domingo, 6 de março de 2011

O LIVRO DOS ESPÍRITOS

LIVRO QUARTO

CONCLUSÃO


VII

Trecentésima Setuagésima Parte.

Seria presumir demasiado da natureza humana crer que ela pudesse se transformar subitamente pelas idéias espíritas. Sua ação não é, seguramente, a mesma, nem do mesmo grau, entre todos aqueles que as professam; mas qualquer que seja o resultado, mesmo fraco, é sempre um progresso, mesmo seja apenas o de dar a prova da existência de um mundo extra-corpóreo , o que implica na negação das doutrinas materialistas, Isto é a conseqüência mesma a observação dos fatos.

Mas entre os que compreendem o Espiritismo filosófico e nele vêem outra coisa além dos fenômenos mais ou menos curiosos, há outros efeitos. O primeiro, e o mais geral, é desenvolver o sentimento religioso naquele mesmo que, sem ser materialista, não tem senão indiferença pelas coisas espirituais.

Disso resulta nele o desprezo pela morte; não dissemos o desejo da morte, longe disso, porque o Espírita defenderá sua vida como qualquer outro, mas uma indiferença que faz aceitar, sem murmurar e sem desgosto, uma morte inevitável, como uma coisa antes feliz que terrível, pela certeza do estado que lhe sobrevirá. O segundo efeito, quase tão geral como o primeiro, é a resignação nas vicissitudes da vida. O Espiritismo faz ver as coisas de tão alto, que a vida terrena, perdendo três quartas partes de sua importância, não aflige tanto com as atribulações que a acompanham; daí mais coragem nas aflições, mais moderação nos desejos; daí também o afastamento do pensamento de abreviar seus dias, porque a ciência espírita ensina que, pelo suicídio, se perde sempre o que se queria ganhar. A certeza de um futuro que depende de nós mesmos tornar feliz, a possibilidade de estabelecer contato com os seres que nos são caros, oferecem ao Espírita uma suprema consolação. Seu horizonte aumenta ao infinito pelo espetáculo incessante que ele tem da vida de além-túmulo, da qual pode sondar as misteriosas profundezas. O terceiro efeito é excitar à indulgência pelas faltas alheias. Mas é necessário dizê-lo, o principio egoísta, e tudo o que dele decorre, é o que há demais tenaz no homem e, por conseguinte, o mais difícil de desarraigar. Fazem-se sacrifícios voluntários desde que coisa alguma custe e, sobretudo, de nada privem. O dinheiro tem ainda, para a maioria, um atrativo irresistível, e bem poucos compreendem a palavra supérfluo, quando se trata de sua pessoa. Por isso, a abnegação da personalidade e o mais eminente sinal de progresso.

CONTINUA AMANHÃ

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