CONTINUAÇÃO
CAPÍTULO - 18
INFORMAÇÕES E ESCLARECIMENTOS
A volta de Ismália ao circulo da conversação impediu o prosseguimento
do assunto.
Aproveitando, talvez, a oportunidade, Aniceto perguntou ao
administrador:
– Que me diz da continuação de nossa viagem?
Estimaríamos
alcançar, ainda hoje, as esferas da Crosta.
Dirigiu-nos Alfredo significativo olhar e falou:
– Não me sinto com o direito de alterar-lhes o plano de serviço,
mas seria conveniente pernoitarem aqui.
Nossos aparelhos
assinalam aproximação de grande tempestade magnética, ainda
para hoje.
Sangrentas batalhas estão sendo travadas na superfície
do globo.
Os que não se encontram nas linhas de fogo permanecem
nas linhas da palavra e do pensamento.
Quem não luta nas
ações bélicas está no combate das idéias, comentando a situação.
Reduzido número de homens e mulheres continuam cultivando a
espiritualidade superior.
É natural, portanto, que se intensifiquem,
ao longo da Crosta, espessas nuvens de resíduos mentais dos
encarnados invigilantes, multiplicando as tormentas destruidoras.
Aniceto escutava com atenção.
– Não me preocupo com sua pessoa – continuou Alfredo, dirigindo-se de maneira particular ao nosso instrutor –, mas estes
dois amigos, penso, seriam desagradavelmente surpreendidos.
– Tem razão – concordou Aniceto.
E, esboçando significativa expressão fisionômica, prosseguiu:
– Avalio o sacrifício dos nossos companheiros espirituais, nos
trabalhos de preservação da saúde humana.
– São grandes servidores – disse o senhor do castelo. – De
quando em quando, observo-lhes, pessoalmente, os núcleos de
atividade santa.
A Humanidade parece preferir a condição de
eterna criança.
Faz e desfaz os patrimônios da civilização, como
se brincasse com bonecas.
Nossos amigos suportam pesados
fardos de serviço para que as tormentas magnéticas, invisíveis ao
olhar humano, não disseminem vibrações mortíferas, a se traduzirem
pela dilatação de penúrias da guerra e por epidemias sem
conta.
As colônias espirituais da Europa, mormente as de nosso
nível, estão sofrendo amargamente para atenderem às necessidades
gerais.
Já começamos a receber grandes massas de desencarnados,
em conseqüência dos bombardeios. “Nosso Lar”, pela
missão que lhe cabe, ainda não pode imaginar todo o esforço que
o conflito mundial vem exigindo da nossa colaboração nas esferas
mais baixas.
Os Postos de Socorro de várias colônias, ligadas a
nós, estão superlotados de europeus desencarnados violentamente.
Fomos notificados de que as súplicas da Europa dilaceram o
coração angélico dos mais altos cooperadores de Nosso Senhor
Jesus-Cristo.
Aos terríveis bombardeios na Inglaterra, na Holanda,
Bélgica e França, sucedem-se outros de não menor extensão.
Depois de reiteradas assembléias dos nossos mentores espirituais,
resolveu-se providenciar a remoção de, pelo menos, cinqüenta por
cento dos desencarnados na guerra em curso, para os nossos núcleos
americanos.
Temos aqui o nosso campo de concentração
com mais de quatrocentos.
– Mas não há dificuldade no socorro a essa gente? – indagou
Aniceto em tom grave. – E a questão da linguagem?
– Os serviços de socorro, apesar de intensos na Europa, têm
sido muito bem organizados, explicou Alfredo –; para cada grupo
de cinqüenta infelizes, as colônias, do Velho Mundo fornecem um
enfermeiro-instrutor, com quem nos possamos entender, de modo
direto.
Desse modo, o problema não pesa tanto, porque nossa parte de colaboração consta de fornecimento de pessoal de serviço
e de material de assistência.
– Não seria, porém, mais justo – indagou Vicente – que os
desencarnados dessa espécie fossem mantidos nas próprias regiões
do conflito?
Alfredo sorriu e explicou:
– Nossos instrutores mais elevados são de parecer que essas
aglomerações seriam fatais à coletividade dos Espíritos encarnados.
Determinariam focos pestilenciais de origem transcendente,
com resultados imprevisíveis. Inúmeros de nossos irmãos que
perdem o corpo nas zonas assoladas não conseguem subtrair-se ao
campo da angústia; mas, quantos ofereçam possibilidades de
transferência para cá, dentro das nossas cotas de alojamento, são
retirados dali, sem perda de tempo, para que seus pensamentos
atormentados não pesem em demasia nas fontes vitais das regiões
sacrificadas.
Nesse ínterim, Aniceto interveio, esclarecendo:
– Embalde voltarão os países do mundo aos massacres recíprocos.
