terça-feira, 14 de dezembro de 2010

O LIVRO DOS ESPÍRITOS

LIVRO TERCEIRO

AS LEIS MORAIS

CAPÍTULO X


IX – LEI DE LIBERDADE

FATALIDADE

Duzentéssima Noventésima Primeira Parte

862 – HÁ PESSOAS PARA AS QUAIS COISA ALGUMA SAI BEM, E QUE UM MAU GÊNIO PARECE PERSEGUIR EM TODAS SUAS EMPREITADAS; NÃO HÁ NISSO O QUE SE PODE CHAMAR FATALIDADE?

- Há fatalidade, se queres chamar assim; ela, porém, se prende à escolha do gênero de existência, porque essas pessoas quiseram ser experimentadas por uma vida de decepção, a fim de exercitar sua paciência e sua resignação. Entretanto, não creiais que essa fatalidade seja absoluta; freqüentemente, ela é o resultado de um caminho falso que tomaram. E que não está em relação com sua inteligência e suas aptidões. Aquele que quer atravessar um rio a nado, sem saber nadar, tem grande chance de se afogar, assim é na maior parte dos acontecimentos da vida. Se o homem não empreendesse senão coisas compatíveis com suas faculdades, ele teria êxito quase sempre; o que o perde é o seu amor-próprio e sua ambição que o fazem sair de seu caminho e tomar, por uma vocação, o desejo de satisfazer certas paixões. Ele fracassa e a culpa é sua; mas, em lugar de tomá-la sobre si, prefere acusar sua estrela. Tal seria um bom operário e ganharia honradamente sua vida, que seria um mau poeta e morreria de fome. Haveria lugar para todos, se cada um soubesse se colocar em seu lugar.

863 – OS COSTUMES SOCIAIS NÃO OBRIGAM, FREQÜENTEMENTE, UM HOMEM A SEGUIR TAL CAMINHO ANTES QUE OUTRO, E NÃO ESTÁ ELE SUBMETIDO AO CONTROLE DA OPINIÃO PÚBLICA NA ESCOLHA DE SUAS OCUPAÇÕES? O QUE SE CHAMA O RESPEITO HUMANO NÃO É UM OBSTÁCULO AO EXERCICIO DO LIVRE-ARBÍTRIO?

- São os homens que fazem os costumes sociais e não DEUS; se submetessem a eles é porque isso lhes convém, e o fazem por um ato de seu livre-arbítrio visto que, se o quisessem, poderiam libertar-se deles; nesse caso, por que se lamentar? Não são os costumes sociais que devem acusar, mas seu tolo amor-próprio que os faz preferir morrer de fome a derrogá-los. Ninguém lhes levará em conta esse sacrifício feito à opinião pública, enquanto que DEUS terá em conta o sacrifício de sua vaidade, isso não quer dizer que seja preciso enfrentar essa opinião sem necessidade, como certas pessoas que têm mais de originalidade que de verdadeira filosofia. Há tanto contra-senso em tornar-se objeto de crítica ou mostrar-se como um animal curioso, quanto há de sabedoria em descer voluntariamente, e sem murmurar, quando não se pode manter-se no topo da escada.

(CONTINUA AMANHÃ)

Nenhum comentário: