terça-feira, 15 de novembro de 2011

ESTAMOS VIVOS - LIVRO DE CHICO XAVIER - PARTE 14

CONTINUAÇÃO

– Irmão querido – exclama ele – resgatas hoje os delitos cruéis que cometestes quando te ocupavas do nefando mister de inquisidor, nos tempos passados. Redimiste o pretérito obscuro e criminoso, com as lágrimas do teu sacrifício em favor da Pátria do Evangelho de Jesus. Passarás a ser um símbolo para a posteridade,com o teu heroísmo resignado nos sofrimentos purificadores. Qual novo gênio surges, para espargir bênçãos sobre a terra do Cruzeiro, em todos os séculos do seu futuro. Regozija-te no Senhor pelo desfecho dos teus sonhos de liberdade, porque cada um será justiçado de acordo com as suas obras. Se o Brasil se aproxima da sua maioridade como nação, no influxo do amor divino, será o próprio Portugal quem virá trazer, até ele, todos os elementos da sua emancipação política, sem o êxito das revoluções feitas à custa do sangue fraterno, para multiplicar os órfãos e as viúvas na face sombria da Terra...
Um sulco luminoso desenhou-se nos espaços, à passagem das gloriosas entidades que vieram acompanhar o espírito iluminado do mártir, que não chegou a contemplar o hediondo espetáculo do esquartejamento.”
Num livro escrito entre 1900 a 1914, editado em 1920, intitulado Folhas que Ficam (Emoções e Pensamentos), o ensaísta e crítico literário, ficcionista e poeta Nestor Victor (Paranaguá, Paraná, 12 de abril de 1868 – Rio de Janeiro, RJ, 13 de outubro de 1932), a nosso ver, compreendeu a essência do assunto de que estamos tratando, na belíssima página “Os Nossos Dois Vultos Supremos”, referindo-se a Anchieta e Tiradentes (in Nestor Victor – Prosa e Poesia –, por Tasso da Silveira, Livraria AGIR Editora, Rio de Janeiro, 1963, “Nossos Clássicos” Nº. 74, pp. 37-38), da qual extraímos este
“Anchieta tem proporções para, pelo seu prestígio espiritual, fazer do Brasil um mundo e desenvolver nesse mundo uma humanidade melhor.
Tiradentes é, para a liberdade, o que foi Anchieta para a caridade e para a fé, simboliza o civismo brasileiro do modo mais puro, mais ideal possível.
Ele enlouqueceu de loucura sublime pelo sentimento pátrio como o jesuíta enlouquecera pelo amor de Deus e das gentes.
Desde que se apoderou daquele ser a idéia que o levou ao patíbulo, Tiradentes esqueceu-se de si, como quem já propriamente não existe. O que torna irresistível é justamente sua imprudência, a cegueira com que ele tornava já pela própria realidade o que era unicamente o seu sonho.
Quiseram fazê-lo acordar, com o fato de encarcerá-lo, de submetê-la a um longo martírio, a demoradas inquisições, à tentação de trair os outros conjurados. Tudo foi em vão. Ele continuou mergulhado em seu sonho. Denunciou-se a si próprio com a candura de uma criança. A única coisa que o molestava era ver que outros sofriam com ele também. Esses outros, na sua triste fraqueza, atiraram sobre o rústico caboclo todo o peso da culpabilidade maior. Tiradentes, entretanto, recebeu-a, acolheu-a com quem recebe uma graça. Por fim, sabendo que seria ele o único a pagar com o último suplício o tremendo crime (que assim se considerou sua ingênua tentativa), alegrou-se pela primeira vez desassombradamente, qual se houvesse conseguido uma suprema vitória. Morreu, sabendo que ia ser esquartejado, infamado até a terceira geração, como quem morre no apogeu da glória, sob aclamações cujo eco nunca mais se perderá.”
6 - “Pensemos em Natal e Ano Novo” – D. Eva explicou-nos que seu filho Júlio era católico, e todas as vezes que telefonava para ele, quando estava em Brasília, servindo o Exército, ou já nos Estados Unidos da América do Norte, ele sempre dizia que estava rezando e tinha grande entusiasmo por ocasião das comemorações natalinas.
No último Natal que passaram juntos, em 1985 (a sua desencarnação ocorreu a 16 de janeiro de 1986), D. Eva impressionou-se com a alegria dele no preparo de tudo. “Deixa a melancia para eu arrumar, Mamãe!” – lembra ela, com lágrimas nos olhos.
