sexta-feira, 30 de setembro de 2011

SEXO E DESTINO - CHICO XAVIER E ANDRÉ LUIZ - PARTE 89

CONTINUAÇÃO

CAPÍTULO 14

Obtendo a dilação de prazo para mais amplos estudos no “Almas Irmãs”, acompanhei o irmão Félix até que se retirasse da chefia para entregar-se à preparação das novas tarefas.
O instrutor escolhera a Casa da Providência para se despedir da comunidade.
Na data prefixada, desde cedo, as portas do edifício jaziam abertas para quantos quisessem dizer adeus ao querido orientador, que todos os residentes no Instituto consideravam herói. Ministros da cidade, admiradores situados em lugares vizinhos, comissões de vários órgãos de serviço, todas as autoridades da organização, amigos, discípulos, beneficiários e companheiros outros, que procediam de longe, ali se reuniam, irmanados numa só vibração de agradecimento e de amor.
Informara-se Régis de que o chefe estimaria rever os doentes nas últimas horas de ação administrativa, mas, convencido de que não conseguiria ele satisfazer a esse propósito, por escassez de tempo, recomendou-nos selecionar, nos setores de irmãos hospitalizados, aqueles que se evidenciassem capazes de comparecer à transmissão de poderes, sem dano para as atividades em pauta.
Alinhamos, para logo, duzentos que não criariam problemas e, aspirando a salientar a dedicação incessante de Félix para com os menos felizes, determinou Régis fossem acomodados na primeira fila do auditório, como homenagem silenciosa àquele que os amava tanto... Destacavam-se, quase todos eles enfraquecidos e trêmulos, simbolizando vanguarda de saudade e sofrimento na assembléia, portando ramalhetes nas mãos... Contemplava-os, enternecido, quando Félix chegou, por fim, denotando a firmeza e a serenidade que lhe marcavam as atitudes. Instalou-se, tranqüilo, entre o Ministro da Regeneração, que representava o Governador, (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 348) e o irmão Régis, que o substituiria; contudo, ao relancear os olhos pelos milhares de circunstantes que repletavam entradas, saídas, escadas e galerias, com os enfermos à frente, estampou no semblante abalo inexprimível.
Quinhentas vozes infantis, de antemão preparadas por irmãs reconhecidas, cantaram em coro dois hinos que nos arrebataram a culminâncias de sentimento, O primeiro deles se intitulava “Deus te abençoe”, executado por oferenda dos companheiros mais velhos, e o outro se subordinava à expressiva legenda “Volta breve, amado amigo!”, preito de reverência endereçado ao instrutor pelos mais jovens. Emudecidos os derradeiros acordes da orquestra, que imprimira ignota beleza às melodias, os duzentos enfermos desfilaram diante de Félix, em nome do “Almas Irmãs”, que delegava aos companheiros menos afortunados o júbilo de apertar-lhe as mãos, ofertando-lhe flores.
A transferência de autoridade foi simples, com a exposição e leitura respectiva de um termo referente à modificação. Cumprido o preceito, o Ministro da Regeneração abraçou, em nome do Governador, o irmão que partia e empossou Régis que ficava.
O novo diretor, com a voz de quem chorava por dentro, expressou-se, breve, suplicando ao Senhor abençoasse o companheiro de regresso à reencarnação, hipotecando-lhe, simultaneamente,
votos de triunfo nas lides que esposava. Confundido e humilde, acabou convidando Félix não só a usar da palavra, como também a prosseguir exercendo o comando daquela Casa, por direito que ele, Régis, julgava imprescritível.
