segunda-feira, 29 de outubro de 2012

SEXO E DESTINO - LIVRO DE CHICO XAVIER

CONTINUAÇÃO

Cláudio e Márcia, principalmente, ao elegerem o dinheiro e o sexo desgovernados por chaves dos próprios dias, nada mais estavam conseguindo que desajustar os fundamentos da tranqüilidade doméstica. Em razão disso, Marina e Marita não obtinham alicerces para a felicidade real. Jovens ainda, complicavam-se as duas em perigos e tentações, de que muito dificilmente se desvencilhariam, sem dolorosas marcas na alma.
Tamanha se evidenciara a rebeldia de Cláudio que, naquela hora significativa e ameaçadora da existência, não contava, além da Providência Divina, senão com raros amigos. Ainda assim, esses amigos – acrescentava modesto, certamente ponderando quanto às dificuldades dele mesmo – não se viam com direito a solicitar socorros especiais e, absorvidos por responsabilidades numerosas, achavam-se na contingência de apenas dispensar-lhe auxílios esporádicos, incertos.
Compreendemos onde o benfeitor categorizado e humilde se propunha chegar e adiantamo-nos, prometendo nossa adesão decidida ao programa assistencial que ele delineasse.
Dispúnhamos de oportunidade, não nos seria difícil.
Além do tempo que me era lícito despender, atento à concessão dos meus superiores para colaborar em apoio de Neves, possuía um requerimento em trânsito, junto das autoridades competentes, para que me fosse concedido um estágio de dois anos, em alguma das organizações destinadas, em Nosso Lar(4), aos serviços de psicologia sexual, com finalidades reeducativas, e ciente de que ele, irmão Félix, responsabilizava-se pela direção de um dos melhores institutos desse gênero, pedia-lhe, por minha vez, me endossasse a petição.
(4) Cidade consagrada à educação e ao reajustamento da alma, no Plano Espiritual. (Nota do Autor espiritual)
Sentir-me-ia feliz com o ensejo de estudar e trabalhar, assimilando-lhe a experiência e recebendo-lhe o patrocínio.
O instrutor reafirmou a sua simplicidade, declarando que a obra pela qual respondia talvez não pudesse satisfazer-nos a expectativa, mas obrigava-se – acentuava Félix, sem alarde – a favorecer-nos os estudos que intentaríamos.
Notando-me o entusiasmo, Neves não vacilou compartilharme os propósitos.
Faria requisição idêntica.
Nosso interlocutor, comovido, esclareceu que isso vinha reconfortá-lo, sobremaneira, porque, atendendo a ditames de afetividade e reconhecimento, alcançara permissão para recolher Beatriz, em sua própria residência, tão logo a esposa de Nemésio pudesse retirar-se da esfera física, depois da desencarnação.
Hospedá-la, junto de Neves, o genitor que a filha jamais apartara da lembrança, ser-lhe-ia contentamento enorme.
Ambos desfrutariam abençoada convivência, regozijar-se-iam unidos, recordando o passado e articulando novos planos de trabalho e alegria.
Enquanto o devotado coração paterno se desmanchava em agradecimentos, Félix se despediu, afetuoso.
Demandando algum refazimento, esboçávamos projetos, ideando medidas de ação.
Manifestava-se Neves tocado de energias e esperanças novas.
Aguardaria a filha, sim, confiante no futuro. Almejava o reequilíbrio total, ansiava reeducar-se, a fim de lhe ser mais útil. Empregaria todos os recursos, de modo a ampará-la, fortalecê-la.
Eufóricos, deliberamos concentrar, a partir do dia que se anunciava, todas as nossas atividades de vigilância ao lado de Dona Beatriz, prestes a se desobrigar das células doentes, e, certificando-nos de que a moradia dos Nogueiras reclamava plantão, urgia revezar-nos em serviço.
O amigo, contudo, ponderou com razão que a filha se abeirava do transe final, que receava não dispor da serenidade precisa, caso fosse defrontado, sozinho, por obstáculos constrangedores.
Era humano, adorava aquela filha padecente. Queria afagá-la, alentá-la, conquanto não se presumisse com merecimento bastante para estender-lhe apoio e consolação.
Não seria recomendável se mantivesse, em caráter permanente, no lar dos Torres, ao passo que me reservaria o compromisso de cooperar na pacificação dos Nogueiras.
Isso apenas por alguns dias, enquanto a liberação de Beatriz estivesse pendente.
Tanto quanto possível, por outro lado, poderia, de minha parte, tornar para junto dele, partilhando-lhe o clima da filhinha agonizante, onde nos acomodaríamos aos imperativos de nossa
edificação moral, estudando e servindo, para mais amplo rendimento das horas.
Aquiesci, contente, àquelas nótulas sensatas.
Foi assim que, refeito, regressei, manhã alta, ao apartamento de Cláudio, no intuito de investigar, a sós, a paisagem que me pautaria o quadro fundamental de aplicação ao dever assumido.
Cabia-me conhecer as minudências, suscetíveis de adquirir maior importância, de momento para outro, esquadrinhar pontos de apoio, tomar contactos e, se possível, ouvir pessoalmente os dois irmãos desencarnados, que ali desempenhavam lamentável papel.
Entrei. Apenas Dona Márcia, conversando com a senhora que se incumbia das mais pesadas obrigações no recinto doméstico, a comentarem os tópicos engraçados de certo programa de televisão,
que a família acabava de instalar, com espírito de novidade e alegria.

CONTINUA AMANHÃ

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