quarta-feira, 22 de junho de 2011

AS VIDAS DE CHICO XAVIER - DIANTE DA MORTE - PARTE 5

CONTINUAÇÃO

Já como Presidente, no ano seguinte, Collor voltou a Uberaba para participar da abertura da Exposição de Gado Zebu. Retribuiu a profecia de Chico Xavier com uma visita ao vidente. Dessa vez, estava acompanhado por Rosane. O anfitrião adorou o casal e sofreu quando, meses depois, Collor tirou a aliança do dedo, virou o rosto para a mulher em público e expôs ao Brasil as próprias mazelas conjugais. Chico estava prestes a mandar uma mensagem ao parceiro de PC com o pedido de que ele deixasse de ser  "tão bravo com a Rosane ", quando soube da reconciliação do casal pelos jornais.
Em maio de 1991, Chico, já maltratado por outra pneumonia, foi surpreendido por mais uma visita de Collor. Sem marcar hora, ele chegou de surpresa, acompanhado da mulher, após despistar seguranças, jornalistas, políticos e curiosos. Chico estava de cama, no quarto, e fez o Presidente esperar na ante sala quase vinte minutos.
Como sempre, o marido de Rosane estava impaciente. Sem assunto, passou a mão no cabelo e desabafou para os poucos auxiliares do médium.
- Há um ano, quando estive aqui, não tinha cabelos brancos.
Precisava continuar a viagem até Araxá. Tinha pressa. De repente, com suas tradicionais passadas largas, alcançou a porta do quarto de Chico e girou a maçaneta enquanto avisava:
- Eu sou de casa. Vou entrar.
Eurípedes Higino dos Reis liberou a passagem e Collor surpreendeu aquele senhor doente, ainda tentando se vestir. Chico desistiu do esforço de colocar o terno, voltou para a cama e, embrulhado em lençóis, conversou pouco mais de cinco minutos com o visitante. Foi o último encontro dos dois.
Logo após o impeachment, quando estouraram as denúncias de Pedro Collor sobre sexo e drogas na Casa da Dinda, Chico enviou um telegrama de apoio ao ex Presidente.
Desejava fé, força e paz a ele. Na época, confidenciou aos companheiros mais próximos o medo de que o escândalo em Brasília terminasse em tiro.
Uma semana antes de Collor ter os direitos políticos cassados por oito anos, Chico arriscou mais uma previsão. Otimista, garantiu a volta por cima de seu  "amigo ".
Fez bem em ter mantido distância da política ao longo de sua vida.
Uma versão do outro mundo para a tragédia pessoal de Fernando Color de Mello começou a circular entre os espíritas. A história podia ser lida nas entrelinhas daquela dedicatória escrita por Chico antes das eleições. Collor seria a reencarnação do Marechal Deodoro da Fonseca e teria voltado à Terra para resgatar uma dívida do mandato anterior. Como primeiro presidente do país, ele renunciou ao cargo, desiludiu a população, abandonou o Brasil. Nesta temporada, o ex Deodoro da Fonseca (e atual Collor) recebia o troco.
Chico nunca confirmou esta tese. E sempre mudava de assunto quando alguém ameaçava sondá-lo sobre suas próprias vidas anteriores. Mesmo assim, as especulações animavam conversas reservadas entre os espíritas. Os amigos aprenderam a arriscar, às escondidas, palpites sobre a última encarnação de Chico na Terra. Entre os nomes mais cotados, sempre esteve o de José de Anchieta, parceiro de Manuel da Nóbrega (o Emmanuel).
Mas outro nome ganhou força no meio: Allan Kardec, o responsável pela publicação das bíblias do espiritismo no século passado.
Estava escrito.
No livro Obras Póstumas, assinado pelo francês com a ajuda de vários parceiros invisíveis, um espírito chamado Z anunciou a Kardec: "Terás que retornar reencarnado noutro corpo para completar a tua obra, que não podes concluir nesta existência ".
Chico teria voltado ao planeta para pôr em prática as idéias defendidas nos livros escritos por ele como Kardec. Algumas coincidências reforçaram a tese defendida pela maioria dos amigos do autor do Parnaso.
