terça-feira, 2 de agosto de 2011

SEXO E DESTINO - CHICO XAVIER E ANDRÉ LUIZ - PARTE 28

CONTINUAÇÃO

CAPÍTULO 12

Colaborando nós na assistência a Dona Beatriz, que enlanguescia sempre, tornamos a ver Marita, no encerramento da tarefa diária.
Chegara novembro com chuvas torrenciais.
Naquele dia, depois de algumas horas marcadas de canícula intensa, nuvens gigantescas ocultaram os picos, abreviando o crepúsculo, que se adensava, abastecido de água e névoa. Copacabana molhada, nas horas de movimentação culminante, acentuara a algazarra. Todo o povo que transitava nas ruas parecia disputar a melhor num concurso de pressa. Maratona improvisada.
Veículos despejavam filas enormes de pessoas, evidentemente sequiosas de tranqüilidade doméstica, que vinham do norte e do centro, carros fonfonavam no espelho irrigado do asfalto, pedindo vez. Transeuntes encapuzados acotovelavam-se, esperando as conduções que vinham do extremo sul.
A filha adotiva de Cláudio alcançou o vasto edifício, arrostando
o aguaceiro.
De Copacabana ao Flamengo, o trajeto de ônibus, tão logo iniciado, fora rápido, e do coletivo até a casa o trecho de caminho constara simplesmente de alguns passos; contudo, mesmo assim, despiu a capa, diante do elevador, como quem deixava a piscina.
Tudo frio e sombra, em torno; entretanto, mais dolorida que a tarde caliginosa, surgia-lhe a alma atormentada, através dos olhos
pisados de cansaço e vigília.
De subida, a vizinha solicitou-lhe a atenção para os adornos leves que carregava numa cesta de arame. A jovem, chamada a si, examinou ligeiramente os papéis pintados para festiva noite de aniversário, em apartamento próximo, pronunciou automaticamente breves palavras de admiração e ensimesmou-se, abafada, (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 118) para somente aliviar-se, de algum modo, ao reconhecer-se no recanto familiar.
Ninguém a esperava.
Sozinha, estirou-se no leito, procurando recapitular os acontecimentos da véspera, mas o estômago reclamava alimento.
Recordou que varara o dia em absoluto jejum. Levantou-se. Consultou os recursos da copa; entretanto, os pratos que haviam sobejado não lhe acordaram o apetite. Não obstante a temperatura
baixa a se lhe refletir nas mãos álgidas, sentia excitação, calor.
Fatigara-se de pensar, trazia os nervos tensos. Desejou mate frio.
Abriu a geladeira e serviu-se. Parou os olhos pestanejantes no telefone a distância curta. Não se conteve. Discou. Da residência dos Torres, porém, uma voz imprecisa informou que Gilberto saíra, não estava. Ela esmoreceu ainda mais ...
Arrastou-se, tornando ao quarto, e descerrou a janela. Queria desafogar-se no ar fresco.
Debruçou-se no parapeito, contemplando a cidade, lá em baixo.
Sob a chuva, os automóveis figuravam-se animais fugitivos.
A moça refletia, refletia... Mirando o casario iluminado, deduziu que milhares de pessoas aí se aglomeravam, suportando talvez problemas piores ou semelhantes aos dela, inquirindo, em vão, de si mesma, o porquê de encontrar-se tão entranhadamente agrilhoada a Gilberto, quando centenas de rapazes respiravam, não longe, com excelentes predicados para lhe interessarem o coração.
Sentia-se desalentada, insatisfeita. Aspirava a entreter-se, fugir de si mesma.
Inutilmente fez menção de envergar um casaco e descer à rua, a fim de se distrair, apesar do mau tempo. Entretanto, não era apenas a chuva copiosa que lhe frustrava os impulsos. O espírito almejava deslocar-se, o corpo não. Exacerbação e fadiga. Tentou (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 119)  engolfar-se na leitura, reacomodando-se no leito, depois de apanhar uma novela, em que o marcador lhe indicava o lance interrompido, mas lembrou-se de Cláudio. O pai adotivo raramente atrasava e, desde a véspera, não conseguia recordá-lo sem temor.
Reergueu-se e preparou-se para o descanso. Precavida, apagou todas as luzes. Quando chegasse, decerto acreditá-la-ia distante.
Trancada agora na sombra, atirou-se à cama, com o abandono de quem larga um fardo importuno, e passou a meditar... Realinhavou na memória todas as esperanças e sonhos, provas e inibições da existência curta, deitando lágrimas no linho do travesseiro.
Daí a instantes, escutou os passos do chefe da casa, que se movia de uma peça para outra. Pela sutileza do andar, percebeu quando Cláudio veio, muito de leve, espreitar-lhe o aposento.
Experimentou a maçaneta, mas não insistiu. Ela e Marina guardavam o hábito da vedação, ao se ausentarem à noite. Ouviu o barulho inconfundível da garrafa em atividade e, logo após, assinaloulhe o regresso à rua, ao mesmo tempo que lhe notava o nervosismo pela maneira violenta de cerrar a porta, ao sair. Aliviada, fez-se menos inquieta.
Marita achava-se realmente só, de vez que até mesmo os dois vampirizadores do apartamento, ao que presumíamos, andavam fora, ajustados ao companheiro.
Horas passaram, lentas, difíceis... Onze em ponto, quando Neves e eu nos dispusemos ao socorro magnético. Oramos, exorando a bênção do Cristo e o concurso do irmão Félix, a beneficio da moça exausta.
Mobilizamos as possibilidades de nosso âmbito estreito.
Ela, a princípio, reagiu negativamente, empenhando-se na vigília,
mas cedeu, enfim. (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 120)
Operamos, cautelosos, reduzindo-lhe a capacidade de movimentação, obrigados que nos víamos a prever-lhe o intento de
reunir-se a Gilberto, qual sucedera na véspera.
Efetivamente, desligada do corpo, expressou completo alheamento, sem manifestar o mínimo interesse pelo ambiente.
Absorvida na paixão que lhe empalmava todas as forças, monologava, ideando alto:
– Gilberto! Onde está Gilberto?
Tentou equilibrar-se; entretanto, rodopiou, vacilante.
– Alguém que me ampare! – mendigou, aflita – preciso encontrá-
lo, encontrá-lo!...
Apoiamo-la, prestos.
Iniciávamos a saída quando se abeirou de nós simpática senhora desencarnada, declarando-se mensageira do irmão Félix, que nos esperava num posto socorrista.
Prestimosa, abraçou a paciente com o jeito característico da mulher e pusemo-nos mais facilmente a caminho.
Demandaríamos bairro próximo, onde respeitável instituição espírita-cristã nos ofereceria aconchego – instruiu a recém chegada, que se nos apresentara sob o nome de irmã Percília.
Notei que Neves e ela permutaram delicadezas mudas, revelando conhecimento anterior. Percília, contudo, não se demorou em qualquer consideração individual. Mais entregue ao trabalho que a si mesma, conversou com a frágil menina, encorajando-a.
Esforçava-se por descentralizar-lhe a atenção, apontando quadros
e ocorrências do trajeto, sem resultado. A moça não apresentava outros pensamentos, palavras e objetivos que não fossem Gilberto.
Fascinação, enredando todos os reflexos. A cada apontamento afetuoso, revidava perguntando em que lugar e a que instante seria finalmente conduzida à presença dele, ao que a

CONTINUA AMANHÃ

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