CONTINUAÇÃO
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NO CENTRO DOS MENSAGEIROS
No dia seguinte, após ouvir longas ponderações de Narcisa,
demandei o Centro de Mensageiros, no Ministério da Comunicação.
Acompanhava-me o prestimoso Tobias, não obstante os
imensos trabalhos que lhe ocupavam o circulo pessoal.
Deslumbrado, atingi a série de majestosos edifícios de que se
compõe a sede da instituição. Julguei encontrar algumas universidades
reunidas, tal a enorme extensão deles. Pátios amplos, povoados
de arvoredo e jardins, convidavam a sublimes meditações.
Tobias arrancou-me do encantamento, exclamando:
– O Centro é muito vasto. Atividades complexas são desempenhadas
neste departamento de nossa colônia espiritual.
Não
creia esteja resumida a instituição nos edifícios sob nossos olhos.
Temos, nesta parte, tão somente a administração central e alguns
pavilhões destinados ao ensino e à preparação em geral.
–
Mas esta organização imensa restringe-se ao movimento de
transmissão de mensagens? – perguntei, curioso.
O companheiro sorriu significativamente e esclareceu:
–
Não suponha se encontre aqui localizado o serviço de correio,
simplesmente.
O Centro prepara entidades a fim de que se
transformem em cartas vivas de socorro e auxílio aos que sofrem
no Umbral, na Crosta e nas Trevas.
Acreditaria, porventura, que
tanto trabalho se destinasse apenas a mera movimentação de
noticiário? Amplie suas vistas. Este serviço é a cópia de quantos
se vêm fazendo nas mais diversas cidades espirituais dos planos
superiores.
Preparam-se aqui numerosos companheiros para a
difusão de esperanças e consolos, instruções e avisos, nos diversos
setores da evolução planetária. Não me refiro tão só a emissários invisíveis.
Organizamos turmas compactas de aprendizes para
a reencarnação.
Médiuns e doutrinadores saem daqui às centenas,
anualmente.
Tarefeiros do conforto espiritual encaminham-se para
os círculos carnais, em quantidade considerável, habilitados pelo
nosso Centro de Mensageiros.
– Que me diz? – interroguei, surpreso. – Segundo seus informes,
os trabalhos de esclarecimento espiritual devem estar muitíssimo
adiantados no mundo!...
Fixou Tobias expressão singular, sorriu tranqüilamente e explicou:
– Você não ponderou, todavia, meu caro André, que essa preparação
não constitui, ainda, a realização propriamente dita.
Saem
milhares de mensageiros aptos para o Serviço, mas são muito
raros os que triunfam. Alguns conseguem execução parcial da
tarefa, outros muitos fracassam de todo. O serviço legítimo não é
fantasia. É esforço sem o qual a obra não pode aparecer nem
prevalecer.
Longas fileiras de médiuns e doutrinadores para o
mundo carnal partem daqui, com as necessárias instruções, porque
os benfeitores da Espiritualidade Superior, para intensificarem a
redenção humana, precisam de renúncia e de altruísmo.
Quando
os mensageiros se esquecem do espírito missionário e da dedicação
aos semelhantes, costumam transformar-se em instrumentos
inúteis.
Há médiuns e mediunidade, doutrinadores e doutrina,
como existem a enxada e os trabalhadores. Pode a enxada ser
excelente, mas, se falta espírito de serviço no cultivador, o ganho
da enxada será inevitavelmente a ferrugem.
Assim acontece com
as faculdades psíquicas e com os grandes conhecimentos. A expressão
mediúnica pode ser riquíssima; entretanto, se o dono não
consegue olhar além dos interesses próprios, fracassará fatalmente
na tarefa que lhe foi conferida.
Acredite, meu caro, que todo
trabalho construtivo tem as batalhas que lhe dizem respeito.
São
muito escassos os servidores que toleram as dificuldades e reveses
das linhas de frente.
Esmagadora percentagem permanece a distância
do fogo forte.
Trabalhadores sem conta recuam quando a
tarefa abre oportunidades mais valiosas.