Chico nasceu em 2 de abril, mesmo dia da morte de Kardec.
Em Obras Póstumas, Kardec previa a própria volta para o fim do século passado ou início deste. Chico nasceu em 1910.
Outro profeta invisível, autodenominado Espírito da Verdade, deu mais uma pista a Kardec:  "Não suponhas que basta diante da morte publicar um livro, dois livros, dez livros, para em seguida ficares tranqüilamente em casa. Tens que expor a sua pessoa ".
Chico Xavier se superexpôs até ficar exaurido.
A tese virou livro: Kardec Prossegue. Escrito por um dos amigos mais respeitados de Chico, Adelino da Silveira, ele exibia na capa, lado a lado, as imagens de um Chico Xavier risonho e de um Allan Kardec sisudo.
Chico não só leu a obra, como presenteou sua amiga Silvia Barsante, de Araxá, com um exemplar autografado.
De vez em quando, de cama, ele perguntava aos amigos mais íntimos:
- Onde estão as mensagens de Kardec? Onde estão?
E ria, misterioso.
Sob o peso dos oitenta anos, Chico foi persuadido por seu médico e sobrinho José Geraldo a se afastar do Grupo Espírita da Prece. A angina e as pneumonias o convenceram a participar das sessões apenas se seu estado de saúde fosse estável. Após exames semanais, receberia ou não autorização para atender os desesperados.
No início dos anos 90, muita gente começou a se acostumar com a ausência de Chico e a se conformar com sua fragilidade.
Muitos fiéis se satisfaziam em parar na porta de sua casa para "captar energias positivas " e ir embora. Ônibus estacionavam diante do portão e os passageiros rezavam.
Numa destas paradas, Eurípedes entrou no veículo e pediu que a moça com nome de flor o acompanhasse. Rosa seguiu-o, entrou em sua casa e conversou com Chico Xavier.
Muita gente tinha esperança de ser abençoado por uma conversa com o santo de Uberaba.
Alguns desesperados não se conformavam com a falta de contato e insistiam.
Um deles esmurrou o portão de ferro da casa de Chico Xavier até perder as forças. Entre um soco e outro, berrava:
- Você está se escondendo. Preciso falar com você. É urgente.
Já estava ficando rouco de tanto gritar quando Chico, amparado por amigos, caminhou até a varanda e desabafou, quase sem fôlego, com a voz estridente:
- Os muros não existem contra o senhor ou contra qualquer outro, mas contra mim mesmo. Se eu desfrutasse a liberdade, sairia por aí afora, arranjando confusões. Estou aprisionado.
Numa noite, ao acompanhar um amigo até o portão de sua casa, ele pediu:
- Feche a porta do meu cárcere.
Mas, numa madrugada, tudo mudou. Chico se levantou da cama e, de pijamas, atravessou Uberaba a pé, em minutos. Com o coração leve e os pulmões livres, flutuou sobre as ruas da cidade, a meio palmo do chão. A seu lado estava o Dr. Inácio Ferreira, um dos seus amigos do outro mundo. Foi o médico quem convenceu o médium a abandonar o próprio corpo no quarto e a segui-lo noite adentro. Dr. Inácio precisava de ajuda para resolver uma questão doméstica.
Chico deveria convencer a ex mulher do companheiro a não se desfazer dos livros dele. Afinal, ele precisava de sua biblioteca para continuar o trabalho no sanatório em outra dimensão. Chico persuadiu a viúva com frases sopradas pelo velho conhecido.
Após a longa noite, voltou para casa. E, com alguma resistência, quase nojo, deitou-se sobre a massa gelatinosa espalhada no lençol.
Estava preso de novo.
Com o corpo despedaçado e a cabeça a mil, tratava de lançar palavras no papel.
Cansado, já se permitia desabafos mais freqüentes e dizia:
- Sinto-me como se fosse arrastado, não posso resistir. Vai ser assim até quando Deus quiser.
Um médico amigo diagnosticou seu caso, em tom paternal:
- Para mim, você é maldito.

CONTINUA AMANHÃ

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