CONTINUAÇÃO
CAPÍTULO 25
EFEITOS DA ORAÇÃO
As luzes da prece inundaram o vasto recinto. Palpitava em
tudo, agora, uma claridade serena, doce, irradiante, muito diversa
da luminosidade artificial.
Os flocos radiosos que partiam de nós
multiplicavam-se no ar, como se obedecessem a misterioso processo
de segmentação, e caíam sempre sobre os corpos inanimados
e enrijecidos, dando a impressão de lhes penetrarem as células
mais intimas.
Eu estava boquiaberto.
Não me fora permitido contemplar fenômenos
dessa natureza em “Nosso Lar”.
Aliás, concluía, ainda
não recebera auxílio magnético às percepções, senão poucas horas
antes da viagem.
A claridade crescia e estendia-se em espetáculo prodigioso.
Agora, porém, abandonáramos a atitude de recolhimento destinada
à concentração de nossas próprias forças e emissão de
energias vibratórias.
Nossos corpos, todavia, continuavam envolvidos
em vasto circulo irradiante.
Prosseguindo, porém, o grande
silêncio, notei que a luz da oração se fazia mais clara, mais penetrante.
Comecei a ver, como no caso de Ana, que todos aqueles
esqueletos misérrimos apresentavam núcleos de sombra, além das
máscaras mortuárias, núcleos que se mostravam dentro de formas
variadíssimas.
As bolhas luminosas caíam incessantemente, mas agora, como
se fossem dirigidas por uma vontade inteligente, concentravam-
se quase todas sobre as frontes imóveis.
Então, pude observar
o inaudito e inconcebível para mim.
As múmias, porque não posso dar outro nome aos irmãos que
dormem, começaram a dar sinais de vida.
Alguns daqueles infelizes deixavam escapar gemidos angustiosos, outros falavam em
voz alta, dando conta dos pesadelos que os atormentavam, como
sonâmbulos prestes a despertar.
Muitos moviam os pés e as mãos,
como a se esforçarem por fugir ao sono doloroso.
Eminentemente surpreendido, reparei que dois se levantaram,
distante de nós.
Recordei que ambos faziam parte daqueles que
haviam recebido toda espécie de assistência, inclusive o sopro
curativo.
Olharam-nos de longe, como loucos que acordassem de
súbito, e dispararam a correr, espavoridos, não obstante a impressão
de cadáveres ambulantes, que nos causavam.
Admirado, verifiquei que ninguém esboçou a menor disposição
de segui-los.
E quando me propunha, instintivamente, a fazêlo,
Alfredo deteve-me, exclamando:
– Não se preocupe.
Eles seriam amargamente surpreendidos,
se fossem notificados agora de sua permanência longa entre verdadeiras
múmias.
Acreditam sonhar e é melhor assim.
Não poderão
fugir às nossas fortificações e voltarão a pedir socorro noutras
dependências, a que serão recolhidos para adequado tratamento.
Continuamos silenciosos mais alguns minutos e notei que as
luzes se foram apagando gradativamente, ao passo que os cadáveres
retomavam a imobilidade anterior.
Ismália declarou terminadas as nossas atividades da oração e
o administrador, após o sinal luminoso, que notificava aos operários
o término das obrigações, adiantou-se para nós, exclamando:
– Gratíssimo pelo concurso fraternal.
Realizamos belo serviço
intercessório.
Desde alguns dias, ninguém se levantava.
Aniceto, percebendo-nos a perplexidade, falou a Vicente e a
mim, de maneira significativa:
– Conforme viram, o trabalho da prece é mais importante do
que se pode imaginar no círculo dos encarnados. Não há prece
sem resposta. E a oração, filha do amor, não é apenas súplica.
É
comunhão entre o Criador e a criatura, constituindo, assim, o mais
poderoso influxo magnético que conhecemos.
Acresce notar,
porém, já que comentamos o assunto, que a rogativa maléfica
conta, igualmente, com enorme potencial de influenciação.
