excitações, longamente acumuladas, lhe pesavam no espírito, qual nuvem de gases comburentes. Desinibia-se ou dementava-se, ao modo de alguém que carregasse bombas estourando no próprio peito.
Fi-lo sossegar-se. Não precisava vexar-se daquela maneira.
Entendia tudo, perfeitamente. De nossa parte, não apresentávamos qualquer traço de superioridade. Também nós, criatura humana desencarnada, conhecíamos de sobra os lances da batalha interior, em que o adversário somos sempre nós mesmos, na arena das qualidades inferiores que nos tocam sublimar.
Desaconselhável, porém, prosseguir, conversando à margem do serviço.
A frágil menina desoprimia-se, em pranto. Choro vozeado, não obstante discreto. Soluços.
Dispúnhamo-nos a intervir, quando sucedeu o inesperado.
Cláudio batia, de leve, à porta, decerto incomodado pelo som lastimoso daqueles gemidos que Marita, em vão, buscava reprimir.
Respiramos confortados.
Indubitavelmente, o inquieto coração paternal vinha ao encontro da moça desfalecente, ansiando soerguer-lhe as energias, e, nós próprios, através de estímulos magnéticos, insistimos com ela para que atendesse.
Empregando vontade e forças para vencer a crise de lágrimas, a jovem anuiu aos nossos apelos e cambaleou, desaferrolhando a passagem.
Cláudio entrou, mas não vinha só. Um daqueles dois companheiros desencarnados que lhe alteraram a personalidade, justamente o que se abeirara dele, em primeiro lugar, para o trago de uísque, enrodilhava-se-lhe ao corpo.
Fi-lo sossegar-se. Não precisava vexar-se daquela maneira.
Entendia tudo, perfeitamente. De nossa parte, não apresentávamos qualquer traço de superioridade. Também nós, criatura humana desencarnada, conhecíamos de sobra os lances da batalha interior, em que o adversário somos sempre nós mesmos, na arena das qualidades inferiores que nos tocam sublimar.
Desaconselhável, porém, prosseguir, conversando à margem do serviço.
A frágil menina desoprimia-se, em pranto. Choro vozeado, não obstante discreto. Soluços.
Dispúnhamo-nos a intervir, quando sucedeu o inesperado.
Cláudio batia, de leve, à porta, decerto incomodado pelo som lastimoso daqueles gemidos que Marita, em vão, buscava reprimir.
Respiramos confortados.
Indubitavelmente, o inquieto coração paternal vinha ao encontro da moça desfalecente, ansiando soerguer-lhe as energias, e, nós próprios, através de estímulos magnéticos, insistimos com ela para que atendesse.
Empregando vontade e forças para vencer a crise de lágrimas, a jovem anuiu aos nossos apelos e cambaleou, desaferrolhando a passagem.
Cláudio entrou, mas não vinha só. Um daqueles dois companheiros desencarnados que lhe alteraram a personalidade, justamente o que se abeirara dele, em primeiro lugar, para o trago de uísque, enrodilhava-se-lhe ao corpo.
O verbo enrodilhar-se, na linguagem humana, figura-se o mais adequado à definição daquela ocorrência de possessão partilhada, que se nos apresentava ao exame, conquanto não exprima, com exatidão, todo o processo de enrolamento fluídico, em que se imantavam. E afirmamos “possessão partilhada”, porque, efetivamente, ali, um aspirava ardentemente aos objetivos desonestos
do outro, completando-se, euforicamente, na divisão da responsabilidade em quotas iguais.
Qual acontecera, no instante em que bebiam juntos, forneciam a impressão de dois seres num corpo só.
Em determinados momentos, o obsessor afastava-se do companheiro, a distância de centímetros; contudo, sempre a enlaçá-lo, copiando gestos de felino, interessado em não perder o contacto da vítima. Achavam-se, entretanto, irrestritamente conjugados em vinculação recíproca.
Isso conferia ao semblante de Cláudio expressão diferente, O hipnotizador, cuja visão espiritual não nos atingia, senhoreava-lhe sentimentos e idéias, enquanto ele se deixava prazerosamente senhorear. O olhar obediente adquirira a turvação característica dos alucinados. O recém-chegado transfigurara-se. Estranho
sorriso franzia-lhe a boca. Diante das percepções limitadas de Marita, era ele um homem comum; no entanto, à nossa frente, valia por duas personalidades masculinas numa só representação.
Dois Espíritos exteriorizando impulsos aviltados, complementando paixões idênticas na mesma tônica da afinidade total.
Neves fitou-me, espantado. Mas, não era só ele, menos experiente, que jazia transido, amarrotado. Nós também, acostumados, no plano espiritual, aos embates do sentimento, alimentávamos aflitivas apreensões.
Aquele quarto, dantes povoado pelos devaneios doridos de uma criança, metamorfoseara-se em jaula, onde Cláudio e o vampirizador, singularmente brutalizados pelo desejo infeliz, constituíam juntos uma fera astuciosa, calculando o caminho mais fácil de alcançar a presa.
