professor que não espera apontamento assim argucioso por parte do discípulo e explicou que a situação era diferente.
A esposa de Nemésio mantinha o hábito da oração. Imunizava-se espiritualmente por si. 
Repelia, sem esforço, quaisquer formas-pensamentos de sentido aviltante que lhe fossem arremessadas.
Além disso, estava enferma, em vésperas da desencarnação.
Deixá-la à mercê de criaturas insanas seria crueldade. 
Garantias concedidas a ela erguiam-se justas.
– Mas... e Cláudio? – insistiu Neves. – Não merecerá, porventura, fraterna demonstração de caridade, a fim de livrar-se de tão temíveis obsessores?
Félix sorriu francamente bem-humorado e explicou:
– “Temíveis obsessores” é a definição que você dá. – E avançou:
– Cláudio desfruta excelente saúde física. 
Cérebro claro, raciocínio seguro. 
É inteligente, maduro, experimentado. 
Não carrega inibições corpóreas que o recomendem a cuidados especiais.
Sabe o que quer. 
Possui materialmente o que deseja. 
Permanece no tipo de vida que procura. É natural que esteja respirando a influência das companhias que julgue aceitáveis. 
Retém liberdade ampla e valiosos recursos de instrução e discernimento para juntar-se aos missionários do bem que operam entre os homens, assegurando edificação e felicidade a si mesmo. 
Se elege para comensais da própria casa os companheiros que acabamos de ver, é assunto dele. Enquanto nos arrastávamos, tolhidos pela carne, não nos ocorreria a idéia de expulsar da residência alheia as pessoas que não se harmonizassem conosco. 
Agora, vendo o mundo e as coisas do mundo, de mais alto, não será cabível modificar semelhante modo de proceder.
O tema desdobrava-se, assumindo aspectos novos.
Curioso, interferi:
– Mas, irmão Félix, é importante convir que Cláudio, liberto,
poderia ser mais digno...
– Isso é perfeitamente lógico – confirmou. 
Ninguém nega.
– E por que não dissipar de vez os laços que o prendem aos malandros que o exploram?
O alto raciocínio da Espiritualidade superior jorrou, pronto:
– Cláudio certamente não lhes empresta o conceito de vagabundos.
Para ele, são sócios estimáveis, amigos caros. Por outro lado, ainda não investigamos a causa da ligação entre eles para cunhar opiniões extremadas. 
As circunstâncias podem ser saudáveis ou enfermiças como as pessoas e, para tratarmos um doente com segurança, há que analisar as raízes do mal e confirmar os sintomas, aplicar medicação e estudar efeitos. 
Aqui, vemos um problema pela rama. 
Quando terá nascido a comunhão do trio? Os vínculos serão de agora ou de existências passadas?
Nada legitimaria um ato de violência da nossa parte, com o intuito de separálos,
a titulo de socorro. Isso seria o mesmo que apartar os pais generosos dos filhos ingratos ou os cônjuges nobres dos esposos ou das esposas de condição inferior, sob o pretexto de assegurar limpeza e bondade nos processos da evolução. 
A responsabilidade tem o tamanho do conhecimento. Não dispomos de meios precisos para impedir que um amigo se onere em dívidas escabrosas ou se despenque em desatinos deploráveis, conquanto nos seja lícito dispensar-lhe o auxílio possível, a fim de que se acautele contra o perigo no tempo viável, sendo de notar-se que as autoridades superiores da Espiritualidade chegam a suscitar medidas especiais que impõem aflições e dores de importância aparente a determinadas
pessoas, com o objetivo de livrá-las da queda em desastres morais iminentes, quando mereçam esse amparo de exceção. 
Na Terra, a exata justiça apenas cerceia as manifestações de alguém, quando esse alguém compromete o equilíbrio e a segurança dos outros, na área de responsabilidade que a vida lhe demarca, deixando

CONTINUA AMANHÃ

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