O erro de uma nação influirá em todas, como o gemido de
um homem perturbaria o contentamento de milhões.
A neutralidade
é um mito, o insulamento uma ficção do orgulho político.
A
Humanidade terrestre é uma família de Deus, como bilhões de
outras famílias planetárias no Universo Infinito.
Em vão a guerra
desfechará desencarnações em massa.
Esses mesmos mortos
pesarão na economia espiritual da Terra.
Enquanto houver discórdia
entre nós, pagaremos doloroso preço em suor e lágrimas. A
guerra fascina a mentalidade de todos os povos, inclusive de
grande número de núcleos das esferas invisíveis.
Quem não empunha
as armas destruidoras, dificilmente se afastará do verbo
destruidor, no campo da palavra ou da idéia.
Mas, todos nós pagaremos
tributo.
É da lei divina, que nos entendamos e nos amemos
uns aos outros.
Todos sofreremos os resultados do esquecimento
da lei, mas cada um será responsabilizado, de perto, pela cota de
discórdia que haja trazido à família mundial.
Alfredo, que parecia ponderar seriamente os conceitos ouvidos,
observou:
– É justo.
Aniceto voltou a considerar, após silêncio mais longo:
– Estive pessoalmente, a semana passada, em “Alvorada Nova”,
que fica em zonas mais altas, e vim a saber que avançados
núcleos de espiritualidade superior, dos planetas vizinhos, desde
as primeiras declarações desta guerra, determinaram providências
de máxima vigilância, nas fronteiras vibratórias mantidas conosco.
Ensinam-nos os vizinhos beneméritos que devemos suportar,
nos próprios ombros, toda a produção de mal que levarmos a
efeito.
Somos, finalmente, a casa grande, obrigada a lavar a roupa
suja nas próprias dependências.
Sorrimos todos, com essa comparação.
Ismália, que permanecia em silêncio, não obstante a funda
impressão que se lhe estampara no rosto, considerou com delicadeza:
– Infelizmente, na feição coletiva, somos ainda aquela Jerusalém
escravizada ao erro.
Todos os dias somos curados por Jesus e
todos os dias conduzimo-lo ao madeiro.
Nossas obras estão reduzidas
quase a simples recapitulações que fracassam sempre.
Não
saímos do estágio da experiência. E, dolorosamente para nós,
estamos sempre a ensaiar, no mundo, a política com os Césares, a
justiça com os Pilatos, a fé religiosa com os Fariseus, o sacerdócio
com os rabinos do Sinédrio, a crença com os Jairos que acreditam
e duvidam ao mesmo tempo, os negócios com os Anases e Caifases.
Neste passo, não podemos prever a extensão dos acontecimentos
cruciais.
Encantado com as definições ouvidas, aventurei-me a dizer:
Como é angustiosa, porém, a destruição pela guerra!
– Nestes tempos, contudo – observou Alfredo, bondosamente
–, a prece é uma luz mais intensa no coração dos homens.
Bem se
diz que a estrela brilha mais fortemente nas noites sem luz.
Imaginem
que, para iniciar providências de recepção aos desencarnados
em desespero, já fui, mais de uma vez, aos serviços de assistência
na Europa.
Há dias, em missão dessa natureza, fomos, eu e
alguns companheiros, aos céus de Bristol. A nobre cidade inglesa
estava sendo sobrevoada por alguns aviões pesados de bombardeio.
As perspectivas de destruição eram assustadoras. No seio da
noite, porém, destacava-se, à nossa visão espiritual, um farol de
intensa luz.
Seus raios faiscavam no firmamento, enquanto as
bombas eram arremessadas ao solo.
A chefia da expedição recomendou
nossa descida no ponto luminoso.
Com surpresa, verifiquei
que estávamos numa igreja, cujo recinto devia ser quase
sombrio para o olhar humano, mas altamente luminoso para nossos
olhos.
Notei, então, que alguns cristãos corajosos reuniam-se
ali e cantavam hinos.
O Ministro do Culto lera a passagem dos
Atos, em que Paulo e Silas cantavam à meia noite, na prisão, e as
vozes cristalinas elevavam-se ao Céu, em notas de fervorosa
confiança.
Enquanto rebentavam estilhaços lá fora, os discípulos
do Evangelho cantavam, unidos, em celestial vibração de fé viva.
Nosso chefe mandou que nos conservássemos de pé, diante daquelas
almas heróicas, que recordavam os primeiros cristãos
perseguidos, em sinal de respeito e reconhecimento.
Ele também
acompanhou os hinos e depois nos disse que os políticos construiriam
os abrigos antiaéreos, mas que os cristãos edificariam na
Terra os abrigos antitrevosos.
– Às vezes – concluiu o senhor do castelo, em tom significativo
– é preciso sofrer para compreender as bênçãos divinas.
CONTINUA AMANHÃ
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