domingo, 26 de junho de 2011

AS VIDAS DE CHICO XAVIER - EPÍLOGO


CONTINUAÇÃO

EPÍLOGO

Uberaba. Fevereiro de 2003. Oito meses já se passaram desde a morte de Chico Xavier e até agora nada. Nenhuma palavra, nenhuma mensagem do líder espírita.
O "correio espiritual" mais concorrido do planeta não manda notícias do além. Não usa um médium como ele para contar como vai a vida depois da morte ou como foi a passagem deste mundo para o outro.
Um silêncio incômodo quase constrangedor toma conta do circuito espírita da cidade.
No Grupo Espírita da Prece, o centro fundado por Chico Xavier em Uberaba há 28 anos, o filho adotivo Eurípedes Higino dos Reis lidera as reuniões de sábado à noite.
Sobra lugar na sala de piso de cimento onde a velha placa avisa: "Aqui, com o nome de Grupo Espírita da Prece, funciona o Culto de Evangelho do Lar do Irmão Francisco Cândido Xavier em casa de sua propriedade".
Uma novidade - só admitida depois da morte de Chico se destaca na parede ao lado: dois pôsteres gigantescos do líder espírita que se constrangia com a idolatria em torno dele e fazia questão de se menosprezar ao máximo.
Hoje no centro de Chico Xavier ninguém põe no papel mensagens ditadas por mortos a seus "entes queridos" na Terra. A programação semanal inclui oração, leitura do Evangelho e uma breve sessão de passes regada à água "fluidificada", energizada pelos espíritos.
A sessão na noite de 21 de fevereiro foi acompanhada por 42 pessoas algumas com a esperança de assistir ao momento histórico em que Chico enviaria uma mensagem aos companheiros de Uberaba. Mas nada.
Na mesa de doze lugares, ocupada pelos colaboradores do Grupo Espírita da Prece Eurípedes à cabeceira, uma das oradoras conversa, em voz alta, com Chico Xavier:
- Nós gostaríamos que você, Chico, tivesse permanecido mais tempo conosco, mas Deus sentiu saudade de você.
Por que tanto silêncio?
Carlos Bacelli e Celso de Almeida Afonso os médiuns de Uberaba mais procurados hoje por quem busca mensagens do além - têm a mesma explicação:
- "Chico quer evitar confusão".
Uma mensagem sua, publicada em jornais e revistas, funcionaria como um holofote sobre o médium escolhido para colocá-la no papel. O eleito para a missão não teria paz.
Prefiro não receber esta mensagem -, Celso se esquiva enquanto passeia com seu poodle branco pelas ruas de Uberaba num domingo de sol; Sou preguiçoso demais.
A casa simples e confortável onde Chico Xavier passou os últimos anos de sua vida se transformou em museu administrado por Eurípedes. As portas estão abertas para quem quiser entrar e uma urna está à disposição na cozinha para doações voluntárias.
Uma livraria, logo na entrada, vende os títulos psicografados por Chico Xavier ao longo da vida e expõe objetos de todo tipo com a imagem dele estampada: camisetas, cadernos, agendas, pratos, calendários. A imagem de Chico se multiplica.
Uma câmera de vídeo instalada no corredor de acesso à porta dos fundos hoje está desligada - uma lembrança dos tempos em que era preciso zelar pela segurança de Chico e registrar, com cuidado, a entrada e saída de desconhecidos na casa aos sábados à noite.
A voz de Chico ecoa por todo canto durante a visita ao Museu. Um CD com mensagens lidas por ele, embalado por música clássica, serve como trilha sonora para a revelação da intimidade do homem que lutou, em vão, para preservar um mínimo de privacidade.
Faixas em verde e amarelo - como as dos museus públicos impedem os curiosos de entrar no quarto onde Chico morreu e onde passou boa parte dos últimos anos de sua vida.
Os outros cômodos estão abertos à visitação: as duas salas onde Chico recebeu amigos e admiradores, almoçou e jantou (sopas e mingaus nos últimos anos) e bebericou café (seu único vício), enquanto se equilibrava entre os dois mundos: o dos vivos e o dos mortos.
Na porta do seu quarto, está pendurado um dos bilhetes escritos por ele para os espíritos. Um pedido de desculpas por um transtorno imprevisível: ele teria que dormir no quarto ao lado, uma noite, por causa de um conserto na caixa de água, mas estaria à disposição dos "amigos espirituais".
Hoje, no quarto ao lado, penduradas nas paredes, deparamos com as boinas usadas por Chico para cobrir sua calvície.
Nas paredes de toda a casa, estão expostos aos visitantes tudo o que Chico evitou exibir ao longo da vida: títulos de cidadão honorário, medalhas, troféus, comendas.
No cemitério, um mausoléu de mármore branco foi construído para homenagear o morto mais ilustre e visitado da cidade. O movimento em Uberaba desabou com a morte dele, os hotéis já não lotam com as caravanas de espíritas e não espíritas vindas de todo o Brasil. Mas os admiradores continuam a chegar, aos poucos, e fazem questão de visitar o túmulo de Chico para pedir paz e socorro.
Uma frase assinada por Chico enfeita uma das paredes do mausoléu, sob uma escultura que mostra a mão dele segurando um lápis, pronta para receber uma mensagem:
"A minha vida dediquei à minha mediunidade, à minha família, aos meus amigos. Ao povo. A minha morte me pertence. Meu corpo deve voltar para a mãe Terra e não deve ser tocado".
Chico pede paz.

CONTINUAÇÃO

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