quarta-feira, 17 de agosto de 2011

SEXO E DESTINO - CHICO XAVIER E ANDRÉ LUIZ - PARTE 45


CONTINUAÇÃO

lação necessária, determinou as medidas inadiáveis. Que limpassem Marita, que se lhe purificasse o ambiente, que mesmo acreditada em coma fosse tratada com o máximo apreço.
Seja dito, no entanto, que não se registrara, ali, qualquer desleixo.
As condições precárias da moça exigiam repouso, quietação.
Justo observá-la, antes de qualquer alteração suscetível de agravar-lhe os constrangimentos.
Com efeito, iniciada a laboriosa remoção que Cláudio e Moreira seguiram, de longe, a cabeça, pendida para trás, impeliu o sangue a movimento retrógrado e surgiu a possibilidade de asfixia.
Félix controlou, quanto pôde, as mãos dos condutores, e, tão logo a vimos ajustada em novo leito, vali-me do socorro magnético de profundidade que as circunstâncias exigiam. Sentei-me, de maneira a guardar aquele corpo abatido em meus braços, envolvendo-o no meu próprio hálito, numa operação que nos permitiremosm nomear aqui por adição de força, cujos resultados se destacam surpreendentes, quando a criatura retida no envoltório físico se mostra nos últimos lances da resistência.
Nesse ínterim, Félix aconselhou que eu me adensasse na apresentação, a fim de que Moreira me enxergasse os exercícios.
Conservava a esperança de vê-lo oferecer-se para manter a respiração da moça em boa ordem.
Orei, empenhando-me na consecução do objetivo, e quando Nogueira e o acompanhante vararam a porta do quarto em que a administração nos localizara, o vampirizador deitou-me olhar espantadiço.
Cambalearam sensibilizados, aflitos...
Incoercível emoção me tomou a alma.
Cláudio abeirou-se, trêmulo, da filha e rompeu em soluços.
Tanto quanto me era dado perceber, aquela hora significava para ele doloroso balanço de consciência. (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 180)
Instintivamente, tornou à infância e à mocidade... Lembrou as leviandades primeiras. Irreflexões do passado corporificaram-selhe na memória. Enfileirou na imaginação os desvarios sexuais das trilhas percorridas. Cada jovem que iludira, cada mulher de cujas fraquezas abusara repontavam-lhe na tela mental, como que a lhe perguntarem pela filha que a vida lhe trouxera...
Aquele homem que me inspirava sentimentos contraditórios e de quem teria desejado distanciar-me, tocado de aversão, me insuflava agora um enternecimento que somente as lágrimas
exprimiam!...
Perante a enfermeira impressionada, Cláudio ajoelhou-se e, com ele, pôs-se Moreira genuflexo... Em choro convulso, o pai alisou aqueles cabelos despenteados, contemplou a fisionomia de cera que a morte parecia estar modelando, mirou a face e os lábios intumescidos por equimoses, aspirou o ar deteriorado que se lhe exalava dos pulmões e, mergulhando a cabeça nos lençóis, gritou, vencido:
– Ah! minha filha!... minha filha!...
Quase no mesmo instante, a fronte de Moreira vergou, como se esmagada de sofrimento... Ambos jaziam, ali, debruçados, rente aos meus joelhos, com a mesma rendição dentro da qual Marita se me conchegava ao regaço.
Reconheci que a Providência Divina, em seus desígnios, não me aproximava unicamente da vítima. Os verdugos também pediam amor. Segurando a moça inerme, à altura do peito, afaguei-os com a destra, sustentando-me em prece... E a prece clareava-me o pensamento, corrigindo-me a visão!... Sim, tentando consolar aqueles dois homens que o remorso dobrava em tormento indizível, refleti nos meus próprios erros e compreendi os propósitos da vida!... Não!... Eles não eram os estupradores, os obsessores, os inimigos, os carrascos que eu detestara na véspera!... Eles eram meus amigos, meus irmãos!...

CONTINUA AMANHÃ

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