ESPERANÇAS E CONSOLAÇÕES
CAPÍTULO II
PENAS E GOZOS FUTUROS
DURAÇÃO DAS PENAS FUTURAS
Trecentésima Qüinquagésima Segunda Parte.
Guerras de palavras! Guerras de palavras! Não fizeste verter bastante sangue? É preciso, pois, ainda reacender as fogueiras? Discute-se sobre os temas eternidade das penas, eternidade dos castigos. Não sabeis, pois, que o que entendes hoje por eternidade, os antigos não entendiam como vós? Que o teólogo consulte as fontes, e como todos vós descobrireis nelas que o texto hebreu não deu à palavra que os Gregos, os latinos e os modernos traduziram por penas sem fim, irremissíveis, a mesma significação. Eternidade dos antigos corresponde à eternidade do mal. Sim, tanto que o mal existia entre os homens, os castigos subsistirão; é no sentido relativo que importa interpretar os textos sagrados. A eternidade das penas, portanto, não é senão relativa e não absoluta. Dia virá que todos os homens se revestirão, pelo arrependimento, com a túnica da inocência e nesse dia não mais haverá gemido e ranger de dentes. Vossa razão humana é limitada, é verdade, mas tal qual é, é um presente de DEUS, e com essa ajuda da razão, não há um só homem de boa fé que compreenda de outro modo a eternidade dos castigos. A eternidade dos castigos! Como! Seria preciso, pois, admitir que o mal fosse eterno. So DEUS é eterno e não poderia criar o mal eterno; sem isso seria preciso arrancar-lhe o mais sublime dos seus atributos: o soberano poder, porque é soberanamente poderoso quem pode criar um elemento destruidor de suas obras. Humanidade! Humanidade! Não mergulhes, pois, mais teus melancólicos olhares nas profundezas da Terra para aí procurar castigos; chora, espera, expia e refugia-te no pensamento de um DEUS intimamente bom, absolutamente poderoso, essencialmente justo.
PLATÃO
CONTINUA AMANHÃ
Nenhum comentário:
Postar um comentário