Intensamente comovido, o interpelado levantou-se e, qual se nada mais tivesse a ditar àquela instituição que lhe recolhera mais de meio século de trabalho, alçou a fala em prece: – Senhor Jesus, que te poderia rogar, quando tudo me deste no carinho dos amigos que me cercam na luz do amor que não mereço? Entretanto, Mestre, em nos colocando sob tua bênção, (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 349) temos algo ainda a implorar-te, confiante!... Agora que novas realizações me chamam na Terra, auxilia-me, por piedade, para que eu seja digno do devotamento e da confiança desta casa, onde, por mais de meio século, recebi a magnanimidade e a tolerância de todos!... Diante da alternativa de tomar novo corpo, no plano físico, a fim de resgatar débitos contraídos e curar as velhas chagas interiores que carrego por doloroso rescaldo de minhas transgressões, induze, por misericórdia, os amigos que me escutam a me socorrerem com a benevolência de que sempre me cercaram, para que eu não resvale em novas quedas!... Senhor, abençoa-nos e sê glorificado para sempre!... Félix pronunciara as últimas palavras, sobrestando, dificilmente, a emotividade que o traía, mas, como se o firmamento lhe respondesse, de imediato, à apelação, amigos das esferas superiores ali presentes, conquanto se nos mantivessem inacessíveis ao olhar, valendo-se das forças espirituais de todo o auditório, positivamente orientadas numa só direção, materializaram farta chuva de pétalas luminosas, que desciam do teto a se desfazerem, tão logo nos tocavam a fronte, em vagas de perfume inesquecível.
A expectação prosseguia por instantes de jubiloso silêncio, quando um carro estacou, à porta do foro repleto, e, logo após, certa mulher penetrou o recinto, revestida de luz.
Num átimo, todos os circunstantes se levantaram, inclusive o Ministro da Regeneração, que a envolveu, para logo, num olhar de fundo respeito.
Hesitei um momento só. Reconheci-a, feliz. Era a Irmã Damiana, que integra em Nosso Lar o quadro de campeões da caridade, nas regiões das trevas, de quem conservava Félix o retrato e
a quem se ligava por entranhados laços de afeto... A benfeitora, que revelava imensa modéstia, trajara-se de esplendor – daquele esplendor que, decerto, tantos sacrifícios lhe custara –, tão-só para (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 350) mostrar o regozijo com que vinha receber e aprontar para novo renascimento aquele a quem amava por filho do coração!... ---------- Quatro anos passaram, celeremente. Esperança, esforço, trabalho, renovação... Embora nunca me esquecesse de Félix, vários instrutores nos haviam recomendado o afastamento temporário da nova incumbência de que se investia, para não sermos tentados a prejudicá-lo por excesso de mimos. No entanto, quando menos esperava, o irmão Régis enviou-me fraterna mensagem, avisando que cessara o impedimento. Félix vencera todas as lutas no ajustamento ao veículo físico. Alguns dias depois, Cláudio, Percília e Moreira, em serviço no Rio, convidaram-me, em memorando afetuoso, a rever o inolvidável amigo, que todo o “Almas Irmãs” até hoje cerca de infatigável carinho.
Revivendo comovedoras lembranças, tornei ao Flamengo; contudo, o tempo tudo alterara. Família diversa ocupava o apartamento que se me vinculava às recordações. Um amigo desencarnado, por solicitação de Moreira, que o cientificara de minha visita eventual, me forneceu, prestativo, o novo endereço, explicando que Gilberto e Marina se viram na contingência de vender a moradia, a fim de atenderem a questões de inventário, meses após
a desencarnação de Cláudio. A família morava agora em Botafogo, para onde me dirigi, ansiosamente.
Nenhuma frase terrestre para delinear a ventura do reencontro.
Cláudio e Percília estavam lá. Moreira, ausente em serviço, chegaria mais tarde. Enleado nas vibrações balsâmicas do acolhimento de meus anfitriões espirituais, revi o casal em palestra com Dona Justa, reavistei Marita, na forma de menina bonita e chorona... Profundamente sensibilizado, contemplei Félix, que passara a chamar-se Sérgio Cláudio, na rósea ternura dos quatro anos de

CONTINUA AMANHÃ

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