domingo, 25 de setembro de 2011

SEXO E DESTINO - CHICO XAVIER E ANDRÉ LUIZ - PARTE 84

CONTINUAÇÃO

CAPÍTULO 13

Recolhido à organização assistencial vinculada aos nossos serviços, nas adjacências do Rio, Nogueira desencarnado refaziase.
Félix, que não sossegou enquanto não lhe admitiu o reequilíbrio perfeito, no-lo entregou aos cuidados, sem retornar a vê-lo.
Desperto agora, Cláudio nos recebia as manifestações de amizade e apreço, vexado, confundido. Momento a momento, acusava-se, denotando excessivo apego a complexos de culpa.
Empregamos todos os meios justos para dissuadi-lo.
Aproveitássemos os erros por lições, anotando-os nos cadernos do passado, para a consulta no ensejo próprio. Árvores alijam folhas mortas, não obstante lhes sirvam de adubo às raízes. As Leis Divinas preceituam esquecimento do mal a fim de que o bem se nos incorpore à individualidade, gerando automatismos de elevação. Também nós atravessáramos crises semelhantes; contudo, acabáramos descobrindo no serviço o remédio para as enfermidades do sentimento. Somos todos obrigados a prevenir-nos contra a agitação constante de sedimentos dos vícios e transgressões do pretérito, no vaso da alma, sob pena de frustrarmos as possibilidades do presente para melhorar o futuro, conquanto a vida nos recomende jamais esquecer a nossa pouquidade, visto que, consciências endividadas que ainda somos, por muito tempo ainda, aonde formos, estaremos carregando no espírito o bagaço de velhas imperfeições. Cultivasse paciência, que ninguém logra aperfeiçoar-se sem paciência, até mesmo consigo próprio. Contava com amigos no “Almas Irmãs”, de onde havia descido às lides da reencarnação. Andava transitoriamente esquecido, sob o efeito natural das experiências a que se condicionara no plano físico; entretanto, oportunamente recuperaria mais amplos potenciais da (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 326) memória, rejubilando-se com reencontros abençoados. Referimonos ao irmão Félix, que mostrava para com ele devotamento particular, se nos fosse facultado descortinar inclinações especiais naquele Espírito aberto a todos os apelos da fraternidade sublime.
O companheiro reconfortava-se, esperançado.
No quarto dia, após o transe, comoveu-nos com um pedido.
Reconhecia-se amparado por muitos benfeitores, porque, somente à custa de muitos favores – opinava humilde –, pudera acordar, antes da morte, para as realidades da alma... Envergonhava-se, porém, de procurar-lhes imediatamente o convívio, que aspirava a merecer, no porvir. Se a Divina Providência, por amigos tão dedicados, lhe pudesse conceder novas esmolas, a ele que se categorizava por mendigo de luz, anelava permissão para continuar trabalhando, mesmo desencarnado, no seio da família, sem ausentar-se do Rio. Amava os filhos, considerava-os ainda moços e inexperientes, ambicionava converter-se para eles num servidor. Mas não era só... Duas criaturas deixara, junto das quais se reconhecia devedor, Nemésio e Márcia. Não pretendia largar a oficina terrestre na condição de insolvente. Além de suspirar por se redimir, diante dos credores, sonhava auxiliá-los e amá-los. Não lhe competia devotar-se ao bem dos outros e, sobretudo, à felicidade daqueles dois associados do destino, praticando os ensinamentos espíritas-cristãos que teoricamente havia aprendido? Decerto, por discrição e respeito, na consideração íntima do passado, não fez referências a Marita, cuja imagem se lhe retratava no espelho da mente... Acrescentou Nogueira que, se atendido, obedeceria lealmente
aos programas de ação que lhe fossem traçados, não cobiçava outra coisa senão instruir-se, melhorar-se, compreender e ser útil... A petição enternecia-nos; entretanto, não detínhamos competência para decidir. (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 327)
Autoridades do estabelecimento que nos albergava acolheram o assunto com simpatia e ofereceram medida básica à solução do impasse. Desde que se munisse de aprovação, Nogueira residiria ali mesmo, apesar de se manter em atividade na proteção aos parentes.
Agradecemos, felizes, e quase que na mesma hora Percília partiu, com atribuições de mensageira. Advogaria a causa no “Almas Irmãs”, convicta de que Félix lhe emprestaria prestígio e patrocínio.
Com efeito, no dia imediato, regressou com o requerimento referendado.
Permitia-se a Cláudio o período de dez anos de serviço ao pé dos familiares, antes de se elevar aos círculos imediatos da Espiritualidade para julgamento da existência transcorrida, reservandose à Casa da Providência o direito de corrigir a concessão, fosse dilatando o tempo, se o interessado demonstrasse aplicação ao cumprimento das promessas que formulava, ou cassando a licença, na hipótese de se revelar indigno dela.
O requerente, satisfeito, exultou. Estimulado pelo apoio que recebia, rogou colaboração para voltar ao Flamengo. Sentia-se fraco, vacilante. Pássaro implume, ansiando despencar-se do ninho... Mesmo assim, queria sair de si mesmo, trabalhar, trabalhar... Ajustaram-se providências.
Moreira, que se mantinha com funções definidas ao lado de Marina, auxiliá-lo-ia.
Admirei sem palavras o mecanismo de amor da Bondade Divina.
Aquele que lhe fora assessor no desequilíbrio, ser-lhe-ia, e muito compreensivelmente, o arrimo nas tarefas do reajuste. (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 328)
Seis dias sobre o acidente que levara Nogueira à desencarnação.
Amanhecia, quando pisamos nas areias do Flamengo, reconduzindo-o ao lar.
Certificamo-nos de que o amigo se reiniciava confiante. De propósito, atravessamos com ele a pista de asfalto, no sítio em que tombara; no entanto, não fez o mínimo apontamento, com relação ao desastre. Apoiando-se em Percília, junto de mim, penetrou em casa, acolhido por Moreira que nos precedera, cauteloso. Demandou o aposento em que se instalara, observando que os filhos conservavam-no intacto. Sentou-se no leito a refletir.
O despertador anunciou as seis horas, quando Marina se ergueu.
Isolou-se no banheiro por instantes, preparou-se e, antes de se entender com Dona Justa, sobre o lanche matinal do marido, penetrou no recinto em que nos achávamos e, em pensamento, dirigiu-se a Jesus, rogando-lhe abençoasse o genitor desencarnado, onde estivesse. Enlevados, ouvimo-la, palavra a palavra, no clima dos pensamentos harmônicos em que nos entrelaçávamos, conquanto a jovem senhora exorasse o amparo do Senhor em silêncio.
Levantou-se Cláudio, abeirou-se dela. Ao tocá-la, fremente de júbilo, percebeu que a filha trazia no corpo e na alma a doce presença de Marita nascitura... Deu um passo à retaguarda, parecendo-nos receoso. Temia conspurcar a excelsitude do quadro sublime que o defrontava. Figurou-se-lhe Marina uma planta luminosa, modelada na carne, encerrando uma flor quase a desabrochar.
A idéia de Cláudio relampeou na oração. Suplicava a Deus não lhe permitisse alçar caprichos acima de obrigações... Em seguida, reaproximou-se dela, abraçou-a brandamente e apelou: – Minha filha!... Minha filha!... que é feito de Nemésio? Procuremos Nemésio! É preciso ampará-lo!... Ampará-lo!...

CONTINUA AMANHÃ

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