sábado, 31 de julho de 2010

O LIVRO DOS ESPIRITOS

CAPÍTULO VIII

EMANCIPAÇÃO DA ALMA


Centésima Sexcentésima Segunda Parte.

RESUMO TEÓRICO DO SONAMBULISMO, DO ÊXTASE E DA SEGUNDA VISTA.

A causa da clarividência do sonâmbulo magnético e do sonâmbulo natural é identicamente a mesma: é um atributo da alma, uma faculdade inerente a todas as partes do ser incorpóreo que está em nós e que não tem limite senão aqueles assinalados à própria alma. Ele vê por toda parte onde sua alma pode se transportar, qualquer que seja a distância.

Na visão à distância, o sonâmbulo não vê as coisas do ponto onde está seu corpo e como por um efeito telescópio. Ele as vê presentes e como se estivesse sobre o lugar onde elas existem, porque sua alma aí está em realidade. Por isso, seu corpo está como aniquilado e parece privado de sentimentos, até o momento em que a alma vem retomá-lo.

Essa separação parcial da alma e do corpo é um estado anormal que pode ter uma duração mais ou menos longa, mas não indefinida, e é a causa da fadiga que o corpo experimenta depois de um certo tempo. Sobretudo, quando a alma se entrega a um trabalho ativo.

A vista da alma ou do Espírito, não estando circunscrita e não tendo sede determinada, explica por que os sonâmbulos não podem lhe assinalar um órgão especial. Eles vêem porque vêem, sem saber nem por que e nem de que forma a vista não tem sede própria para eles como Espíritos. Se eles se reportam ao seu corpo, esse centro principal lhes parece estar nos centros onde a atividade vital é maior, principalmente no cérebro, na região epigástrica ou no órgão que, para eles, é o ponto de ligação, o mais tenaz, entre o Espírito e o corpo.

O poder da lucidez sonambúlica não é indefinido. O Espírito, mesmo completamente livre, está limitado em suas faculdades e em seus conhecimentos segundo o grau de perfeição que atingiu, e mais ainda quando está ligado à matéria da qual sofre a influência. Essa a causa para qual a clarividência sonambúlica não é nem universal, nem infalível. Pode-se tanto menos contar com sua infalibilidade quando se desvia do objetivo proposto pela Natureza e quando se faz objeto de curiosidade e de experimentação.

(CONTINUA AMANHÃ)

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