terça-feira, 19 de abril de 2011

JUSTIÇA DIVINA - ESTUDOS SOBRE AS OBRAS DE ALLAN KARDEC - 25ª PARTE

FRANCISCO CANDIDO XAVIER

JUSTIÇA DIVINA

ESTUDOS E DISSERTAÇÕES EM TORNO DA OBRA

“O CÉU E O INFERNO”


De ALLAN KARDEC

Ditado pelo Espírito EMMANUEL


71 - SIRVAMOS SEMPRE

Não apenas nos dias de arrependimento e reparação.

Em todas as circunstâncias, o serviço é o antídoto do mal.

Caíste na trama de enganos terríveis e arrepiaste caminho, sonhando reabilitar-te.

Não desperdices a riqueza das horas, amontoando lamentações.

Levanta-te e serve nos lugares onde esparziste a sombra dos próprios erros, e granjearás, na humildade, apoio infalível ao reajuste.

Arrostas duros problemas na vida particular.

Livra-te do fardo inútil da aflição sem proveito.

Reanima-te e serve no quadro de provações em que te situas, e a diligência funcionará, por tutora prestigiosa, abrindo-te a senda ao concurso fraterno.

Padeces obscura posição no edifício social.

Segue imune ao micróbio da inveja.

Movimenta-te e serve no anonimato e o devotamento surgir-te-á por luminosa escada à subida.

Sofres o assalto de calúnias ferozes.

Esquece a vingança, que seria aviltamento em ti mesmo.

Silencia e serve, olvidando as ofensas, e conquistarás, no perdão com atividade no bem, escudo invencível contra os dardos da injúria.

Suportas afrontoso assédio de espíritos inferiores, inclinando-te à queda na obsessão.

Abstém-te da queixa improfícua.

Resiste e serve, dedicando-te ao socorro dos que choram em dificuldades maiores, e surpreenderás, na beneficência, o acesso à simpatia e à renovação dos próprios adversários.

Preguiça é o ópio das trevas.

Os que não trabalham transformam-se facilmente em focos de tédio e ociosidade, revolta e desespero, desequilíbrio e ressentimento, pessimismo e loucura.

Sirvamos sempre.

Quem busca realmente servir, nunca dispõe de motivos para se arrepender.

72 - CORAÇÕES VENERADOS


À medida que os anos terrestres te alongam a experiência, registras, com mais intensidade, na câmara da memória, a presença dos que partiram.

Ah! Os mortos que te guiaram ao bom caminho!... São eles as vozes do passado que te chegam, puras ao coração. Lembram-te o berço perdido, junto às maternas canções que te embalavam para o repouso, os ensinamentos do lar que te guardavam a meninice, o carinho dos irmãos que beijavas na alegria transparente da infância, o sorriso dos mais velhos que te abençoavam em oração!...

Falam-te dos passos cambaleantes da idade tenra, das primeiras garatujas que traçaste na escola, dos afetos da juventude, dos laços inolvidáveis dos quais te despediste, chorando, na hora extrema!...

Não te rendas, contudo, ao desespero, se o frio da ausência parece constituir a única resposta da vida aos anseios que te fluem da inquietação.

Deixa que a prece te converta o espinheiral da saudade em jardim de esperança, porque todos eles, os corações venerados que te precederam no portal da grande sombra, aguardam-te jubilosos, no imenso país da luz.

Entretanto, para que lhes partilhes o banquete de paz e amor, é necessário perlustres a senda de trabalho e abnegação que te abriram aos pés.

Abraça-lhes o exemplo de sacrifício com que te iluminou o entendimento e pede-lhes para que te inspirem à caminhada.

Não temas, sobretudo, o avanço das horas.

O tempo que traz o inverno cinzento e triste é o mesmo que acende os lumes e ostenta as flores da primavera.

A existência, no plano físico, é comparável à travessia de gran-de mar.

O corpo é a embarcação.

A morte é o porto de acesso a lides renovadoras.

Tudo o que fazes segue à frente de ti, esperando-te, além, na estação de destino.

Vive, assim, a realizar o melhor que puderes, de vez que, se te consagras ao bem, em verdade não fugirás à passagem da noite, mas todos aqueles que, um dia, te conduziram ao bem ser-te-ão novas luzes no instante do alvorecer.

73 - EXPERIÊNCIA RELIGIOSA


Deploramos as calamidades de que o materialismo se faz a nascente e insistimos pelo retorno à fé religiosa, para que a responsabilidade seja colocada no lugar que lhe é próprio.

Apontamos a excelência da virtude, traçamos roteiro à vida heróica, articulamos cruzadas de rearmamento moral e encarecemos a redenção de costumes.

É forçoso reconhecer, no entanto, a inevitabilidade da ação para definir a função.

Contraditório aconselhar uma estrada e seguir noutra.

Toda escola é centro indutivo.

Formam-se engenheiros nas disciplinas em que outros engenheiros se tornaram instrutores.

Fazem-se mecânicos, no trabalho em que outros mecânicos se fizeram exímios.

O invento pede uso, a teoria espera demonstração.

Assim também na experiência religiosa.

Imaginemos se o Cristo, a pretexto de angariar contribuições para as boas obras, houvesse disputado a nomeação de Mateus para exercer as atribuições de chefe do erário, no palácio de Ântipas; se, para garantir o prestígio do evangelho, passasse a freqüentar os corredores do Pretório, com o intuito de atrair as atenções de Pilatos; se, para favorecer a causa da Boa Nova, resolvesse adular os familiares de Anás, oferecendo-lhes passes magnéticos para curar-lhes as enxaquecas; ou se, para preservar-se na grande crise, tivesse provocado um entendimento com essa ou aquela autoridade do Sinédrio, acomodando-se ao mercado das influências políticas, junto do povo...

Ao invés disso, vemo-lo, a cada passo, coerente consigo mesmo.

Amparando os homens sem os escravizar às ilusões.

Prestando serviço aos homens, em nome de Deus, sem conluiar-se com os homens em desserviço a Deus.

Esclarecendo sem impor.

Ajudando sem exigir.

Promovendo o bem de todos, sem cogitar do bem de si mesmo.

Indubitavelmente, todos nós lamentamos a incredulidade que lavra na Terra, ressecando corações e ensombrando inteligências.

Urge, porém, compreender que, para abolir a tirania da negação que entenebrece o espírito humano, será necessário viver de acordo com a fé que ensinamos, a fim de que o mundo encontre em nós, primeiramente, o trabalho e a compreensão, a fraternidade e a concórdia que aspiramos a encontrar dentro dele.

CONTINUA AMANHÃ

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