terça-feira, 28 de junho de 2011

PARNASO DE ALÉM TÚMULO - CHICO XAVIER - PARTE 1

Francisco Cândido Xavier

NASCEU em Pedro Leopoldo, MG, em 2 de abril de 1910,
onde residiu até dezembro de 1958. Transferiu-se para Uberaba,
MG, em janeiro de 1959. Filho de João Cândido Xavier e de
Maria João de Deus, desencarnados em 1960 e 1915, respectivamente.
Aposentou-se como funcionário público federal. Médium
de atividade ininterrupta há quase meio século, publicou, através
da Casa-Máter do Espiritismo – a Federação Espírita Brasileira –,
em julho de 1932, o “Parnaso de Além-Túmulo”, primeiro livro
de suas faculdades mediúnicas e já em 9ª edição. Seguiram-se-lhe
mais de 110 livros mediúnicos, diversos deles publicados em
Esperanto, Castelhano, Japonês, Inglês e Francês. Os romances
psicografados (entre eles “Paulo e Estêvão”, “Há Dois Mil Anos...”
e “Renúncia”) são periodicamente radiofonizados e televisionados.
Criatura simples, afável e operosa, jamais se beneficiou
dos direitos autorais da sua vasta produção mediúnica. Respeitado
e estimado em todo o Brasil, onde é popularíssimo, goza ele ainda
de sincera admiração em outros países. Viajou para o exterior
algumas vezes, sempre no exercício do seu mediunato.
Francisco Cândido Xavier - Parnaso de Além-Túmulo 15
Palavras minhas
Nasci em Pedro Leopoldo. Minas, em 1910. E até aqui, julgo
que os meus atos perante a sociedade da minha terra são expressões
do pensamento de uma alma sincera e leal, que acima de tudo
ama a verdade; e creio mesmo que todos os que me conhecem
podem dar testemunho da minha vida repleta de árduas dificuldades
e mesmo de sofrimentos.
Filho de um lar muito pobre, órfão de mãe aos cinco anos, tenho
experimentado toda a classe de aborrecimentos na vida e não
venho ao campo da publicidade para fazer um nome, porque a dor
há muito já me convenceu da inutilidade das bagatelas que são
ainda tão estimadas neste mundo.
E, se decidi escrever estas modestas palavras no limiar deste
livro, é apenas com o intuito de elucidar o leitor, quanto à sua
formação.
Começarei por dizer-lhe que sempre tive o mais pronunciado
pendor para a literatura; constantemente, a melhor boa vontade
animou-me para o estudo. Mas, estudar como?
Matriculando-me, quando contava oito anos, num grupo escolar,
pude chegar até ao fim do curso primário, estudando apenas
uma pequena parte do dia e trabalhando numa fábrica de tecidos,
das quinze horas às duas da manhã; cheguei quase a adoecer com
um regime tão rigoroso; porém, essa situação modificou-se em
1923, quando então consegui um emprego no comércio, com um
salário diminuto, onde o serviço dura das sete às vinte horas, mas
onde o trabalho é menos rude, prolongando-se esta minha situação
até os dias da atualidade.
Nunca pude aprender senão alguns rudimentos de aritmética,
história e vernáculo, como o são as lições das escolas primárias. É
verdade que, em casa, sempre estudei o que pude, mas meu pai
Francisco Cândido Xavier - Parnaso de Além-Túmulo 16
era completamente avesso à minha vocação para as letras e muitas
vezes tive o desprazer de ver os meus livros e revistas queimados.
Jamais tive autores prediletos; aprazem-me todas as leituras e
mesmo nunca pude estudar estilos dos outros, por diferençar
muito pouco essas questões. Também o meio em que tenho vivido
foi sempre árido, para mim, neste ponto. Os meus familiares não
estimulavam, como verdadeiramente não podem, os meus desejos
de estudar, sempre a braços, como eu. com uma vida de múltiplos
trabalhos e obrigações e nunca se me ofereceu ocasião de conviver
com os intelectuais da minha terra.
O meu ambiente, pois, foi sempre alheio à literatura; ambiente
de pobreza, de desconforto, de penosos deveres, sobrecarregado
de trabalhos para angariar o pão cotidiano, onde se não pode
pensar em letras.
Assim têm-se passado os dias sem que eu tenha podido, até
hoje, realizar as minhas esperanças.
Prosseguindo nas minhas explicações, devo esclarecer que
minha família era católica e eu não podia escapar aos sentimentos
dos meus. Fui pois criado com as teorias da igreja, freqüentando-a
mesmo com amor, desde os tempos de criança; quando ia às aulas
de catecismo era para mim um prazer.
Até 1927, todos nós não admitíamos outras verdades além das
proclamadas pelo Catolicismo; mas, eis que uma das minhas
irmãs, em maio do ano referido, foi acometida de terrível obsessão;
a medicina foi impotente para conceder-lhe uma pequenina
melhora, sequer. Vários dias consecutivos foram, para nossa casa,
pioras de amargos padecimentos morais. Foi quando decidimos
solicitar o auxílio de um distinto amigo, espírita convicto, o Sr.
José Hermínio Perácio, que caridosamente se prontificou a ajudarnos
com a sua boa vontade e o seu esforço. Verdadeiro discípulo
do Evangelho, ofereceu-nos até a sua residência. bem distante da
nossa, tanto à sua família, onde então, num ambiente totalmente
Francisco Cândido Xavier - Parnaso de Além-Túmulo 17
modificado, poderia ela estudar as bases da doutrina espírita,
orientando-se quanto aos seus deveres, desenvolvendo, simultaneamente,
as suas faculdades mediúnicas. Aí, sob os seus caridosos
cuidados e da sua excelentíssima esposa Dona Carmen Pena
Perácio, médium dotada de raras faculdades, minha irmã hauria,
para nosso benefício, os ensinamentos sublimes da formosa doutrina
dos mensageiros divinos; foi nesse ambiente onde imperavam
os sentimentos cristãos de dois corações profundamente
generosos, como o são os daqueles confrades a que me referi, que
a minha mãe, que regressara ao Além em 1915, deixando-nos
mergulhados em imorredoura saudade, começou a ditar-nos os
seus conselhos salutares, por intermédio da esposa do nosso amigo,
entrando em pormenores da nossa vida íntima, que essa senhora
desconhecia. Até a grafia era absolutamente igual à que a
nossa genitora usava, quando na Terra.
Sobre esses fatos e essas provas irrefutáveis solidificamos a
nossa fé, que se tornou inabalável. Em breve minha irmã regressava
ao nosso lar cheia de saúde e feliz, integrada no conhecimento
da luz que deveria daí por diante nortear os nossos passos na
vida.
Resolvemos, então, com ingentes sacrifícios, reunir um núcleo
de crentes para estudo e difusão da doutrina, e foi nessas
reuniões que me desenvolvi como médium escrevente, semimecânico,
sentindo-me muito feliz por se me apresentar essa
oportunidade de progredir, datando daí o ingresso do meu humilde
nome nos jornais espíritas, para onde comecei a escrever sob a
inspiração dos bondosos mentores espirituais que nos assistiam.2
2 Só nos últimos dias de 1931, com a graça de Deus, desenvolveram-se
em mim, de maneira clara e mais intensamente, a vidência, a audição e
outras faculdades mediúnicas. (Nota do médium para a 4ª edição, em
1944.)

CONTINUA AMANHÃ

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