quinta-feira, 22 de setembro de 2011

SEXO E DESTINO - CHICO XAVIER E ANDRÉ LUIZ - PARTE 81

CONTINUAÇÃO

protegê-la, sem parecer ao genro que assim procedia defendendo-a do sogro.
O gerente, prestativo e humano, associou-se-lhe aos cuidados e sugeriu-lhe uma licença de seis meses. Nenhum impedimento para ele, antigo funcionário com excelente folha de serviço. Nessa fórmula, apoiaria a moça e resguardá-la-ia, desde a caixa do correio, impedindo que novas cartas lhe chegassem às mãos, até a assistência contínua em casa, hora a hora, para que se lhe garantisse a tranqüilidade na gravidez. Incumbir-se-ia de comunicar a Gilberto e colegas que ouvira de médicos amigos a recomendação de impor-lhe descanso indeterminado, e se entenderia, ele próprio, com os clínicos, que não lhe sonegariam a concessão. Que repousasse e atendesse a filha.
Cláudio agradeceu, confortado.
Vinda a noite, entrou em conversação com a filha, sossegando-a. Afirmou possuir razões para acreditar que Nemésio não mais a molestaria. Esclareceu ter estado na residência dos Torres;
contudo, não avançou além de semelhante informe, dando a impressão de que o problema fora liquidado na origem. E interessados quais se achavam em apagar o pretérito, pai e filha se entretiveram no assunto da licença. Marina rejubilava-se. Ambos se
devotariam a trabalhos diversos. Juntos, construiriam o berço do nenê. Dariam nova disposição ao apartamento. Diferentes decorações.
Cláudio fez humor. Salientou que Gilberto e ele se empenhavam em apostas. O genro aguardava um príncipe. Ele contava com uma princesa. De qualquer forma, era preciso organizar o palácio. Dizia-lhe o coração que a neta se achava em caminho...
Por isso, concordava em renovar os móveis e pintar as paredes, mas exigia que todo o serviço fosse feito com predominância de rosa. Gracejaram. Aprovando os planos, Marina solicitou-lhe o concurso na organização de um álbum que andava formando para (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 313) o bebê, enquanto esperavam por Gilberto, que prosseguia estudando à noite, com vistas à melhoria.
Demandando, por fim, o leito, Cláudio sensibilizava-nos com oportunas reflexões, permeadas de preces ardentes. Previa, inquieto,
que doravante seria compelido a novos encargos. Acautelaria Marina e, conseqüentemente, Marita, de cuja reencarnação guardava a certeza. A carta de Nemésio, ressumando inconformidade, e a rudeza com que lhe havia cerrado a porta, não lhe conferiam margem a dúvidas. Teria conflitos e injúrias à frente; no entanto, nada razoável desanimar. Orava, implorando recursos aos Espíritos amigos. Que o não deixassem confiado a si mesmo, que lhe impedissem as manifestações de fraqueza, que lhe frustrassem qualquer propósito de revide. Identificava-se num teste. Indiscutivelmente prejudicara Nemésio Torres em outras existências.
Devia pagar. Somente ao clarão da lógica espírita destrinçava a meada dolorosa. Aquele homem castigara-o na alma e na carne, transformara-se para ele em cobrador do destino. A consciência determinava-lhe aceitar os desafios com humildade. Se bem não se sentisse em condições de se acomodar com a virtude, anelava solver os débitos contraídos, ainda que isso lhe custasse a existência.
Por essa razão, suplicava o apoio do Cristo, a fim de esquecer-se, de maneira a seguir caminho afora, segundo as Leis Divinas...
Efetivamente, conhecendo o horário aproximado de recepção do Correio, no prédio, Nogueira desceu, no dia seguinte, com a desculpa de obter pão mais fresco e recolheu nova carta de Nemésio, endereçada a Marina, cuja identidade estabeleceu para logo, através da letra. Abriu-a. Era coleção de recados, sabendo a fel.
Misturava declarações e libelos, alegava dificuldades, crises.
Dizia precisar dela para recompor as finanças. Restaurar-se-ia em reduzido tempo, se o atendesse. Não obstante os prejuízos que (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 314) experimentara, ainda era suficientemente abastado para fazê-la