7 - “Peço aos queridos irmãos José Carlos, João Rosco e atados os demais, inclusive os nossos queridos Paulo Estêvão e Victor, para que estejamos todos alegres e esquecidos do episódio infeliz.” – Irmãos de Júlio: a) José Carlos Moraes, fazendeiro em Rio Verde,
casado com D. Lucilene Martins Moraes; b) João Bosco Moraes, comerciante em Rio Verde, casado com D. Jane Elmar Freitas Moraes; c) Dra. Vera Lúcia Moraes Henrique – Cf. item 2, acima; d) Jerônimo Carlos Moraes, psicólogo, residente em Goiânia; e) Paulo Estêvão Moraes, comerciante, residente em Goiânia; f) Jorge Fernando Lemes Moraes, comerciante, residente em Rio Verde.
***
Concluindo este já extenso capítulo, transcreva-mos trechos de alguns cartões enviados por Júlio Brasílio de Moraes à sua querida Mãezinha, muitos deles com pontos ilegíveis, devidamente assinalados:
1 - “Curitiba-PR, 04/01/77. / Oi pessoal, aqui tudo está bem. /Tenho conhecido mil lugares bonitos e muita gente legal. / Mamãe, um grande abraço para você e para todos, de seu filho Júlio.”
2-“San Francisco, 10/03/79./Mãe,/ – Em primeiro lugar desejo-lhe um Feliz Aniversário e que tudo seja feliz para você, pois você merece toda a felicidade do mundo. / Comigo tudo está bem, graças a Deus e tenho certeza de que Ele também está olhando por você, e que tudo está bem. / Peço a sua bênção e lhe desejo tudo de maravilhoso. / Um beijo de seu filho que muito lhe quer, Júlio Brasílio.”
3 - “Florianópolis-SC, (....) / Oi gente, espero que por aí tudo esteja bem, pois por aqui está tudo legal, somente um pouco de chuva. Estou em Florianópolis, mas (....) hoje, irei para o Rio Grande do Sul. / Mamãe, aqui está tudo bem. / Dê um abraço a todos e um beijo no papai, de seu filho Júlio.”
4 - “Hollywood, 22/08/1983. / O i para todos! Aqui estou nesta linda praia, nos arredores de Los Angeles. / Depois de todos esses anos, sinto pela primeira vez o calor e a delícia do mar, pois em San Francisco nunca se é possível, (....) / Tenho muitas lembranças de quando estive no Rio de Janeiro com o Jerominho, e com isso muitas saudades de todos vocês. / Sua bênção Pai, sua bênção, Mãe! / Beijos para todos! Júlio.”
5 - “Mãe, / É com grande fé que agradeço ao Nosso Senhor por tê-la comigo estes dias; também peço que Ele te acompanhe e proteja e que possa reservar-te muita saúde e paz de Espírito; foi maravilhoso senti-la novamente e saber que Mãe é a coisa pura para qualquer filho. / Deus nos abençoe. / Te amo mais e mais. / Cuida mais de você. / Viva mais a Vida, porque é ótimo viver! / Júlio. / San Francisco.”
A respeito deste último cartão, entregue, pessoalmente, à genitora, quando de sua visita ao filho, em San Francisco, depois de três anos de permanência dele naquela cidade (ele não pretendia voltar para o Brasil), explicou-nos D. Eva que ele, Júlio, disse, em voz alta, estas palavras, depois de dar uma flor a ela, D. Eva, e outra a sua irmã que, na época, ainda residia no Brasil:
“Obrigado, meu Deus, o senhor trouxe a minha Mãe até aqui!”
E, hoje, certa de que seu amado filho continua vivo, no Mundo Espiritual, integrando as hostes do bem, já com a sua pesada dívida cármica ressarcida, D. Eva, também trabalhando no socorro aos mais necessitados – físicos e moralmente –, em nome de Júlio Brasílio Moraes, estudando a abençoada Doutrina Espírita que tanto nos consola e esclarece, apenas se emociona quando relê no marcador de páginas, que foi distribuído por ocasião da Missa de 16 de janeiro de 1987:
“Nossa saudade embala o seu sono, filho querido!” – acrescentando:
– “Obrigado Chico Xavier, que Jesus te dê muita saúde para que possas continuar distribuindo consolo e esperança para os tristes deste mundo!
Que Deus te abençoe, Chico Xavier!”

CONTINUA AMANHÃ

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