sábado, 1 de outubro de 2011

SEXO E DESTINO = CHICO XAVIER E ANDRÉ LUIZ - PARTE 90

CONTINUAÇÃO

idade. Temperamento visceralmente diverso da irmãzinha, já entremostrava serenidade e lucidez nos pensamentos e nas palavras.
Quedara-me impressionado, ignorando como externar a alegria... Era ele mesmo!... Encantado, divisava novamente a chama daqueles olhos inesquecíveis, conquanto brilhasse num corpo de criança despreocupada...
Cláudio e Percília informaram-me que Nemésio fora conduzido ao plano espiritual, um ano antes, em seguida a escabrosos padecimentos. Contaram que verdadeiras maltas de obsessores
ameaçavam o apartamento de Botafogo, quando o pobre companheiro se achava prestes a partir. Percília, porém, acompanhara o movimento intercessório que se levantara em favor dele, no “Almas Irmãs”. Amigos devotados interpunham recursos, deprecando caridade e misericórdia, quando se soube que a Justiça, no Instituto, o considerava incurso em definitivo banimento. Antigos companheiros, em apelos calorosos, mencionavam os gestos de beneficência que praticara, ao tempo de Dona Beatriz, somados ao triênio de enfermidade e paralisia que suportara, resignado. Diante dos empenhos multiplicados, de que o próprio Irmão Régis partilhava, já que, seguindo a orientação administrativa de Félix, inclinava o poder à benevolência, os magistrados permitiram a reabertura do processo para debates amplos. Reposto o assunto em exame, a Casa da Providência enviara dois notários a Botafogo, para instruir com segurança as petições que se adensavam; todavia, os serventuários tinham chegado exatamente na ocasião em que Nemésio, parcialmente desencarnado, enlouquecera ao descobrir, em derredor do refúgio doméstico, a presença das companhias infelizes que irrefletidamente cultivara. Verificando-se o inesperado, os juizes, por espírito de eqüidade, recomendaram se lhe conservasse a demência por benefício, no que, aliás, tinham sido referendados pelo Irmão Régis, porquanto essa era a única fórmula pela qual se lhe podia dar uma guarda conveniente, de modo a subtraí-lo à sanha de malfeitores desencarnados, que (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 352) anelavam possuir-lhe o concurso em vilezas, tão logo alijasse o corpo destrambelhado. Em vista dessa bênção, obtivera a internação num manicômio respeitável, mantido pelo “Almas Irmãs” em região purgatorial de trabalho restaurativo, onde continuava em tratamento vagaroso, incapaz de assumir compromissos novos com as Inteligências das trevas.
Quanto a Márcia, andava doente, mas arredia. Nunca mais retornara ao convívio familiar, não obstante o interesse incansável de Gilberto e Marina para reaver-lhe a confiança. Dizia detestar parentes. Apesar de enferma, bebia e jogava com desatino. Cláudio acentuava, porém, que os filhos espreitavam ensejo, a fim de apresentar-lhe os netos. E Percília aditava que eu chegara justamente na véspera de tentativa promissora. Naquele sábado, pela manhã, o casal se inteirava de que ela freqüentava diariamente a praia de Copacabana, descansando na areia a fim de inalar os ares puros do mar alto, a conselho médico. No dia imediato, domingo, Gilberto e a companheira contavam com tempo bastante para nova investida à conquista da suspirada reconciliação. Estava convidado a cooperar. Descansasse ali, junto deles. Aguardasse.
Entretivemo-nos largo tempo, em torno das maravilhas da vida.
Percília comparou a experiência terrestre a um tapete precioso, de que o Espírito reencarnado, tecelão do próprio destino, somente conhece o lado avesso.
Noite avançada, apareceu Moreira, acrescentando-nos a cordialidade reconfortante.