Algo impressionado, considerei:
– Isto me surpreende sobremaneira.
Não supunha fossem preparados,
aqui, determinados mensageiros para a vida carnal.
– Ah! meu amigo – falou Tobias sorridente –, poderia você
admitir que as obras do bem estivessem circunscritas a simples
operações automáticas? Nossa visão, na Terra, costuma viciar-se
no círculo dos cultos externos, na atividade religiosa. Cremos, por
lá, resolver todos os problemas pela atitude suplicante.
Entretanto,
a genuflexão não soluciona questões fundamentais do espírito,
nem a mera adoração à Divindade constitui a máxima edificação.
Em verdade, todo ato de humildade e amor é respeitável e santo,
e, incontestavelmente, o Senhor nos concederá suas bênçãos; no
entanto, é imprescindível considerar que a manutenção e limpeza
do vaso, para recolhê-las, é dever que nos assiste.
Não preparamos,
pois, neste Centro, simples postalistas, mas espíritos que se
transformem em cartas vivas de Jesus para a Humanidade encarnada.
Pelo menos, este é o programa de nossa administração
espiritual...
Calei, emocionado, ponderando a grandeza dos ensinamentos.
Meu companheiro, após longa pausa, prosseguiu observando:
– Raros triunfam, porque quase todos estamos ainda ligados a
extenso pretérito de erros criminosos, que nos deformaram a
personalidade. Em cada novo ciclo de empreendimentos carnais,
acreditamos muito mais em nossas tendências inferiores do passado,
que nas possibilidades divinas do presente, complicando
sempre o futuro.
É desse modo que prosseguimos, por lá, agarrados
ao mal e esquecidos do bem, chegando, por vezes, ao disparate
de interpretar dificuldades como punições, quando todo obstá
culo traduz oportunidade verdadeiramente preciosa aos que já
tenham “olhos de ver”.
A essa altura, alcançamos enorme recinto.
Centenas de entidades penetravam no vasto edifício, cujas escadarias
galgamos em animada conversação.
Os aspectos do maravilhoso átrio impressionavam pela imponente
beleza.
Espécies de flores, até então desconhecidas para
mim, adornavam colunatas, espalhando cores vivas e delicioso
perfume.
Quebrando-me o enlevo, Tobias explicou:
– As diversas turmas de aprendizes encaminham-se às aulas.
Procuremos Aniceto no departamento de instrutores.
Atravessamos galerias vastíssimas, sempre defrontados por
verdadeiras multidões de entidades que buscavam as aulas, em
palestras vibrantes.
Em pequeno grupo que parecia manter conversação muito
discreta, encontramos o generoso amigo da véspera, que nos
abraçou sorridente e calmo.
– Muito bem! – disse, alegre e bondoso – esperava o novo aluno,
desde a manhãzinha.
E em virtude de Tobias alegar muita pressa, o nobre instrutor
explicou:
– Doravante, André ficará aos meus cuidados.
Volte tranqüilo.
Despedi-me do companheiro, comovidamente.
Notando-me o natural acanhamento, Aniceto determinou a
um auxiliar de serviço:
– Chame o Vicente em meu nome.
E, voltando-se para mim, esclareceu:
– Até agora, Vicente é o meu único aprendiz médico. Vocês
ficarão juntos, em vista da afinidade profissional.
Não haviam decorrido três minutos e tínhamos Vicente diante
de nós.
– Vicente – falou Aniceto sem afetação –, André Luiz é nosso
novo colaborador. Foi também médico nas esferas carnais. Creio,
pois, que ambos se encontrarão à vontade, partilhando a mesma
experiência.
O interpelado abraçou-me, demonstrando extrema generosidade,
e, após encorajar-me com belas palavras de estimulo, perguntou
ao nosso orientador:
– Quando deveremos procurá-lo para os estudos de hoje?
Aniceto pensou um instante e respondeu:
– Esclareça ao novo candidato os nossos regulamentos e venham
juntos para as instruções, após o meio-dia.
CONTINUA AMANHÃ
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