segunda-feira, 19 de setembro de 2011

SEXO E DESTINO - CHICO XAVIER E ANDRÉ LUIZ - PARTE 78

CONTINUAÇÃO

moço no serviço, acrescentando que lhe faria os possíveis vencimentos até que lhe vissem a situação devidamente legalizada.
Na reta final para o casamento, Gilberto conseguiu empregarse, estimado de todos.
Nemésio, contudo, acabrunhado e desgostoso, convidou Márcia para uma excursão de seis meses em países da Europa. Atravessariam Portugal e Espanha, França e Itália, com alguma demora na Suíça. Declarava-se infelicitado pelo destino, desde a morte de Beatriz. Caipora. Malogrado. Anelava mudança, refazimento.
A senhora Nogueira, que cortara os telefonemas para a família, desde Petrópolis, deu-se pressa em comunicar o acontecimento à filha, através de um cartão. Confessava-se esperançosa, encantada.
Seguiria juntamente daquele a quem não trepidava em designar por “futuro esposo” e prometia enviar notícias de cada cidade que visitassem.
Marina recolheu a mensagem com discrição, sem que o pai e o noivo soubessem de semelhantes férias, a não ser indiretamente pela boca de amigos.
A ausência do par traçou, para o trio, bendito parêntese, recheado de alegria e sossego, de ponta a ponta.
O apartamento do Flamengo convertera-se em colméia de paz e luz. E enquanto Moreira resguardava Marina com fidelidade incondicional, retomei estudos e experiências, junto de Félix, embora acompanhando com afetuoso interesse os amigos do Rio, a se prepararem, contentes, para o enlace feliz.
A união esponsalícia de Gilberto e Marina realizou-se precisamente no último dia do ano que se seguiu à desencarnação de Marita. Solenidade marcada por flores e orações, abraços e promessas.
A ventura do novo casal atingiu-nos, igualmente, no “Almas Irmãs”, onde pequena equipe de companheiros se reuniu em prece (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 303) pela segurança dos nubentes que se entregavam a novas responsabilidades e novas lutas.
Destaquei, no entanto, com desagrado, a ausência da filha de Aracélia. A própria Beatriz compartilhara os júbilos votivos, conquanto desconhecesse completamente o que sucedia, comreferência ao esposo.
Félix, porém, ao registrar-me a estranheza, quanto àquilo que eu imaginava como sendo preterição, elucidou que a menina, prestes a regressar para as lides terrenas, demandava cautelas especiais. E prosseguiu aclarando que obtivera permissão para que o processo regenerador do conjunto Nogueira-Torres fosse remodelado. Marita não lograra desposar Gilberto, por influência da irmã; contudo, voltaria a viver entre os dois, na condição de filha, para que a fração de tempo, concedida ao grupo para a existência em comum, no plano físico, viesse a ser aproveitada nos recursos possíveis, sempre valiosos, por mínimos que fossem.
Indiscutivelmente, não se tratava de reencarnação organizada a rigor e nem compulsória, por motivos judiciais. Medida, entretanto, de caráter premente que ela seria impelida a aceitar, em favor de si mesma. Para esse fim, ela reveria o Rio, oportunamente, junto de nós, pela primeira vez, depois de quase onze meses de internação em parque de repouso, onde vivera apenas de saudade e recordação, para efeito indutivo. Abraçaria tão-só os que quisesse, atenderia exclusivamente a própria vontade, para que se lhe avantajasse o impulso de voltar. Compreendendo-se que Gilberto lhe constituiria o tema central das compensações emotivas, sublinhava Félix que todos os nossos cuidados, na ocasião, se concentrariam nele. Seria necessário que Marita o surpreendesse a sós, ignorando-lhe o matrimônio, porquanto os ressentimentos hauridos da convivência com a irmã ainda lhe doíam na memória, quais chagas entreabertas. E, entendendo-se que ambas se reencontrariam, mais tarde, por mãe e filha, em conflito vibratório, (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 304) visando ao expurgo dos erros e aversões recíprocas que carregavam de remoto passado, era de todo indispensável que a reencarnante dormisse para o renascimento físico, sob a impressão de euforia perfeita.
Aceitando a lógica das explicações, fui avisado, dias transcorridos sobre a conversa, quanto à data escolhida para a excursão.
No instante aprazado, participou-me Félix não só o envio de dois companheiros, incumbidos da preparação de ambiente junto ao filho de Beatriz, como também cientificou-me de que se valia do ensejo em andamento, por sabê-lo em estudos, à noite, na intimidade de vários colegas, numa residência da Glória, com vistas a concurso próximo para a efetivação no cargo que exercia no banco.
Efetivamente, partimos com Marita, calculando o tempo necessário para encontrá-lo fora de casa, prevendo-se o término das tarefas noturnas para depois de zero hora, segundo notificações recebidas.
Cumpriu-se o programa com diminutas diferenças de horário.
Estimulávamos os júbilos de Marita, que descia conosco sobre a Guanabara feérica. De longe, os contrastes de luz, entre o morro do Leme e o casario da Urca, mais além, a praia de Botafogo... Mais alguns instantes, a Avenida Beira Mar, diante de nós... Tocando o chão do Flamengo, a moça multiplicava interjeições de alegria, revendo a cidade que lhe senhoreava a ternura.
Parados, diante das águas remansosas, assimilando energias nutrientes da Natureza, fomos inteirados pelos batedores amigos de que Gilberto descera de carro particular em esquina adjacente.
Sem delonga, conduzimos a jovem ao ponto indicado, e, ao identificá-lo, embriagada de ventura, chamou, ansiosa: – Gilberto!... Gilberto!... (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 305)
O interpelado não lhe registrou a voz com os tímpanos carnais; no entanto, assinalou-lhe a presença em forma de lembrança.
Recordou, de inopino, aquela que ainda supunha como sendo pupila de Cláudio e tomou direção oposta à que seguiria, parando, além, a fim de refletir e contemplar a bala prateada de lua... Sim, ali, naquelas areias, jurara-lhe amor eterno, planeara o futuro... Meu Deus! – pensou – como a vida mudara!... Enlaçado pela jovem desencarnada, desentranhava-lhe a imagem do pensamento, enxugando os olhos... Félix, contudo, apartou-a brandamente e perguntou-lhe o que mais desejava. – Viver com ele e para ele!... A resposta alcançava-nos como um grito de esperança, rebuçado em soluços.
O instrutor, que não aguardava outra coisa, dirigindo-se a ela de modo paternal, ponderou a conveniência de tornarmos ao domicílio. Empenhar-se-ia por assegurar-lhe o regresso. Que se acalmasse. Retomaria a convivência e a dedicação de Gilberto.
Não aconselhava, porém, se lhe dilatasse o arrebatamento, nocivo a ambos, mesmo porque, muito em breve, estariam juntos.
A menina obedeceu, mas pousou sobre nós os olhos molhados, indagadores. Percebi-lhe no espírito os reflexos de Márcia e Marina; todavia, afastou-lhes a figura do pensamento e inquiriu se lhe era facultado rever Cláudio, acentuando que o pai lhe fora o derradeiro amigo, nas angústias do adeus... O orientador anuiu, contente.
Mais quinhentos metros de espaço e atingimos o apartamento, acolhidos à entrada por Moreira, vígil. O enfermeiro reconheceu Marita, sob emoção forte, mas eclipsou-se a um aceno de Félix, que desejava poupá-la a divagações.

CONTINUA AMANHÃ

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