feliz. Reclamava resposta. Ameaçava. Nogueira, reservado, queimou o papel. A ocorrência, no entanto, se repetiu diariamente, por dois meses.
Minuciosa ou sintética, a missiva chegava, pontualmente. Cada texto mais inconveniente que o outro. Por vezes, relatava as andanças a que se entregava no Flamengo, tentando revê-la. Noutras ocasiões, depois de frases melífluas, exigia pronunciamentos descabidos, sob pena de estourar o crânio, deixando queixa à Polícia contra ela, com o fim de arruiná-la. Em bilhetes comprometedores, proibia-lhe dar filhos a Gilberto. Preferia matá-la ou matar-se a receber netos do lar que haviam formado. Referia-se ao revólver, qual se lhe fosse companheiro incessante.
Dia a dia, o negociante se figurava ao leitor paciente mais contraditório e menos lúcido. Cada vez que entregava os manuscritos ao fogo, Cláudio percebia que o redator de tantos aleives se atascava, sempre mais, em loucura e obsessão, sem que lhe fosse facultado assumir qualquer providência, entre o genro feliz e a filha gestante. Cumpria-lhe tudo amargar, sem dividir com pessoa alguma a dor que o espicaçava. E para que a filha não pudesse penetrar os motivos de tamanha solicitude, ele se lhe convertera no pajem de todo instante.
No encontro último de consultório, indicara o médico ligeiros exercícios físicos. Nenhuma ginástica. Algo suave. Bastariam marchas diminutas a pé. Realizasse à noitinha curto passeio até à praia, em esforço diário, enquanto lhe fosse possível. Nada mais que isso. A gestante obedeceu e, como era de esperar, Nogueira se lhe erigiu em guarda-costas, sustentando o coração repassado de inquietude. Não se lhe oferecia ensejo de opor embargos à prescrição.
Para a filha, aquela primeira manifestação de Nemésio, pelo serviço postal, fora varrida do pensamento. (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 315)
Marina, enlaçada ao pai, largava o prédio, efetuando breve percurso, para sentar-se, junto dele, nunca por mais de meia hora, ao pé do mar. Aí se entretinham habitualmente nos temas caseiros, quando não se internavam em assuntos do espírito.
Escorridos seis dias sobre as excursões aconselhadas, o registro de Torres pai veio diferente.
Acompanhando Nogueira, analisamos a alteração. A letra modificada, configurando insultos, revelava superexcitação fronteira à demência. Comunicava à esposa de Gilberto tê-la visto, por fim, na praia, em companhia daquele pai, que crivava de pejorativos e ofensas, e verificara que ela, afinal, se engravidara contra as ordens que lhe ditara em observações anteriores. Acreditava-se o mais desmoralizado de todos os homens desmoralizados. Enojava-se da paixão que nutrira por ela, preferia morrer. Confessavase falido. Escasseava-lhe tudo. Acabara-se o dinheiro, desertavam amigos. Restava-lhe de seu, tão-só, a moradia, assim mesmo hipotecada. Esperara por ela, pelas decisões dela. Se juntos, contaria com a possibilidade de se reerguer. Entretanto, a gravidez apontada desiludira-o. Plantaria uma bala na cabeça. Despedia-se dela e do mundo com repugnância. Que visse nos borrões freqüentes daquelas páginas com que encerrava a existência as marcas das lágrimas que chorava. Lágrimas de revolta, desprezo, repulsão. Finalizava, alinhando obscenidades e informando estar assinando o nome pela última vez.
Nogueira, assustado, leu e releu o documento e, antes de reduzi-lo a cinzas, insulou-se no quarto e orou por aquele homem que, pelo jeito, se afundava em pavoroso desespero. Compadeceuse.
Impraticável, todavia, colocar o genro ao corrente da situação.
Nemésio delirava. Mais justo que o filho aguardasse noticias do tresloucado genitor por outras fontes. Impressionou-se, contudo, de tal forma com a mensagem recolhida que, após o almoço, demandou, com discrição, algumas das organizações policiais

CONTINUA AMANHÃ

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