terça-feira, 6 de setembro de 2011

SEXO E DESTINO - CHCICO XAVIER E ANDRÉ LUIZ - PARTE 65

CONTINUAÇÃO

Venho de Petrópolis, justamente para dizer a você que entre nós tudo está acabado... Agora, meu velho, faça a sua vida, que eu vou me arranjar... E continuou alegando que, depois de sofrer tantos anos, naquele apartamento que apelidava por “minha gaiola”, iria fazer ninho certo. Esperaria tão-somente as melhoras de Marina, a fim de promover o desquite. Se ele, Cláudio, não assinasse, que escolhesse rumo. Declarava-se farta. Queria liberdade, sossego, distância... Nogueira escutava, triste.
Repunha no pensamento as instruções de Agostinho e Salomão, lembrava Marita, reconstituía na memória os textos lidos.
Sim, concluía mentalmente, aquele matrimônio destruído era obra dele. Recolhia o que semeara. Uma filha morta, outra doente e a esposa obsessa... Seara de espinhos para quem os plantara.
Fitou Márcia, aplicada ao sarcasmo, e reconheceu que ambos eram comparáveis a dois náufragos na viagem do mundo, com a diferença de que ele aceitara refúgio no salva-vidas da fé, ao passo que ela preferia mergulhar no desconhecido. Por minutos amargos, ouviu-lhe, pacientemente, os remoques, até que o “homem antigo” ressurgiu nele.
Impossível agüentar tanto insulto – monologou de si para consigo. A doutrina restauradora que abraçara não se destinava a criar homens indignos. Doutrina de compreensão e benevolência, mas também de limpeza e respeitabilidade. Não se julgava habilitado a receber tanta injúria sem revolta. Indignou-se. Quis reagir, esbravejar, espancá-la... Entretanto, ao querer deslocar a destra, a fim de agredi-la, a noção de responsabilidade acordou-se-lhe, de repente... Recordou o hospital e reviu na imaginação a pequena mão gelada que o saudava, num gesto de perdão, no momento do adeus... Os dedos submissos e frios da filha desencarnada estavam nas mãos dele, relembrando-lhe que devia perdoar como tinha (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 256) sido perdoado... Súbita calma lhe tomou o coração e entrou em
lágrimas copiosas... Márcia divertiu-se. Destacou que não faria falta a um marido que se efeminara, tornando-se poltrão e choramingueiro. Afirmou que, mediante aquele espetáculo de covardia, estava decidida a não contar com Marina, refeita. Tomaria atitude. Nada mais tinha a ver com aquela casa. Chamou Dona Justa e avisou com o indicador em riste que mandaria buscar todos os seus pertences para serem alojados em casa de Selma, a companheira de infância que residia na Lapa. E, vociferando, colérica, estrondou a porta, atrás dos próprios passos, sem mais uma palavra para o esposo que permanecia na sala, esmagado de sofrimento.
Demorou-se Nogueira em casa, durante algumas horas, refazendo forças. À tarde, procurou Salomão, em Copacabana. Consolou-se ao vê-lo. Palestraram por momentos. Da própria farmácia, telefonou ao psiquiatra que a esposa nomeara.
O especialista ouviu, cortês. Sim, proporcionar-lhe-ia todas as facilidades para que se avistasse com a filha, no dia seguinte. Cláudio agradeceu e, encerrando a ligeira conversação pelo fio, rogou a Salomão um minuto de entendimento em particular.
Atendido, solicitou ao amigo para que o auxiliasse através da oração, em benefício da outra filha, que supunha obsidiada, relacionando-lhe o problema de modo sucinto.
Salomão confortou-o. Possuía companheiros diversos, dedicados à desobsessão. A todos solicitaria socorro, junto aos benfeitores que lhes supervisionavam as tarefas, no plano espiritual. A seu turno, consagrar-se-ia ao caso, imbuído da melhor confiança.
Notando que o pai de Marita entremostrava o coração atenazado de angústia no semblante abatido, convidou-o ao café e, sentados em recanto ameno, permutaram confidências, observações projetos, esperanças. Partilhariam atividades espirituais, seriam irmãos no trabalho, no ideal. (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 257).
