quinta-feira, 6 de outubro de 2011

CARTAS DE UMA MORTA - CHICO XAVIER - PARTE 2

CONTINUAÇÃO

AH! EU MORRERA
Maria João de Deus

Descerrou-se, finalmente, o derradeiro véu que obumbrava o meu ser pensante... Senti-me sã, ativa, ágil, como se despertasse naquele instante... Ah! Eu morrera...
E a morte representava um grande bem, porque eu me sentia outra, trazendo as faculdades integrais, plena de favoráveis disposições para as lutas da vida. Todavia tinha a impressão de estar só, já que ninguém respondia às minhas argüições, embora percebesse que a minha voz nada perdera de seu vigor e tonalidade.
Propositalmente procurava fazer-me vista por todos, mas uma impossibilidade perturbadora correspondia aos meus pensamentos. Refugiei-me, então, nas mais sinceras e fervorosas preces. Foi quando comecei a divisar vultos sutis e ouvir vozes acariciadoras, das quais fugia amedrontada e receosa, na ilusão pueril de que me achava com o corpo físico, trânsita de medo e suscetibilidades...
Livro Cartas de uma Morta - Psicografia Chico Xavier

O PRIMEIRO DIA DA ERRATICIDADE
Maria João de Deus

Chegara o dia 2 de Novembro de 1915 e mais de mês já havia transcorrido sobre a data de minha
desencarnação.
Nesse dia, sob o império de grande dissabor, que me advinha daquela incompreensão, dirigi-me tristemente à Igreja para orar, aproveitando a quietude de sua soledade, Lá penetrando, porém, compreendi que não me achava só, pois percebia que outras almas, talvez padecendo a mesma dor que eu experimentava, conservavam-se estáticas ao pé dos altares, onde foram buscar um pouco de consolo e de esclarecimento.
Todavia, assim que me entreguei aos arrebatamentos da prece, senti uma intraduzível vibração percorrer todas as fibras do meu ser, como se fosse sofrer um vágado, afigurando-se-me invadida pela influência do sono; mas durou poucos instantes, semelhante estado.
Livro Cartas de uma Morta - Psicografia Chico Xavier

AMARGURA E ALEGRIA, SAUDADE E JÚBILO
Maria João de Deus

Despertei novamente e vi-me ao lado de uma legião de seres, que se achavam genuflexos como eu. Já outro, porém, era o templo no qual me encontrava. Havia um recinto amplo e majestoso, construído à base de elementos que não é possível qualificar, por falta de termos equivalentes no vocabulário humano. Nesse magnificente interior não existia determinado santuário para orações, mas, sim, obras de arte sublime, destacando-se uma tribuna formada de matéria luminosa, como se fosse feita de névoa esvaecentes. Ouvia-se, provinda de um coro dulcíssimo de vozes meigas e cristalinas, uma prece ao Criador, repleta de harmonias e de excelsitudes. E aquele cântico melodioso era mais um ciclo de asas ou murmúrio de favônios unindo as pétalas das flores.
Aí, mais do que nunca, relembrei dos afetos que me ligavam ao lar; e um incoercível receio inundou o meu espírito, amedrontado ante a perspectiva de separação eterna, porque, após as incertezas e as agonias da morte, eu sabia ter sido arrebatada para um local distante, a menos que estivesse possuída de extremas alucinações.
De onde provinham aquelas cadências harmoniosas de cavatina celeste, que me faziam vibrar de emotividade até às lágrimas?
Então, toda minh’alma chorava de amargura e alegria; havia em meu coração um misto de
saudade e júbilo inexprimíveis.
Livro Cartas de uma Morta - Psicografia Chico Xavier

A IRMANDADE UNIVERSAL DA DIVINA CAUSA

Foi quando se desenhou, na tribuna de neve translúcida, majestosa figura de um parlamentário, parecendo-me que ali se materializara, por um processo misterioso e em forma humana, o anjo celeste, no qual se destacavam todas as perfeições.
Irradiava do seu olhar benigno e fulgurante uma onda de indescritível ternura, que transbordava
na sua voz, saturada de suavidade e doçura: - “Irmãos – começou ele – a nossa prece, o hino dos nossos corações, mistura-se a todas as harmonias do Infinito, elevando-se para Deus numa corrente de melodia e de aroma. O laço que neste momento une os nossos espíritos, misto de luzes da contextura estelar, igualmente prende todos os sistemas planetários do Ilimitado, que se irmanam no amor mais sublime à sua Divina Causa.
Vós, que aqui vos encontrais, vindos das remotas plagas das sombras terrenas! Possuídos de angústia e de esperança, que se refletem nas lágrimas dos vossos olhos, no íntimo ainda guardais acerbas recordações da existência no exílio, como os carvões que sobrevivem no coração da Terra longínqua sob os escombros das florestas incendiadas. Constituís, por isso, a multidão de almas errantes e sofredoras, perambulando em derredor dos objetos que formaram a paisagem das vossas miragens enganadoras, porque a única vida real é a vida do espírito de posse da sua liberdade preciosa”.
Livro Cartas de uma Morta - Psicografia Chico Xavier

CONTINUA AMANHÃ

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