domingo, 29 de julho de 2012

SOMBRAS DO PASSADO - Livro de Haroldo Freitas

CONTINUAÇÃO


o desejo de vê-la morta e terminou contando que D. Beatriz recebera uma denuncia dizendo que a Cida iria ao Hospital, naquela manhã, para envenená-la, depois mataria o marido e se suicidava. O Dr. Adilson pediu que ele desse o nome do denunciante, para que pudesse ter base para chamar a Policia. Manoel não poderia contar que a denuncia fora feita em uma sessão Espírita, além de não ter valor jurídico, provavelmente, o Dr. Adilson não aceitaria e, ainda, poderia desacreditar de toda a realidade. Resolveu assumir a responsabilidade, dizendo que o denunciante era ele e que escutara uma conversa da Cida com uma amiga, na qual, dizia o que ia fazer com a vagabunda da filha e com o marido infiel.
     O Dr. Adilson estava em dúvida. Achava anormal o comportamento de Cida, porém, as acusações de Manoel não tinham provas concretas. Manoel, vendo o dilema do médico e com receio que ele agisse pela lógica, ou seja, dá razão à mãe, jogou a última cartada.
     - Doutor, vamos fazer o seguinte: o senhor manda revistar a bolsa da Cida e se não for encontrado algo que comprove a minha acusação, eu assumo toda responsabilidade. Assino uma declaração dizendo que tudo foi invenção minha e que queria que a D. Beatriz se afastasse da família, para que eu pudesse ficar com os bens dela.
     Ainda indeciso, o Dr. Adilson perguntou:
     - No caso de D. Cida ser inocente, resolver processar o Hospital e você se negar a assumir a culpa, o que posso fazer, a não ser me demitir e responder inquérito Judicial e do Conselho Médico, podendo ser preso e ter o Diploma cassado.
     - Doutor, tome os meus documentos e me dê uma folha de papel em branco, para eu assinar.
     Vendo tanta convicção em Manoel, deu uma folha em branco para ser assinada, conferiu a assinatura, acertou como iria agir e disse:
     - Vamos lá Manoel e seja feita a Vontade e a Justiça de DEUS.
     Manoel agradeceu a confiança dizendo que ele não se arrependeria.
     Chegando à sala onde as duas estavam a sua decisão, falou:
     - Minhas senhoras, já tomei uma decisão, espero que seja aceita sem tumulto, porque, em caso contrário, a segurança do Hospital tomará as providências cabíveis. Ouvi o Sr. Manoel, que embora fosse muito detalhista em narrar os fatos, não me convenceu e resolvi, dentro da lógica, dá razão à mãe, que é soberana sobre os filhos, até prova em contrário e, como neste caso não foram apresentadas provas visuais e concretas, a D. Cida está autorizada a visitar à filha e conforme solicitação da mesma, A D. Beatriz está proibida de visitar a neta, em quanto aqui ela estiver internada.
     - Isso é um absurdo. A Cida vai matar a filha. Manoel não deixe que este crime, anunciado, seja cometido. Você, mais que qualquer um, sabe a verdade. Ontem a noite...
     Manoel tampou a boca de D. Beatriz com a mão e falou baixinho:
     - Calma D. Beatriz, acredite na Justiça de DEUS. Eu e o Dr. Adilson combinamos tudo, aguarde o final. A sua nora terá uma grande surpresa.
     - Que emocionante, os dois pombinhos abraçados. A velha descarada e o jovem gigolô. Doutor retire daqui esses dois vigaristas, como o senhor bem disse, eles não têm motivos para permanecerem no Hospital.
     - Calma D. Cida, eles já vão se retirar. A senhora está autorizada a subir até o apartamento da sua filha, que já deve ter sido transferida da UTI.
     - Muito obrigada Doutor e para vocês tchauzinho. Os fortes sempre vencem.
     - Um momento D. Cida. Como é norma do Hospital, os visitantes precisam ter os seus pertences verificados antes de adentrarem à ala dos enfermos. A senhora sabe como é, as vezes, até comida e tóxicos são encontrados nas revistas. Por gentileza entregue a sua bolsa à segurança.
     - Era só o que faltava. Eu uma mulher honesta, de bem e da Alta Sociedade Paulistana, ser revistada em uma espelunca. Jamais consentirei essa barbaridade. Estou subindo e não ouse me impedir. Processo vocês por danos morais.
     O Dr. Adilson mandou o Segurança segurá-la e revistar a sua bolsa.
     Cida tentou correr, mas foi dominada e quando a sua bolsa foi aberta, encontraram uma Pistola e um frasco cheio de pó branco, que depois de analisado, foi constatado ser estricnina.
     A Policia foi chamada e Cida foi conduzida à Delegacia. O Dr. Adilson, D. Cida e o Manoel, também, foram à Delegacia, em carro particular, para prestarem depoimento.
     Lá encontraram o Ronaldo, que foi avisado por sua mãe.
     Depois de tudo esclarecido e com os pedidos de D. Beatriz e do Manoel e a retirada da queixa pelo Dr. Adilson, o Delegado, que era Espírita e entendia do assunto de obsessão, resolveu depois das partes assinarem um Termo de Ajustamento e Conduta, não registrar a ocorrência como tentativa de homicídios e, sim, como desentendimento familiar.
     Particularmente, aconselhou o Ronaldo a frequentar um Centro Espírita, juntamente com a sua esposa, pois, lá era o único lugar que poderia solucionar aquele problema, que quase se tornara uma tragédia.

CONTINUA AMANHÃ

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