Nogueira retornou, aliviado, ao Flamengo e, na manhã imediata, estava a postos, em Botafogo.
No horário marcado, ganhou o recinto a que Marina foi trazida.
Afligiu-se em lhe verificando a depressão. Emagrecera. Desfigurara-se. Por fora, o alheamento de si mesma; entretanto, através dos olhos, despedia a alma incendiada de angústia.
Comovi-me, não apenas ao abraçá-la, mas também ao notar Moreira rente, esmerando-se na execução do que prometera.
Enquanto o amigo que se guindara à condição de enfermeiro me acolhia, fraterno, a jovem enleara-se ao pai numa explosão de lágrimas. Sentaram-se.
A enfermeira deixou-os a sós e Marina perguntou pela mãezinha.
Por que não viera, por que a desprezava? por quê? por quê?
Empenhou-se Nogueira em acalmá-la e fê-lo de tal modo que a menina, espantada, cobrou mais ampla lucidez. O pai dirigia-se a ela num tom que nunca ouvira. Vasculhava-lhe as fibras mais
íntimas, lenindo, ajustando... Falou-lhe de forças imponderáveis à maioria das pessoas, reportou-se a Inteligências desencarnadas que se imanizam às criaturas em perturbação, agravando-lhes os desequilíbrios. Persuadiu-a quanto à obrigação de acatar as instruções médicas, participou-lhe que fora iniciado nos júbilos da prece, desde o acidente que lhes arrebatara Marita, de cuja desencarnação a inteirou com afetuosa cautela. Transmitir-lhe-ia oportunamente as instruções que recebera de amigos, acerca da reencarnação, do sofrimento reparador, da obsessão e do intercâmbio espiritual. Estudariam juntos e acrescentou, piedoso: “Mesmo que Márcia não quisesse”. Que ela, Marina, guardasse paciência, calma, inspirando confiança naqueles que a tratavam. Dissesse a ele, pai renovado pela fé, o que mais a preocupava. Achava-se ali (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 258) para alentá-la, entendê-la. Que se desabafasse, para que ele soubesse por onde começar. Nada lhe ocultasse, nada temesse. Queria vê-la robusta, feliz. Todas as palavras lhe escapavam da boca impregnadas de tanto carinho, e clareadas por tamanho amor, que ela se lhe aconchegou ao peito com mais devoção, lembrando alguém que se agarrasse a inesperada raiz ao escorregar na direção de queda fatal... Perguntou ao pai se ele algum dia chegara a ouvir vozes estranhas, se já divisara vultos que ninguém percebia.
Cláudio acariciou-a, assegurando que lhe explicaria semelhantes fenômenos tão logo a visse refeita, insistindo, porém, para que o auxiliasse com as informações de que carecia, a fim de prestar-lhe o apoio necessário.
Foi então que a filha, implorando a ele não a condenasse e estimulada, pelo sorriso bondoso com que era ouvida, descreveu para o genitor os caprichos femininos com que requestara Nemésio Torres. Ele, amadurecido, ela, quase criança; contudo, ensoberbecia-se ao reconhecê-lo chefe e vassalo. A princípio, os passeios alegres, o dinheiro a rodo, os afagos recíprocos, aos quais ela se entregava muito mais pela vaidade de impressioná-lo que por motivos de atração. Contou como Nemésio, cativo, deu para escravizá-la. Historiou a noite em que ele a embriagara de propósito, quando lhe despertou nos braços, dentro de uma casa rústica em São Conrado, que, até então, não conhecia... Desde essa época se lhe fizera companheira, entrando, a instâncias dele, para o
serviço de Dona Beatriz, para que a tivesse sempre a mão... Apaixonara-se por ela, repetia-lhe declarações, aspirava a desposá-la, assim que a viuvez sobreviesse naturalmente. Mas Gilberto aparecera e, por mais lutasse contra si própria, não conseguira controlar-se. Desde o primeiro encontro, adivinhou nele o homem com que sonhava... Pintando as emoções ao vivo, com todas as tintas de realismo que o delírio lhe punha nas palavras, confessou que o
provocara, afastando-o, deliberadamente, da irmã e, vingando-se de Nemésio, copiou-lhe a iniciativa... Numa noite de farra, impeliu-o

CONTINUA AMANHÃ

Nenhum comentário: