quarta-feira, 28 de setembro de 2011

SEXO E DESTINO - CHICO XAVIER E ANDRÉ LUIZ - PARTE 87

CONTINUAÇÃO

Postei-me de vigia, asserenando-a, enquanto Neves, desolado, recorria aos serviços de amparo urgente, ligados ao “Almas Irmãs”, em local não distante. O auxilio não tardou.
No dia seguinte, enfermeiras especializadas colaboraram conosco, por determinação de Félix; mas, somente depois de quatro dias sobre o incidente, logramos reentrar no instituto, reconduzindo-a, dementada.
Duas semanas de trabalho vigoroso e atenção constante se esvaíram, infrutiferamente, no lar de Félix, até que um dos orientadores da equipe médica recomendou a internação da enferma em
hospital adequado, a fim de que se lhe aplicasse a sonoterapia, com algum exercício de narcoanálise, para que se lhe exumassem as recordações possíveis da existência anterior, com a cautela devida, de modo a que se não precipitasse em mergulhos de memória, alusivos a períodos precedentes. O parecer foi acatado.
Félix convidou-nos, a Neves e a mim, comparecer, junto dele e do irmão Régis, no gabinete em que se efetuaria a pesquisa.
No momento indicado, ao pé de Beatriz, que dormia num leito, cujo travesseiro se achava munido de recursos eletromagnéticos especiais, permanecíamos, Félix, o irmão Régis, o distinguido psiquiatra que aventara a medida, acompanhado de dois assistentes, o chefe de arquivo do “Almas Irmãs”, Neves e eu, ao todo, oito companheiros observando a paciente, sendo forçoso explicar que as autoridades ali reunidas dispunham de aperfeiçoado sistema de comunicação, para consulta rápida às repartições a que se mantinham vinculadas. Félix circunspecto, Neves sob nervosismo, os médicos diligentes e nós outros em expectação...
(Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 338).
Iniciada a experiência, Beatriz, denotando voz e maneiras diversas das que lhe eram habituais, revelou-se num ponto indeterminado de existência anterior, reclamando contra uma certa Brites Castanheira, mulher à qual imputava os infortúnios que lhe devastavam a alma... Pelas considerações amargas, via-se que o analista esbarrara com expressivo foco de exacerbação, facultando-lhe fácil penetração nos domínios recônditos da mente. Prevalecendose disso, o médico indagou onde conhecera Brites, em que época e em que circunstâncias. Beatriz, sempre em sono provocado, replicou que para isso precisaria lembrar a juventude e, devidamente estimulada, elucidou que nascera no Rio, em 1792, e se chamava Leonor da Fonseca Teles, nome que lhe adviera do homem com quem se consorciara em segundas núpcias. Informou haver nascido na rua de Matacavalos, numa casa singela em que vivera descuidosa meninice. Em 1810, porém, modificara-se-lhe o destino.
Desposara um rapaz português, de nome Domingos de Aguiar e Silva, que se demorava no Brasil, em serviço do Duque de Cadaval, na Corte de D. João VI. Dessa união tivera um filhinho, que recebera o nome de Álvaro, em 1812. O marido, no entanto, falecera prematuramente no Caminho do Boqueirão da Glória, quando se responsabilizava pela condução de alguns potros bravos, adquiridos para as cocheiras reais. Referiu-se com gratidão às manifestações de estima com que se vira brindada por personalidades influentes da época e às promessas articuladas em favor do pequenino que ficara órfão. Viúva aos vinte e dois de idade, foi requestada por rico ourives, que montara estabelecimento na rua Direita, Justiniano da Fonseca Teles, moço mais velho que ela apenas três anos, cuja proposta de casamento aceitou. Alegrara-se por verificar enteado e padrasto em abençoada camaradagem.
Álvaro cresceu afetuoso e inteligente e, como não possuía rebentos do segundo matrimônio, a criança se levantara entre ela e o esposo por laço de luz e amor. Ainda assim, aos quinze de idade, em 1827, o menino embarcara no rumo da Europa, sob o patrocínio (Francisco
Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 339) de fidalgos amigos do pai, tendo realizado estudos brilhantes em Lisboa e Paris...
A magnetizada narrava sucessos da época, exteriorizando impressões, acerca de pessoas, coisas, realizações e ocorrências, qual se trouxesse a imaginação recheada de crônicas vivas. Confidenciou que o filho regressara em 1834. Para ela e Justiniano, a casa transformara-se, de novo, num mar de rosas, até que certa noite... Diante das reticências, o irmão Félix, visivelmente comovido, solicitou que o serviço de análise se detivesse nas possíveis recordações da noite mencionada.
O orientador da pesquisa atendeu.
Beatriz franziu a testa, patenteando o sofrimento de quem esbarrava com uma ferida no próprio corpo, sem meios de extirpála, e respondeu, descontente: – Devo explicar que Brites era casada com Teodoro Castanheira, rico negociante que morava na rua da Valinha. Ambos moços, com uma filha única, Virgínia, pequenota de onze anos... Embora eu tivesse ultrapassado os quarenta, junto de Brites que ainda não alcançara os trinta, queríamo-nos intensamente, enquanto que nossos maridos nos copiavam a afeição, com a mesma diferença de idade... Eles unidos pelos negócios e nós pelos sonhos caseiros... E continuou: – Na noite que comecei a mencionar, meu esposo e eu apresentávamos Álvaro à sociedade, num sarau do Comendador João Batista Moreira, na Pedreira da Glória... Senti horríveis pressentimentos quando Álvaro e Brites se cumprimentaram, parando extáticos, de olhos um no outro, para ouvir as sonatinas... Debalde inventei motivos para retirar-nos cedo... Voltamos tarde com o rapaz, devaneando. Supunha impossível que ela fosse casada e mãe de uma filha... Parecera-lhe simples menina de salão na graça

CONTINUA AMANHÃ

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