terça-feira, 12 de julho de 2011

SEXO E DESTINO - CHICO XAVIER E ANDRÉ LUIZ - PARTE 8

CONTINUAÇÃO

trola-lhe os nervos e os falsos afrodisíacos usados solapam-lhe as
energias, sem que ele mesmo perceba.
Diante da afirmativa, o esposo de Beatriz fixou agoniado vinco mental, entremostrando haver assimilado, mecanicamente, o impacto do grave enunciado.
– E se piorasse? – considerou de si para si.
A figura de Marina repontou-lhe da alma.
Nemésio divagou, cismarento.
Concordaria, sim, em recuperar a saúde, mas somente depois...
Depois que retivesse a jovem no lar, entregue a ele, em definitivo, pelos laços do matrimônio. Enquanto não a recolhesse, nos braços, sob regime de compromisso legal, não aceitaria proteção médica. Cabia-lhe sustentar-se capaz e moço aos olhos dela.
Fugiria deliberadamente de conselhos ou disciplinas tendentes a desviá-lo da ronda de passeios, excursões, entretenimentos e bebedices que, na posição de homem enamorado, acreditava dever-lhe.
O irmão Félix não contrapôs qualquer argumentação. Ao revés,
administrou-lhe recursos magnéticos em toda a província
cerebral, dispensando-lhe assistência.
Ao término da longa operação socorrista, Neves, taciturno,
não encobria o próprio desapontamento. A desaprovação esguichava-lhe da cabeça, plasmando pensamentos de censura, que,não obstante respeitosa, nos alcançavam em cheio, por chuva de vibrações negativas.
Talvez, por isso, o benfeitor sugeriu ao dono da casa abandonar o recinto, solicitação muda que Nemésio atendeu, de pronto, já que se munira das escoras que o amigo espiritual espontaneamente lhe oferecia.
Os três, a sós, tornamos à conversação.
(Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 43)
Félix, sorrindo, afagou de leve os ombros do meu companheiro e ponderou:
– Entendo, Neves, entendo você...
Encorajado pela inflexão de carinho com que semelhantes palavras eram ditas, o sogro de Nemésio desafogou-se:
– Quem entende menos sou eu. Não admito tanto resguardo para um cachorro de má qualidade. Um homem igual a este, que me desrespeita a confiança paterna! Quem não lhe vê no espírito a poligamia declarada? Um sessentão desavergonhado que enxovalha a presença da esposa agonizante! Ah! Beatriz, minha pobre Beatriz, por que te uniste a um cavalo?
Dementara-se Neves, diante de nós. Retrocedera mentalmente ao círculo acanhado da família humana e chorava, transtornado, sem que lhe pudéssemos cercear a emoção.
– Faço força – gemia acabrunhado –, mas não agüento. De que me vale trabalhar odiando? Nemésio é um mascarado! Tenho estudado a ciência de perdoar e servir, tenho aconselhado serviço e perdão aos outros, mas agora... Divididos por simples parede, vejo o sofrimento e o vício debaixo do mesmo teto. De um lado, minha filha conformada, aguardando a morte; de outro, meu genro e essa mulher que me insulta a família. Deus do céu! que me foi reservado? Andarei auxiliando uma filha doente ou sendo chamado à tolerância? Mas, como suportar um homem desses?
Não adiantou um aceno à prudência, na pausa curta.
– Antigamente – tartamudeou ele, desesperado – acreditava que o inferno, depois da morte, fosse pular em vão num cárcere de fogo; hoje aprendo que o inferno é voltar à Terra e estar com os parentes que já deixamos... Isso é a purgação de nossos pecados!...
Félix aproximou-se e ponderou, segurando-lhe afetuosamente
as mãos: (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 44)
– Calma, Neves. Sempre surge para todos nós o dia de provar aquilo que somos naquilo que ensinamos. Além disso, Nemésio deve ser entendido...
– Entendido? – entaramelou-se o interlocutor – não chegará
ter visto?
E acrescentou, quase irônico:
– Sabe o senhor qual é o rapaz que vem ocupando o pensamento
dessa moça?
– Sei, mas deixa-me explicar – clareou Félix com brandura. – Principiemos por aceitar Nemésio na posição em que se encontra.
Como exigir da criança experiência da madureza ou pedir raciocínio certo ao alienado mental? Sabemos que crescimento do corpo não expressa altura de espírito. Nemésio é aluno da vida, qual nós mesmos, sem o benefício da lição em que estamos sendo instruídos.
Que seria de nós, na situação dele, sem a visão que atualmente nos favorece? Provavelmente, cairíamos em condições piores...
– Quer dizer que devo aprová-lo?
– Ninguém aplaude a enfermidade, nem louva o desequilíbrio; no entanto, seria crueldade recusar simpatia e medicação ao doente. Consideremos que Nemésio não é um companheiro desprezível.
Emaranhou-se em sugestões perigosas, mas não fugiu da esposa a quem presta assistência; mostra-se engodado por extravagâncias
emotivas de caráter deprimente que lhe dilapidam as forças; contudo, não esqueceu a solidariedade, resolvendo oferecer casa própria e gratuita à senhora que lhe presta serviços remunerados;
acredita-se dono de juvenilidade física absolutamente irrisória, quando, na realidade, carrega um corpo em prematuro desgaste; dedica-se apaixonadamente a uma jovem que o menoscaba, conquanto lhe consagre apreço respeitoso... Não bastariam estas razões para merecer benevolência e carinho? Quem de nós com a possibilidade de auxiliar? Ele que anda cego ou nós que (Francisco Cândido Xavier - Sexo e Destino - pelo Espírito André Luiz 45) discernimos? Não posso enaltecer-lhe as manobras lamentáveis, na esfera do sentimento; entretanto, sou obrigado a confessar que ele, na ficha de analfabeto das verdades da alma, ainda não tombou de todo...
Com significativo tom de voz, o instrutor acentuou:
– Neves, Neves! A sublimação progressiva do sexo, em cada um de nós, é fornalha candente de sacrifícios continuados. Não nos cabe condenar alguém por faltas em que talvez possamos incidir ou nas quais tenhamos sido passíveis de culpa em outras ocasiões. Compreendamos para que sejamos compreendidos.
Neves silenciou, decerto controlado pela influência do amigo venerável, e, quando consegui fitá-lo, depois de alguns momentos de expectativa, percebi que se pusera, humildemente, em oração.


CONTINUA AMANHÃ

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