Um clarividente reencarnado que contemplasse o dono da casa, naquela hora, vê-lo-ia noutra máscara fisionômica.
A incorporação medianímica, espontânea e consciente, positivava-se em plenitude selvagem. O fenômeno da comunhão entre duas inteligências – uma delas encarnada e a outra desencarnada – , levantava-se, franco; ainda assim, desdobrava-se tão agreste quanto o furacão ou a maré, que se expressam por forças ainda desgovernadas da Natureza terrestre, não obstante a ocorrência, do ponto de vista humano, efetivar-se na suposta mudez do plano mental.
Para nós, porém, não se instituíam apenas as formas pensamentos, dando conta das intenções libertinas da dupla animalizada, com estruturas, cores, ruídos e movimentos correlatos; amedrontava-nos igualmente escutar as vozes de ambos, em diálogo, claramente perceptível.
As palavras escapavam do crânio de Cláudio, aparentemente silencioso para a filha adotiva, qual se a cabeça dele estivesse transfigurada numa caixa acústica de aparelho radiofônico.
Magnetizador e magnetizado denotavam sensualidade do mesmo nível.
Refletindo na corrida à garrafa, momentos antes, avaliávamos o perigo aberto à menina indefesa. A diferença, ali, é que Cláudio ainda encontrava recursos a fim de parlamentar, dentro da hipnose – hipnose que ele, aliás, amimalhava.
Discorria o obsessor, comovendo-o, no intuito patente de arruinar-lhe os restos do escrúpulo, através da emoção: – Agora, agora sim!... O amor, Cláudio, é isto... Esperar, por vezes, anos a fio, para dominar a felicidade num simples minuto.
Existem mulheres aos milhões; entretanto, esta é a única. A única
do outro, completando-se, euforicamente, na divisão da responsabilidade em quotas iguais.
Qual acontecera, no instante em que bebiam juntos, forneciam a impressão de dois seres num corpo só.
Em determinados momentos, o obsessor afastava-se do companheiro, a distância de centímetros; contudo, sempre a enlaçá-lo, copiando gestos de felino, interessado em não perder o contacto da vítima. Achavam-se, entretanto, irrestritamente conjugados em vinculação recíproca.
Isso conferia ao semblante de Cláudio expressão diferente, O hipnotizador, cuja visão espiritual não nos atingia, senhoreava-lhe sentimentos e idéias, enquanto ele se deixava prazerosamente senhorear. O olhar obediente adquirira a turvação característica dos alucinados. O recém-chegado transfigurara-se. Estranho
sorriso franzia-lhe a boca. Diante das percepções limitadas de Marita, era ele um homem comum; no entanto, à nossa frente, valia por duas personalidades masculinas numa só representação.
Dois Espíritos exteriorizando impulsos aviltados, complementando paixões idênticas na mesma tônica da afinidade total.
Neves fitou-me, espantado. Mas, não era só ele, menos experiente, que jazia transido, amarrotado. Nós também, acostumados, no plano espiritual, aos embates do sentimento, alimentávamos aflitivas apreensões.
Aquele quarto, dantes povoado pelos devaneios doridos de uma criança, metamorfoseara-se em jaula, onde Cláudio e o vampirizador, singularmente brutalizados pelo desejo infeliz, constituíam juntos uma fera astuciosa, calculando o caminho mais fácil de alcançar a presa.
Um clarividente reencarnado que contemplasse o dono da casa, naquela hora, vê-lo-ia noutra máscara fisionômica.
A incorporação medianímica, espontânea e consciente, positivava-se em plenitude selvagem. O fenômeno da comunhão entre duas inteligências – uma delas encarnada e a outra desencarnada – , levantava-se, franco; ainda assim, desdobrava-se tão agreste quanto o furacão ou a maré, que se expressam por forças ainda desgovernadas da Natureza terrestre, não obstante a ocorrência, do ponto de vista humano, efetivar-se na suposta mudez do plano mental.
Para nós, porém, não se instituíam apenas as formas pensamentos, dando conta das intenções libertinas da dupla animalizada, com estruturas, cores, ruídos e movimentos correlatos; amedrontava-nos igualmente escutar as vozes de ambos, em diálogo, claramente perceptível.
As palavras escapavam do crânio de Cláudio, aparentemente silencioso para a filha adotiva, qual se a cabeça dele estivesse transfigurada numa caixa acústica de aparelho radiofônico.
Magnetizador e magnetizado denotavam sensualidade do mesmo nível.
Refletindo na corrida à garrafa, momentos antes, avaliávamos o perigo aberto à menina indefesa. A diferença, ali, é que Cláudio ainda encontrava recursos a fim de parlamentar, dentro da hipnose – hipnose que ele, aliás, amimalhava.
Discorria o obsessor, comovendo-o, no intuito patente de arruinar-lhe os restos do escrúpulo, através da emoção: – Agora, agora sim!... O amor, Cláudio, é isto... Esperar, por vezes, anos a fio, para dominar a felicidade num simples minuto.
Existem mulheres aos milhões; entretanto, esta é a única. A única
CONTINUA AMANHÃ
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