sábado, 25 de junho de 2011

AS VIDAS DE CHICO XAVIER - DIANTE DA MORTE - PARTE 8

CONTINUAÇÃO

Modelo no dia da aposentadoria de seu condutor, um expert em chibatadas. As histórias divertidas se misturavam também a lembranças emocionadas de sua madrasta, Cidália:
- Se eu precisar de ajuda na hora do meu "desencarne", tenho certeza de que ela vai me auxiliar.
De vez em quando, interrompia a conversa para escrever dedicatórias aos "prezados irmãos pelo coração". Nos bilhetes, com votos de paz e felicidade, sempre se definia como "seu servidor muito grato". Uma das beneficiadas, Cássia Flora Grandizoli, saiu de lá com um cartão e com uma cisma. Por que a água sobre a mesa ficou leitosa? De onde vinham aquelas ondas de perfume de rosas?
No dia seguinte, Chico voltou à solidão habitual, povoada por fantasmas. Precisava escrever para cumprir sua missão. Até 23 de junho de 1993, 367 livros estampavam seu nome na capa, 65 deles tinham sido traduzidos em língua estrangeira (entre elas, o grego, o tcheco e o japonês), 86 chegavam aos cegos em braile e oito circulavam mundo afora em esperanto. Um mês depois, os números seriam atropelados.
No dia 22 de julho, doze novos títulos já estavam no prelo, três descansavam na cabeceira de Chico à espera de um prefácio (sempre assinado por Emmanuel) e outro já estava a caminho da editora Ideal. O homem que teve a vida desapropriada pelos espíritos parecia querer compensar a queda de produção dos três anos anteriores.
Em 1991, só conseguiu lançar quatro títulos. Em 1992, foram oito. Em fevereiro de 1994, o mundo de Chico movimentava números impres-sionantes.
Livros publicados: 375. Exemplares vendidos: cerca de 20 milhões (1 milhão só de Nosso Lar). "Autores espirituais": quase 2 mil. Renda média anual com direitos autorais: 650 mil dólares. Quanto, desse total, Chico guardava para si mesmo: zero.
Nenhum tostão.
Vivia de sua aposentadoria como escriturário nível 8 do Ministério da Fazenda - cerca de 150 dólares - e da ajuda de amigos e admiradores. Sete milhões de espíritas assumidos prestavam reverências a ele. Só na década de 80, meio milhão de católicos se converteram ao espiritismo.
Entre um livro e outro, o principal responsável pela transformação do Brasil no maior país espírita do mundo se preparava para morrer.
Tomou todas as precauções. Para começar, doou a Eurípedes, Vivaldo e José Geraldo o seu único bem: a casa simples.
Em seguida, atestou, em documento, o desejo de ser enterrado em Uberaba e não em Pedro Leopoldo. Queria evitar que sua sepultura na cidade natal, tão provinciana, se transformasse em pólo de romaria após sua morte. Para arrematar, pediu a Vivaldo que queimasse os originais de todas as mensagens publicadas. Temia que os garranchos do além fossem comer-cializados quando ele já estivesse longe.
Numa noite, pouco antes de dormir, encarou os amigos e, bem humorado, fez um último pedido:
- Quando vocês olharem para mim na cama e eu estiver sorrindo, em silêncio, virem o rosto, porque eu vou embora.

CONTINUA AMANHÃ

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