quarta-feira, 6 de junho de 2012

OS MENSAGEIROS - LIVRO DE CHICO XAVIER

CONTINUAÇÃO 

CAPÍTULO 47 
NO TRABALHO ATIVO 

A interpretação de Bentes, obedecendo à inspiração de um emissário de nobre posição, presente à assembléia, era recebida com respeito geral, no circulo das entidades desencarnadas. 
Na esfera dos encarnados, porém, não se notava o mesmo traço de harmonia. 
Observava-se apreciável instabilidade de pensamento. 
A expectativa ansiosa dos presentes perturbava a corrente vibratória. 
De quando em quando, surpreendíamos determinados desequilíbrios, que afetavam, particularmente, a organização mediúnica de Dona Isabel e a posição receptiva do comentarista, que parecia perder “o fio das idéias”, tal qual se diria na linguagem comum. Colaboradores ativos restabeleciam o ritmo, quanto possível. 
Reparamos que alguns irmãos encarnados se mantinham irrequietos, em demasia. 
Mormente os mais novos em conhecimentos doutrinários exibiam enorme irresponsabilidade. 
A mente lhes vagava muito longe dos comentários edificantes. 
Viam-selhes, distintamente, as imagens mentais. 
Alguns se prendiam aos quefazeres domésticos, outros se impacientavam por não lograrem a realização imediata dos propósitos que os haviam levado até ali. 
Aniceto, que não perdia ocasião de prestar-nos esclarecimentos novos, considerou, discreto: – Muitos estudiosos do Espiritismo se preocupam com o problema da concentração, em trabalhos de natureza espiritual. 
Não são poucos os que estabelecem padrão ao aspecto exterior da pessoa concentrada, os que exigem determinada atitude corporal e os que esperam resultados rápidos nas atividades dessa ordem. Entretanto, quem diz concentrar, forçosamente se refere ao ato de congregar alguma coisa. Ora, se os amigos encarnados não tomam a sério as responsabilidades que lhes dizem respeito, fora dos recintos de prática espiritista, se, porventura, são cultores da leviandade, da indiferença, do erro deliberado e incessante, da teimosia, da inobservância interna dos conselhos de perfeição cedidos a outrem, que poderão concentrar nos momentos fugazes de serviço espiritual? 
Boa concentração exige vida reta. Para que os nossos pensamentos se congreguem uns aos outros, fornecendo o potencial de nobre união para o bem, é indispensável o trabalho preparatório de atividades mentais na meditação de ordem superior. 
A atitude íntima de relaxamento, ante as lições evangélicas recebidas, não pode conferir ao crente, ou ao cooperador, a concentração de forças espirituais no serviço de elevação, tão só porque estes se entreguem, apenas por alguns minutos na semana, a pensamentos compulsórios de amor cristão. Como vêem, o assunto é complexo e demanda longas considerações e ensinamentos. 
Reparei com mais atenção os circunstantes encarnados. 
Não fosse o devotamento dos colaboradores do nosso plano, tornar-seia impossível qualquer proveito concreto. 
Isidoro e outros amigos devotados trabalhavam com ardor, despertando alguns dorminhocos e reajustando o pensamento dos invigilantes, para neutralizar determinadas influências nocivas. 
Eu reconhecia que os benefícios imediatos da doutrinação de Bentos eram muito mais visíveis entre os desencarnados. 
No grupo destes, não havia um só que não recebesse consolações diretas e sublime conforto. 
Finda a interpretação, pouco antes de se entregar Dona Isabel ao trabalho do receituário, observei que uma senhora desencarnada se aproximara de Isidoro, pedindo, emocionada: – Ser-lhe-á possível, meu irmão, entender-se por mim com os nossos orientadores quanto à possibilidade de me comunicar diretamente com a minha filha, presente à reunião? 
Estou certa de  que, com a permissão devida, nossa Isabel me atenderá a angústia materna. 
