segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O LIVRO DOS ESPÍRITOS

LIVRO QUARTO

CONCLUSÃO


III

Trecentésima Sexcentésima Quarta Parte.

Quereis, segundo dizeis, curar vosso século de uma mania que ameaça invadir o mundo.

Gostaríeis mais que o mundo fosse invadido pela incredulidade que procurais propagar? Não é a ausência de toda crença que é preciso atribuir o relaxamento dos laços de família e a maioria das desordens que minam a sociedade? Demonstrando a existência e imortalidade da alma, o Espiritismo estimula a fé no futuro, levanta os ânimos abatidos, faz suportar com resignação as vicissitudes da vida; ousaríeis chamar a isso um mal? Duas doutrinas se confrontam: uma que nega o futuro, outra que explica tudo e para isso recorre à razão; uma é a consagração do egoísmo, a outra dá uma base à justiça, à caridade e ao amor dos semelhantes; a primeira não mostra senão o presente e aniquila toda esperança, a segunda consola e mostra o campo vasto do futuro; qual é a mais perniciosa?

Certas pessoas, e entre as mais céticas, se fazem os apóstolos da fraternidade e do progresso; mas a fraternidade supõe o desinteresse, a abnegação da personalidade. Com a verdadeira fraternidade o orgulho é uma anomalia. Com que direito impondes um sacrifício àquele a quem dizeis que quando morrer tudo está findo para ele e que, talvez, amanhã não será mais que uma velha máquina deslocada e atirada de lado? Não é mais natural que durante os curtos instantes que lhe concedeis, ele procure viver o melhor possível? Daí o desejo de possuir mais para melhor gozar. Desse desejo nasce o ciúme contra aqueles que possuem mais do que ele; e desse ciúme à inveja de tomar o que eles têm, não há senão um passo. Que o detém? A Lei? Mas a Lei não alcança todos os casos. Direis que é a consciência, o sentimento do dever? Mas sobre o que baseais o sentimento do dever? Esse sentimento tem alguma razão de ser com a crença de que tudo termina com a vida? Com essa crença uma só máxima é raciocinar: cada uma para si. As idéias de fraternidade, de consciência de dever, de humanidade e mesmo de progresso não são senão palavras vãs. Oh! Vós, que proclamais semelhantes doutrinas, não sabeis todo o mal que fazeis à sociedade, nem de quantos crimes assumis a responsabilidade? Mas falo eu de responsabilidade? Para o cético não há isso, pois ele não rende homenagem senão à matéria.


CONTINUA AMANHÃ

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