domingo, 15 de julho de 2012

SOMBRAS DO PASSADO - Livro de Haroldo Freitas

CONTINUAÇÃO

daquele local que estava infestado de malfeitores.
     No Centro Espírita Nossa Casa a equipe coordenado pelo Sr. Mário, depois de trinta minutos de concentração e preces, iniciou os trabalhos daquela noite, na expectativa que as Entidades Superiores conseguissem convencer o irmão Baltazar e seus comandados a comparecerem à reunião.
     Carol continuava com a sua vivencia pelas ruas. Durante o dia pedindo esmolas nos semáforos. Já não se preocupava em esconder o seu rosto, pois, maltrapilha, suja, magra e com a gravidez amostra, dificilmente seria reconhecida por alguém, talvez só a sua avó a reconhecesse. À noite, protegida pelo Velho da Rua, dormia no chão daquele beco fedido. Quase não dormia, tinha medo de ser estuprada e morta pelo seu protetor, que não expirava confiança, ou por outro  morador da rua. As lembranças da sua vida passavam em sua mente, como uma tela de cinema. A vida que levava em sua casa, com todo o conforto que alguém poderia imaginar. Tinha tudo que queria, do bom e do melhor. Dinheiro não lhe faltava e em quantidade. Só lhe faltava o amor, isso não conseguia encontrar o motivo. Eles amavam o Rodrigo e a tratavam como uma inimiga, mas, também, não compreendia porque não os amava. Teria que haver algum motivo, mas qual poderia justificar essa falta de amor entre pais e filhos. Quando estava em casa não se preocupara com este assunto, queria que eles se danassem e procurava sempre um meio para enervá-los, ainda, mais e expressar a sua revolta.
     Quantas vezes dizia para si mesma, eles são meus pais tenho o dever de amá-los, mas, logo vinha uma força estranha, uma voz dizendo, eles não te amam e não são teus pais. Agora, na rua, esses pensamentos não a deixavam dormir. Pensava em suicidar-se, porém, logo sentia um toque em sua barriga e lembrava-se do filho que tinha no ventre. Pensava, será que é ele que não quer morrer e ao sentir a minha vontade de suicidar-me, se desespera e chuta a minha barriga? Não, estou ficando louca. Amanhã resolvo tudo isso de uma vez. Antes das seis horas, o Velho da Rua a acordava e mandava que fosse, imediatamente, para o semáforo, sem tomar café, para chegar primeiro no ponto e aproveitar, estando só, arrecadar mais.
     A reunião no Centro continuava normalmente, até o inicio da evocação do irmão Baltazar e seus amigos. Aos poucos eles foram incorporando nos médiuns. Baltazar foi o primeiro a falar. Reclamou por o terem tirado de uma festa, que estava muito boa e já duravam cinco dias.
     - Vocês não têm o direito de, além de me tirarem da festa, me trazer a força para este lugar que só têm velhas. Espera um pouco, estou vendo uma jovem. Claro que não chega nem aos pés daquelas que estavam conosco, mas, dá para quebrar o galho. Será que ela aceita participar da nossa festa? O que vocês acham? Vamos leva-la?
     - Meu querido irmão - disse o doutrinador que estava ao lado da irmã Ivete.
     - Querido irmão uma ova. Vocês nos tiraram do paraíso e nos trouxeram para este lugar e, vem você me chamar de querido. Isto é uma brincadeira de mau gosto.
     - Para nós, vocês todos são muito queridos e foram trazidos para este lugar, uma das muitas casas de DEUS, para que pudéssemos orientá-los para o bem e para que possam, através da Justiça e Bondade do nosso Pai Celestial, alcançar o verdadeiro paraíso, a verdadeira felicidade.
     - Vá falando as suas besteiras, com o sono que estou, estão chegando aos meus ouvidos como música. Não o ritmo alucinante da nossa festa, mas, como estamos exaustos, logo dormiremos.
     - Irmão querido, ainda que vocês adormeçam, continuaremos a orientá-los para o bem e para o amor. Não há obstáculos que impeçam a palavra de DEUS chegar até os seus filhos, ainda que estejamos dormindo, até porque, o corpo físico adormece, mas o Espírito não.
     Baltazar, através do médium, adormeceu o que não impedia que o Sr. Mário e os doutrinadores, encarnados e desencarnados presentes, continuassem a doutrina-los. Tão logo Baltazar adormeceu, o irmão Antônio incorporou dizendo:
     - Tenho confiança em vocês. Sei que estão fazendo este trabalho para salvar a família da D. Beatriz, mas, também, sei que com isso nós seremos beneficiados, talvez, até mais do que eles. Acho que deste grupo do Baltazar só eu penso assim e, se vocês prometerem me proteger, eu largo esta vida de bandido. Ainda estou com o bando do Diogo por não ter para onde ir, a onde me esconder e ficar longe do seu domínio. Quando encarnado era cigano e pertencia a uma tribo que foi dominada pela família do Diogo. Era jovem, tinha vinte e dois anos e não aceitava, de uma hora para outra, viver sob o domínio de uma pessoa que roubava e matava para ficar com os bens materiais de suas vítimas. Obrigava todos a participar de seus atos infames e quando alguém se negava, ele mandava matar, o que aconteceu com o meu pai. Não suportando mais viver naquele inferno e com a morte de meu pai, suicidei-me e fui para no Vale dos Suicidas. Não tenho a mínima ideia do tempo que ali fiquei, até ser encontrado por Baltazar, que tinha sido morto em tiroteio com a Policia. Ele convidou-me para acompanha-lo, dizendo que estava arrependido, tinha mudado e vivia em uma Colônia, juntamente com muitos amigos, onde eles podiam ir e vir livremente. Disse, ainda, que nesta Colônia, todos eram felizes e trabalhavam para o bem da coletividade. Ele falava de uma maneira humilde e amorosa. Não impunha, deixou-me livre para aceitar ou não, o seu convite. Não tive escolha, na minha ignorância, 

CONTINUA AMANHÃ

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