Recolhido, por fim, ao repouso, aspirei a aproximar-me de Sérgio Cláudio, para auscultar-lhe a posição espiritual naquela fase da infância, mas sufoquei o impulso. Prometera, de minha parte, no “Almas Irmãs”, nada praticar, em nome do amor, que lhe arriscasse o desenvolvimento tranqüilo.
Vali-me dos momentos de calmaria para estudar, refletir, recordar... (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 353)
Manhãzinha, achávamo-nos a postos.
Marina, madrugadora, movimentou-se às seis e, às oito horas, sob os desvelos de Dona Justa, a família se reunia à mesa, em ligeiro repasto, prelibando os divertimentos da praia. Marita queria o maiô verde e a lata de bolo. Sérgio Cláudio preferia sorvete.
Antes da saída, a esposa de Gilberto, revelando admirável madureza, pensou na missão que demandavam, lembrou-se de Cláudio, sentindo-se espiritualmente assistida por ele, e pediu aos dois garotos orassem juntos.
O pequeno empertigou-se no meio da sala e recitou a prece dominical, seguido pela irmãzinha que, embora mais taluda, gaguejava numa ou noutra expressão.
Em seguida, Marina solicitou ao pequerrucho: – Meu filho, recorde em voz alta a oração que ensinei a você ontem... – Esqueci, mãezinha... – Comecemos outra vez.
E, erguendo a fronte para o Alto, na atitude reverente que lhe conhecíamos, o menino repetiu, uma a uma, as palavras que ouvia dos lábios maternos: – Amado Jesus... nós pedimos ao senhor trazer vovozinha... para morar... conosco... A pequena caravana, acompanhada por nós, desceu do ônibus nas adjacências da praia. Nove da manhã. Sol esplêndido. Éramos quatro companheiros desencarnados, junto aos quatro.
Para que Dona Márcia não lhes prejulgasse as intenções, Gilberto e Marina resolveram mergulhar, imitando as crianças. Em torno, milhares de banhistas que compartilhavam, risonhos, a festa permanente da Natureza. O bancário e a mulher, a se entreolharem, de maneira significativa, vasculhavam recantos, aqui e (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 354) acolá... Pesquisaram, até que enxergaram Dona Márcia, em maiô, estirada sob tenda acolhedora. Parecia cansada, triste, conquanto sorrisse para o bando álacre das amigas.
Cláudio, emocionado, ponderou que dispúnhamos da possibilidade de envolvê-la em reminiscências edificantes.
Acercamo-nos dela, enquanto Gilberto e Marina, com os rebentos, se aproximavam, guardando aparente despreocupação.
Sob nossa influência, a viúva Nogueira começou, inexplicavelmente para ela, a pensar na filha... Marina! Onde estaria Marina? Que saudades! Como lhe doía agora a separação!... Como lhe tinha sido espinhoso o caminho!... Rememorava o lar, de ânimo opresso, revia o princípio... Cláudio, Aracélia, as filhas e Nemésio rearticulavam-se-lhe na imaginação, reintegrando quadros de amor e dor que jamais pudera esquecer!... Tanta amargura seria a vida? E indagava-se, de alma inquieta, se teria valido a pena existir para alcançar a velhice em tamanha solidão... Nisso, percebe que a turma se avizinha, ergue-se, assustada, e reconhece o grupo, observando-se apanhada de surpresa. Atônita, fixou Marina, Gilberto e Marita, de relance; entretanto, ao esbarrar com os olhos de Sérgio Cláudio, quedou enlevada!... “Oh! Deus, que estranha e linda criança!...” – monologou no íntimo.
O menino largou, apressado, a destra materna, após lhe haver Marina cochichado algo aos ouvidos, e atirou-se a ela, gritando, comovedoramente: – Ah! vovó! Vovozinha!... Vovozinha!... Márcia estendeu maquinalmente os braços para acolher aqueles braços diminutos que a enlaçavam... O minúsculo coração, que passou a bater de encontro ao dela, figurou-se-lhe um pássaro de luz que descia dos céus a pousar-lhe no tórax abatido. Fez menção de oscular o pequenino, mas recônditas impressões de felicidade e de angústia lhe infundiam sensações de amor e medo. Por que lhe

CONTINUA AMANHÃ

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