O interpelado mostrou sincero desejo de ser útil, mas, depois de trocar algumas palavras com o instrutor mais graduado da reunião, que se colocara entre a médium e o doutrinador, veio trazer a resposta, algo constrangido, com grande surpresa para mim: – Minha irmã – disse ele –, o nosso nobre Anselmo não julga viável o seu pedido. 
Asseverou que sua filhinha ainda não está em condições de receber essa bênção. 
Ela tem necessidade de testemunhar, agora, o que aprendeu do seu exemplo, no mundo, e precisa permanecer no campo da oportunidade, sem repousar indevidamente nos seus braços. E como a senhora. denotasse tristeza, Isidoro continuou em tom fraternal: – Não somente por isso, minha amiga, nosso instrutor se vê forçado a desatender. 
A medida traria inconveniente grave para o seu sentimento maternal. No estado evolutivo em que se encontra, e considerando o velho hábito adquirido, a filhinha se agarraria excessivamente ao seu auxílio. 
Prender-se-ia à mãezinha afetuosa e sensível, e talvez a irmã se visse perturbada em sua nova carreira espiritual. 
Ela precisa estar mais livre para testemunhar, enquanto o seu coração deve permanecer em liberdade, por nobre merecimento conquistado ao preço do seu suor e lágrimas, quando na Terra. Considerando, embora, o caráter sagrado do amor em sua feição maternal, nossos orientadores não podem conceder à sua filha o direito de perturbá-la. Compreende? 
Não se atormente com esta impossibilidade transitória. 
Lembre-se de que todos somos filhos de Deus. 
O Senhor terá recursos para atender à jovem, em seu lugar. 
Quanto ao mais, alegremo-nos em nossos serviços. 
Recorde que o auxílio não se verificará pelo processo direto, mas podemos recorrer ao método indireto. 
Quem sabe?  Amanhã, possivelmente, poderá encontrar-se com sua filha, em sonho. 
A interpelada sorriu, confortada, e obtemperou: – É verdade. Devo compreender a nova situação. Nesse instante, acercou-se de Isidoro uma entidade amiga, que solicitou: – Meu caro, estimaria suas providências junto dos receitistas, para que forneçam novas indicações ao Amaro. 
Meu sobrinho necessita de amparo à saúde física. 
O esposo espiritual de Isabel tomou uma expressão significativa e respondeu: – Não posso, meu amigo, não posso. 
Se Amaro pedir e os receitistas cederem, tudo estará muito bem; mas você não ignora que o nosso doente é muito rebelde. 
Já lhe providenciei a obtenção de conselhos médicos do nosso plano, por cinco vezes, sem que ele correspondesse aos nossos esforços. 
Não se resolve a adquirir os remédios indicados, e quando os obtém, por obséquio de amigos, despreza os horários e julga-se superior ao método. 
Critica mordazmente as indicações obtidas e serve-se delas com desprezo. 
Naturalmente não estou agastado com isso, como adulto que se não aborrece com as brincadeiras de uma criança; mas você compreende que estamos lidando com um material muito sagrado e não há tempo para conviver com os que estimam a brincadeira. Além disso, não será caridade o ato de dar aos que não querem receber. Isidoro falava com uma inflexão de bondade fraternal, que afastava todos os característicos da franqueza contundente. 
Compreendi que, para atender a tanta gente e movimentar-se entre tantos propósitos heterogêneos, não seria possível tratar os assuntos de outro modo.
O serviço prosseguia com enorme demonstração educativa para Vicente e para mim. 
O esforço dos clínicos espirituais, aliado à abnegação da intermediária, comovia-me o coração. 
Era necessário, de fato, grande renúncia para atender ao trabalho compacto e numeroso, no setor de assistência aos encarnados, porque poucos freqüentadores do grupo pareciam manter atitude correspondente à sublime dedicação fraternal em nome do Mestre. 
Aniceto, porém, adivinhando meus pensamentos, falou com bondade: – Um dia, André, você compreenderá, com Jesus, que melhor é servir que ser servido; mais belo é dar que receber. 

CONTINUA AMANHÃ

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