quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

SOMBRAS DO PASSADO - Livro de Haroldo Freitas - Parte 27

CONTINUAÇÃO

O movimento da Rodoviária começou a aumentar. O dia estava amanhecendo. Passara um dia e uma noite perambulando entre pessoas que chegavam e saiam sempre apressadas, não tinha tempo nem interesse de conhecerem o drama daquela menina gravida.
À tarde, encontrou o mesmo Policial do dia anterior, tentou esconder-se no meio das pessoas, mas o Policial a segurou pelo braço e disse para ela sair dali, imediatamente, ou a levaria para a Delegacia. Tentou convencê-lo que estava a espera da sua mãe, mas não teve êxito. Saiu andando pelas ruas, do centro de São Paulo, procurando os becos e vielas, escondendo-se, com medo de encontrar alguém conhecido. Porém, nestes becos e vielas, só encontrou vagabundos e viciados que lhe faziam as piores propostas. Já estava escurecendo, o medo aumentando, quase chegando ao desespero, de ter que passar a noite no meio daquela gente, quando encontrou um mendigo, idoso, cabelos grisalhos, que vendo o medo estampado em seu rosto, aproximou-se e perguntou o que ela estava fazendo ali.
Veio a mente a estória que tinha inventado ao Policial e resolveu repeti-la, acrescentando que tinha passado o dia e a noite na Rodoviária, a espera da mãe e ela não chegara. No principio da tarde o Policial mandou que saísse de lá ou ele a levaria para a Delegacia. Desde então estava andando pelas ruas sem ter para onde ir. O mendigo lhe deu um pedaço de pão, um pouco de leite, um cobertor e mandou que deitasse ao seu lado que não seria incomodada e pela manhã resolveria o problema dela. Dissera que morava na rua há mais de dez anos e todos o respeitavam que se chamava João, mas era conhecido como o Velho da Rua, como todos o chamavam.
Embora, aquele senhor não lhe expirasse confiança, aceitou o seu oferecimento, pois, além de estar com fome, frio e cansada, não tinha alternativa.
O João, ou melhor, o Velho da Rua, portou-se muito bem, naquela e nas outras noites. A única exigência era ela pedir esmolas durante o dia. Aliás, tarefa não muito difícil devido a sua aparência, jovem, gravida e educada. No final do dia a renda era sempre proveitosa.
D. Beatriz passou o dia ansiosa e na esperança da Carol telefonar. A tarde foi para o Centro e contou para o Sr. Mário e para os médiuns da equipe, a fuga da neta. Todos procuravam tranquiliza-la. Patrícia falou sobre a psicografia e a necessidade do trabalho de desobsessão à distância, que deveria ser iniciado imediatamente.
Os médiuns foram escolhidos pela Entidade que incorporava em Patrícia e, depois de tomarem conhecimento do que se tratava, comprometeram-se a trabalhar durante os trinta dias estabelecidos, como também, caso necessário, por mais dias. Até porque, tratava-se da família de D. Beatriz, que ajudava a todos que a procuravam e, agora que necessitava de ajuda, era dever e obrigação de todos ajudá-la.
Logo após a realização dos trabalhos rotineiros do Centro, os médiuns pré-escolhidos, mais D. Beatriz, Patrícia e o Sr. Mário iniciaram o trabalho de desobsessão à distância, que tinha como finalidade a desobsessão de Ronaldo, Cida e Carol, filho, nora e neta de D. Beatriz.
Como fora planejado, a D. Beatriz, que serviria de elo entre os obsessores e obsedados, ficaria sentada em uma cadeira e em volta ficariam os sete médiuns, com os respectivos doutrinadores ao lado. A Patrícia e o Sr. Mário coordenariam o trabalho.

CONTINUA AMANHÃ

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