CONTINUAÇÃO
CAPÍTULO 40
RUMO AO CAMPO
Quase todos os servidores espirituais puseram-se a caminho
de tarefas variadas. Somente alguns amigos permaneceriam na
residência de Dona Isabel, em missão de auxílio e vigilância.
Notei que Aniceto continuava distribuindo instruções diversas,
dirigindo-se, em caráter confidencial, a determinados companheiros,
a respeito da missão que lhe confiara Telésforo.
Antes do meio-dia, porém, convidou-nos a acompanhá-lo.
– Na oficina – disse-nos, bondoso – encontramos revigoramento
imprescindível ao trabalho.
Recebemos reforços de energia,
alimentamo-nos convenientemente para prosseguir no esforço,
mas convenhamos que, para muitos de nós, a noite representou
uma série de atividades longas e exaustivas. Necessitamos de
algum descanso.
Voltaremos ao crepúsculo.
Aonde iríamos?
Ignorava.
Recordei que, de fato, se alguns
haviam repousado no santuário doméstico, durante a noite, a
maioria havia trabalhado intensamente, e conclui que, se muitos
pela manhã haviam tomado rumo às obrigações, outros teriam
buscado o repouso indispensável.
– Aonde vão? – perguntou um companheiro da vigilância,
que se fizera nosso amigo.
Antes que respondêssemos, Aniceto esclareceu:
– Vamos ao campo.
E, dirigindo-se especialmente a Vicente e a mim, considerou:
– Utilizemos a volitação, mesmo porque não temos objetivos
imediatos no centro urbano.
Notei que movimentava agora minhas faculdades volitantes
com facilidade crescente.
A excursão educativa, com escala pelo
Posto de Socorro de Campo da Paz, fizera-me grande bem.
Melhorara
em adestramento, sentia-me fortalecido ante as vibrações
de ordem inferior, mobilizava os recursos próprios sem dificuldade.
Reparei, igualmente, que minhas possibilidades visuais cresciam
sensivelmente.
Volitando, não observara, até então, o que
agora verificava, extremamente surpreendido. Dantes, via somente
os homens, os animais, veículos e edifícios chumbados ao solo.
Agora, a visão dilatava-se.
Reconhecia, de longe, o peso considerável
do ar que se agarrava à superfície.
Tive a impressão de que
nadávamos em alta zona do mar de oxigênio, vendo em baixo, em
águas turvas, enorme quantidade de irmãos nossos a se arrastarem
pesadamente, metidos em escafandros muito densos, no fundo
lodoso do oceano.
– Estão vendo aquelas manchas escuras na via pública? – indagava
nosso orientador, percebendo-nos a estranheza e o desejo
de aprender cada vez mais.
Como não soubéssemos definir com exatidão, prosseguia explicando:
– São nuvens de bactérias variadas.
Flutuam quase sempre
também, em grupos compactos, obedecendo ao princípio das
afinidades. Reparem aqueles arabescos de sombra...
E indicava-nos certos edifícios e certas regiões citadinas.
– Observem os grandes núcleos pardacentos ou completamente
obscuros!...
São zonas de matéria mental inferior, matéria que é
expelida incessantemente por certa classe de pessoas.
Se demorarmos
em nossas investigações, veremos igualmente os monstros
que se arrastam nos passos das criaturas, atraídos por elas mesmas...
Imprimindo grave inflexão às palavras, considerou:
– Tanto assalta o homem a nuvem de bactérias destruidoras
da vida física, quanto as formas caprichosas das sombras que
ameaçam o equilíbrio mental.
Como vêem, o “orai e vigiai” do
Evangelho tem profunda importância em qualquer situação e a
qualquer tempo.
Somente os homens de mentalidade positiva, na
esfera da espiritualidade superior, conseguem sobrepor-se às
influências múltiplas de natureza menos digna.
Interessado, contudo, em maior esclarecimento, perguntei:
– Mas a matéria mental emitida pelo homem inferior tem vida
própria como o núcleo de corpúsculos microscópicos de que se
originam as enfermidades corporais?
O mentor generoso sorriu singularmente e acentuou:
– Como não? Vocês, presentemente, não desconhecem que o
homem terreno vive num aparelho psicofísico.
Não podemos
considerar somente, no capítulo das moléstias, a situação fisiológica
propriamente dita, mas também o quadro psíquico da personalidade
encarnada.
Ora, se temos a nuvem de bactérias produzidas
pelo corpo doente, temos a nuvem de larvas mentais produzidas
pela mente enferma, em identidade de circunstâncias.
Desse
modo, na esfera das criaturas desprevenidas de recursos espirituais,
tanto adoecem corpos, como almas. No futuro, por esse mesmo
motivo, a medicina da alma absorverá a medicina do corpo.
Poderemos, na atualidade da Terra, fornecer tratamento ao organismo
de carne.
Semelhante tarefa dignifica a missão do consolo,
da instrução e do alívio.
Mas, no que concerne à cura real, somos
forçados a reconhecer que esta pertence exclusivamente ao homem-
espírito.
– Deus meu! – exclamou Vicente, espantado – a que perigos
está submetido o homem comum!
– Por isso – tornou Aniceto, cuidadoso –, a existência terrestre
é uma gloriosa oportunidade para os que se interessam pelo conhecimento e elevação de si mesmos.
E, por esta mesma razão,
ensinamos a necessidade da fé religiosa entre as criaturas humanas.
Desenvolvendo essa campanha, não pretendemos intensificar
as paixões nefastas do sectarismo, mas criar um estado positivo de
confiança, otimismo e ânimo sadio na mente de cada companheiro
encarnado.
Até agora, apenas a fé pode proporcionar essa realização.
As ciências e as filosofias preparam o campo; entretanto, a fé
que vence a morte, é a semente vital.
Possuindo-lhe o valor eterno,
encontra o homem bastante dinamismo espiritual para combater
até à vitória plena em si mesmo.
Compreendendo que precisaria completar o esclarecimento,
exclamou, depois de pausa mais longa:
– Todos precisamos saber emitir e saber receber.
Para alcançarem
a posição de equilíbrio, nesse mister, empenham-se os
homens encarnados e nós outros, em luta incessante.
E já que
conhecemos alguma coisa da eternidade, é preciso não esquecer
que toda queda prejudica a realização, e todo esforço nobre ajuda
sempre.
As explicações recebidas não poderiam ser mais claras.
Aquela
visão, porém, de ruas repletas de pontos sombrios a se
deslocarem vagarosos, atingindo homens e máquinas, nas vias
públicas, assombrava-me.
Sequioso de ensinamentos, tornei ao assunto:
– A lição para mim tem valores incalculáveis.
E quando penso
no alto poder reprodutivo da flora microbiana...
Aniceto, contudo, não me deixou terminar.
Conhecendo, de
antemão, minha pergunta natural, cortou-me a frase, exclamando:
– Sim, André, se não fosse o poder muito maior da luz solar,
casada ao magnetismo terrestre, poder esse que destrói intensivamente
para selecionar as manifestações da vida, na esfera da
Crosta, a flora microbiana de ordem inferior não teria permitido a existência dum só homem na superfície do globo.
Por esta razão,
o solo e as plantas estão cheios de princípios curativos e transformadores.
E, abanando significativamente a cabeça, concluiu:
– Nada obstante esse poder imenso, recurso divino, enquanto
os homens, herdeiros de Deus, cultivarem o campo inferior da
vida, haverá também criações inferiores, em número bastante para
a batalha sem tréguas em que devem ganhar os valores legítimos
da evolução.
CONTINUA AMANHÃ
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