terça-feira, 27 de dezembro de 2011

REENCONTRO - LIVRO DE CHICO XAVIER - CAPÍTULO 2

CONTINUAÇÃO

“QUANDO ME ENTREGUEI AO NOSSO SENHOR,
A PAZ ME PENETROU O ESPÍRITO”

Querida Jeni, Deus nos abençoe.
É preciso muita coragem para me manifestar, recordando o domingo trágico de fevereiro.
Perdoe-me, querida esposa, se ainda tenho lágrimas ao notificar-lhe que caí cumprindo meu dever de cristão, aceitando a pressão que me arrancou do corpo.
Dei abrigo a dois companheiros que rogavam socorro na estrada, mal sabendo que instalava comigo aqueles mesmos irmãos que me furtariam a vida.
Pedi compaixão para o pai de família que eu era, falei de você e em nossos filhos, e quis colocar-me de joelhos; entretanto deviam ser meus credores que não conseguiam me perdoar alguma falta cometida por mim em algum caminho do passado, que a minha memória ainda não conseguiu revisar.
Vi que me abatiam como se eu fosse um animal no matadouro, mas pensei em Deus e aceitei com resignação o golpe que me impunham. Que poder prodigioso exerce a cruz de Cristo sobre nós nas grandes horas da vida, quando a vida se abeira da morte por violência!...
Creio hoje que Jesus terá escolhido a morte assim, sob as pancadas da maldade, para fortalecer as criaturas que viessem a cair depois dele, em ciladas e golpes da Terra!
Quando me entreguei a Ele, Nosso Senhor e Mestre, depondo você e os filhos, por imaginação, nos braços de Quem, quanto Ele, é a nossa salvação e a nossa luz, a paz me penetrou o espírito e adormeci.
Depois das surpresas que se seguiram ao meu despertar, concentrei minha vida íntima em você e nos filhos, e pude vê-los, pouco a pouco, adquirindo a conformidade de que necessitávamos.
Minha avó Maria, a irmã Encarnação e o benfeitor Rodrigo me amparavam e hoje posso dizer ao Edson e à Aparecida, à Edna e ao João Carlos, ao Luiz Sérgio e a todos os nossos, que estamos em paz, você e eu, porque reconheço que prosseguimos sem discordar um do outro.
Agradeço a você, querida Jeni, e aos filhos queridos, não haverem formado um processo que me feriria o coração. Compadecermo-nos daqueles que se tornam autores da dor alheia é uma obrigação. Deus me auxiliará para que, um dia, possa de minha parte acolher os companheiros que me liquidaram a existência física, sendo útil a eles em alguma coisa, com a mesma alegria com que os recebi em nosso caminhão de trabalho.
Estou orgulhoso da família por me haver atendido a inspiração de não procurar ninguém para julgamentos que pertencem a Deus.
Estamos tranquilos porque não ferimos a ninguém, e a nossa família prossegue em harmonia para diante. Seria para nós dois um grande desgosto observar os netos crescendo com idéias de infelicidade e vingança. Sei que a Aparecida trouxe o Glauco e o Rodrigo, pois rogo a vocês dizerem a eles que o avô seguiu numa viagem para outra casa que a vontade de Deus lhe apontou.
Cessem na família a idéia de que fomos espoliados em qualquer coisa. O que seria lamentável é se eu viesse para cá remoendo o arrependimento de algum ato infeliz.
Pensemos em Jesus e sigamos com a nossa fé, sabendo que a fé cristã é uma riqueza de que podemos dispor na vida, na morte, depois da chegada ao mais Além, que é unicamente a continuação da vida na Terra mesmo. Participo à nossa filha – nossa Maria Aparecida, que a sua amiga Ione Páscoa veio em nossa companhia e agradece-lhe as lembranças.
Querida Jeni, com nosso filhos e netos abençoados, incluindo a nora e o genro que nos fazem tão felizes, rogo a você receber o coração agradecido e saudoso do seu velho e companheiros de todos os dias, que estará sempre que possível ao seu lado para vencermos juntos, tanto quanto juntos temos estado confiantes em Deus.
Sempre o esposo, sempre seu
Francisco
Notas e Identificações
1 – domingo trágico de fevereiro – Ele faleceu num domingo, 18/2/1979.
2 – deviam ser meus credores que não conseguiam me perdoar alguma falta cometida por mim em algum caminho do passado, que a minha memória ainda não conseguiu revisar. – Após a morte física, o Espírito leva algum tempo para recordar suas vidas anteriores. Evidentemente, quando redigiu a carta, o Sr. Francisco já estava ciente de que a nossa desencarnação ocorreu sob o manto das Leis Divinas, justas e sábias. (Ver O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec, Cap. 5: “Bem aventurados os aflitos”.)
3 – Minha avó Maria – Falecida há muitos anos.
4 – Encarnação – Parente do Sr. Francisco.
5 – Benfeitor Rodrigo – Desconhecido da família.
6 – Edson e Aparecida – Edson Quintanilha, filho, e Maria Aparecida Ribeiro Quintanilha, nora.
7 – Edna e João Carlos – Edna Q. Baptista, filha, e João Carlos Baptista, genro.
8 – Luiz Sérgio – Luiz Sérgio Quintanilha, filho.
9 – Deus me auxiliará para que, um dia, passa acolher os companheiros que me liquidaram a existência física – Com esta compreensão, o Sr. Francisco dá-nos um exemplo marcante, revelando admirável grandeza espiritual.
10 – Estou orgulhoso da família por me haver atendido a inspiração de não procurar ninguém para julgamentos que pertencem a Deus – A sua família, de fato, não recorreu à Justiça.
11 – Gláucio e Rodrigo – Netos, filhos do casal Maria Aparecida e Edson.
12 – Ione Páscoa – Ione Páscoa Viana dos Santos, desencarnada por afogamento no Salto de Avanhandava, SP, a 12/3/1978, era vizinha e amiga da família Quintanilha.
13 – Devemos estas anotações elucidativas à entrevista feita, a nosso pedido, pelo confrade e amigo Dr. Antônio César Perri de Carvalho, residente em Araçatuba, com D. Jeni P. Quintanilha.

CONTINUA AMANHÃ

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