domingo, 7 de agosto de 2011

SEXO E DESTINO - CHICO XAVIER E ANDRÉ LUIZ - PARTE 33


CONTINUAÇÃO

concordava em que madame Crescina levasse o bilhete, alcovitando a conferência afetiva.
Logicamente, acrescentou a mascarar-se de bom-humor, que os meninos teriam entrado em arrufo e aspiravam à reconciliação.
Sim, não iria pessoalmente criar qualquer obstáculo. Preferia aconselhar a filha, no dia seguinte.
Entretanto, aduziu após refletir um minuto em consonância com o amigo invisível, gratificá-la-ia por um obséquio, de vez que tendo paternal interesse em que se efetuasse o encontro dos jovens, aos quais se permitia chamar “quase noivos”, solicitava-lhe fosse o bilhete entregue somente às duas da tarde, horário em que Gilberto estaria no escritório com toda a certeza.
Dona Crescina prometeu satisfazê-lo, recolhendo a gorjeta e anunciando que telefonaria para a moça, depois do ajuste, a sorrirem-se ambos no aperto de mãos.
Restituído a si próprio, Nogueira, sempre enlaçado pelo obsessor, não se deu tempo a maiores reflexões.
Aproximou-se do telefone e vacilou um instante. Pensou consigo que essa era a primeira vez que se dirigiria ao rapaz que detestava.
A hesitação, porém, não passou de segundos.
Discou, resoluto, para Gilberto.
Atendido, prontamente, formulou a consulta, untando a voz de cortesia. Se possível, desejava vê-lo e ouvi-lo, solicitar-lhe um favor com vantagens mútuas, mas rogava-lhe a gentileza da discrição.
Entendimento pessoal para aquele instante.
O rapaz gaguejou do outro lado, denotando viva emoção, e aquiesceu sem muitas palavras.
Ambos consultaram o relógio. Onze em ponto. (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 137)
Ele, Cláudio, seguiria de táxi para o almoço, em casa, no Flamengo, e esperá-lo-ia no Lido. Não se preocupasse o interlocutor.
Conheciam-se bastante, embora sem contactos pessoais. Além disso, abordá-lo seria fácil para ele. Conhecia-lhe o carro.
Efetivamente, escoados que foram alguns minutos, achávamo-nos os quatro, Cláudio, Gilberto, o assessor espiritual de Nogueira e eu, no lugar indicado.
O jovem, muito pálido, assemelhava-se ao aluno culpado que comparece diante do professor, mas o sorriso largo e calculado com que era recebido colocou-o à vontade, mais apressadamente que supunha.
Caminharam, lado a lado, permutando banalidades sobre o tempo, até que se instalaram num recanto de bar, à frente de um guaraná que tocaram, de leve.
Cláudio, aparando as cinzas do cigarro, de momento a momento, esforçava-se, quanto possível, por parecer natural.
Invariavelmente ligado ao vampirizador que o não perdia, começou dizendo ao filho de Nemésio que lhe entendia a situação com clareza; que o sabia, de certo modo, inclinado para Marina, a
filha legítima, e que, na condição de genitor, conquanto se visse na obrigação de preservar-lhe a felicidade, não devia bisbilhotar, à margem de assuntos privativos deles dois; entretanto, acentuava,
dramático, criara Marita, igualmente por filha; amava-a, enternecidamente, e anelava para ela o bem-estar que sonhava para a outra.
Gilberto, inexperiente, escutava embasbacado, comovido.
O antigo bancário, aparentando elevada condescendência, asseverou que, em verdade, somente atribuiria ao destino a coincidência que vinha de observar, porquanto se achava convencido de que ambas as meninas queriam o moço, talvez com análogo afeto. (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 138)
Verificava, assombrado, a máscara de paternal ternura com que Nogueira recobrira o semblante.
No íntimo, acalentava a repulsão, dura, violenta. Dissimulava, habilmente, os ímpetos de amarrotar o filho de Beatriz que, satisfeito e acalmado, lhe agasalhava as afirmações.
Reprimindo-se, prosseguiu astucioso.
Salientou que, decerto, a menina bisonha, ao albergar-lhe os testemunhos de apreço, escorregara na paixão, que lhe devastava, agora, a juventude em psicose e doença. Preocupava-se, afligia-se.
Encontraria recursos para sanar as dificuldades, mas, para isso, constrangia-se a solicitar-lhe concurso, a fim de que Marita sofresse menos.
Contaria com ele e, ao registrar-lhe as primeiras palavras de assentimento, baixou o tom de voz, anunciando-lhe em caráter confidencial que a filha adotiva lhe escrevera um recado. Sabia disso. Compondo o quadro estudado de interesse paternal, indagou se ele havia recebido. Ante a resposta negativa, explicou que a moça lhe endereçara um papelucho, no qual lhe rogava um encontro para a noite. Sem que lhe suspeitasse do zelo, conseguira
ler o petitório, tanto assim que poderia repeti-lo. E recitou de cor o pequeno texto, sílaba a sílaba, dando a impressão de proceder assim para exteriorizar com mais segurança o próprio enternecimento.
Depois de caracterizar o papel, rogava ao rapaz dois favores: responder afirmativamente, por escrito, que estaria no local indicado, atendendo ao horário certo, e abster-se de comparecer no momento preciso.
Fantasiou que a menina andava desorientada, enferma. Temia um choque. Não dispunha de outro remédio senão pedir-lhe aquele tipo de cooperação. Isso porque, naquele mesmo dia, estava providenciando a aquisição dos documentos necessários, para que (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 139) ela fosse à Argentina, em companhia de Márcia, numa viagem de refazimento e recreio. Não seria prudente estragar-lhe o ânimo, naquela hora, com uma negação formal. Naturalmente que o interlocutor era dono de si. Agisse como melhor lhe parecesse.
Ele, porém, nos sentimentos de pai que o moviam, receava conseqüências.
Nada custaria satisfazer-se àquela particularidade que considerava providencial. Se Gilberto aprovasse a idéia, ele próprio, Cláudio, se incumbiria de buscá-la, no endereço marcado, não só com a noticia positiva da viagem, no bolso, de modo a proporcionar-lhe renovadora alegria, ao mesmo tempo que poderia apresentar a ela as desculpas dele, quanto à ausência. Compreensível que, com a autoridade afetuosa de pai amigo, se responsabilizasse pelas escusas do moço, de vez que usaria o tato imprescindível.
Por fim, consultava-o como justificá-lo, no instante oportuno, se devia alegar a razão do bolo como sendo negócios, serviços, empeços domésticos ou inesperado afastamento do Rio.
O filho dos Torres ouviu tudo, encantado.
A proposta pareceu-lhe uma peça vazada em profundo bomsenso.
Além disso, respirava feliz. Verificava haver encontrado alguém que o levaria, passo a passo, a libertar-se de um compromisso que lhe pesava demasiado na consciência.
Chegado a esse ponto, desinibiu-se. Perdera os derradeiros resquícios da desconfiança com que iniciara a conversação. E, ao desembaraçar-se, afixou a máscara fisionômica que julgou cabível
à defesa das próprias conveniências, asseverando que dedicara a Marita uma boa amizade, de irmão para irmão, nada mais. Destacou que, efetivamente, notara nela determinadas alterações que o haviam desgostado e, já que se sentia inequivocamente atraído para Marina, afastara-se, cauteloso, na expectativa de que tempo e distância funcionassem

CONTINUA AMANHÃ

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