Toda
vez que o Espírito se coloca nessa atitude mental, estabelece um
laço de correspondência entre ele o Além.
Se a oração traduz
atividade no bem divino, venha donde vier, encaminhar-se-á para
o
Além em sentido vertical, buscando as bênçãos da vida superior,
cumprindo-nos advertir que os maus respondem aos maus nos
planos inferiores, entrelaçando-se mentalmente uns com os outros.
É razoável, porém, destacar que toda prece impessoal dirigida
às Forças Supremas do Bem, delas recebe resposta imediata,
em nome de Deus.
Sobre os que oram nessas tarefas benditas,
fluem, das esferas mais altas, os elementos força que vitalizam
nosso mundo interior, edificando-nos as esperanças divinas, e se
exteriorizam, em seguida, contagiados de nosso magnetismo
pessoal, no intenso desejo de servir com o Senhor.
E, procurando materializar o pensamento, para facilitar-nos a
compreensão, acentuou:
– Viram, vocês, cair sobre nós os elementos a que me refiro, e
observaram a sua exteriorização com as luzes de cada um de nós,
em benefício dos irmãos que dormem e sofrem.
Concedeu-nos o
Altíssimo a força de auxiliar, em porções iguais para todos, mas
nós a espalhamos de acordo com a nossa possibilidade e coloração
individuais. Ismália, cujos sentimentos são mais amplos e
universalistas que os nossos, pôde receber com mais clareza o
auxílio divino e distribuí-lo com mais abundância e eficiência.
Temos, aqui, uma profunda lição.
Como já disse, o Pai visita os
filhos necessitados, através dos filhos que procuram compreendêlo.
Não poderíamos abusar do Senhor, como abusamos no círculo
terrestre dos nossos pais humanos. Não vive Ele ao sabor de
nossos caprichos pessoais.
Nunca poderia vir, em pessoa, enxugar
o pranto do necessitado que chora, em conseqüência, aliás, do
olvido das Divinas Leis.
Compete ao necessitado caminhar ao
reencontro dEle.
O Senhor, todavia, atende sempre a todos os
homens de boa vontade, por intermédio dos homens bons, que se
edificam na casa divina. Todos os nossos desejos e impulsos
razoáveis são atendidos pelas bênçãos paternais do Eterno. Ainda
que nos demoremos nas lágrimas e nas aflições, jamais permanecemos
ao desamparo.
Apenas devemos salientar que as respostas
de Deus vão sendo maiores e mais diretas, à medida que se intensifique
o nosso merecimento, competindo-nos reconhecer que,
para semelhantes respostas, são utilizados todos quantos trazem
consigo a luz da bondade, ou já possuem mérito e confiança para
auxiliar em nome de Deus.
As explicações de Aniceto abriam-me novos campos de meditação.
O esclarecido instrutor, contudo, não dera por finda a
lição e, depois de longa pausa, concluiu:
– Já que vocês se encontram comigo num curso de serviço
auxiliador, espero aproveitem o máximo ensinamento desta hora.
Reparem que, nestes pavilhões, temos mil e novecentos e oitenta
abrigados que dormem.
Todos recebem diariamente alimento e
medicação comuns, mas só quatrocentos são atendidos com alimento
e medicação especializados, por se mostrarem mais suscetíveis
de justa melhora.
Desses quatrocentos, apenas dois terços se
revelaram aptos à recepção de passes magnéticos.
Muitos não
podem receber, por enquanto, a água efluviada.
Poucos foram
contemplados com o sopro curativo e somente dois se levantaram,
ainda assim, profundamente perturbados.
Já que iniciam um trabalho
de cooperação fraternal, não esqueçam esta lição.
Façamos
todos o bem, sem qualquer ansiedade. Semeemo-lo sempre e em
toda a parte, mas não estacionemos na exigência de resultados.
O
lavrador pode espalhar as sementes à vontade e onde quer que
esteja, mas precisa reconhecer que a germinação, o crescimento e
o resultado pertencem a Deus.
CONTINUA AMANHÃ
Nenhum comentário:
Postar um comentário