sexta-feira, 28 de maio de 2010

O LIVRO DOS ESPIRITOS

LIVRO SEGUNDO

CAPÍTULO VI

VIDA ESPÍRITA

Nonagésima Oitava Parte

ENSAIO TEÓRICO SOBRE A SENSAÇÃO NOS ESPÍRITOS

Toda esta teoria, dir-se-á, não é nada tranqüilizadora. Pensávamos que, uma vez desembaraçados do nosso envoltório grosseiro, instrumentos das nossas dores, não sofreríamos mais e nos informais que ainda sofreremos e, seja de uma maneira ou de outra, é sempre sofrer. Ah! Sim, podemos ainda sofrer muito e por muito tempo, mas, podemos também não mais sofrer, mesmo desde o instante em que deixamos a vida corpórea.

Os sofrimentos deste mundo, algumas vezes, independem de nós, mas muitos são conseqüências da nossa vontade. Remontando à origem, ver-se-á que, em sua maior parte, resultam de causas que poderíamos evitar. Quantos males e enfermidades devem o homem aos seus excessos, à sua ambição, às suas paixões? O homem que tivesse vivido sempre sobriamente, sem abusar de nada, com simplicidade de gostos, modesto em seus desejos, se pouparia de muitas tribulações. Ocorre o mesmo com o Espírito; os sofrimentos que enfrenta são conseqüência da maneira que viveu sobre a Terra. Sem dúvida, não terá mais a gota e o reumatismo, mas terá outros sofrimentos que não são menores. Vimos que esses sofrimentos resultam dos laços que ainda existem entre o Espírito e a matéria e que quanto mais se liberta da influência da matéria, quanto mais se desmaterializa, sofre menos as sensações penosas. Ora, depende dele libertar-se dessa influência desde a vida atual; tem o seu livre-arbítrio e, por conseguinte, a faculdade de escolher entre fazer e não fazer. Dome ele as suas paixões animais, não sinta ódio, nem inveja, nem ciúme, nem orgulho; não se deixe dominar pelo orgulho e purifique a sua alma pelos bons sentimentos, que faça o bem e dê às coisas deste mundo a importância que elas merecem, então, mesmo estando encarnado, já estará depurado, liberto da matéria, e quando deixar seu corpo não mais lhe suportará a influência. Nenhuma recordação dolorosa nenhuma impressão desagradável lhe restará dos sofrimentos físicos que experimentou, porque elas afetaram o corpo e não o Espírito. Sentir-se-á feliz de ter se libertado delas e a alma de sua consciência o isentará de todo o sofrimento moral. Interrogamos milhares de Espíritos, que pertenceram a todas as categorias da sociedade terrena, a todas as posições sociais; estudamo-los em todos os períodos da sua vida espírita, a partir do momento em que deixaram o corpo; seguimo-los, passo a passo, nessa vida além-túmulo, para observar as mudanças que neles se operaram, em idéias, em suas sensações e, sob esse aspecto, os homens mais vulgares não foram os que nos forneceram materiais de estudo menos preciosos. Ora, constatamos sempre que os sofrimentos tinham relação com a conduta, da qual suportavam as conseqüências, e que essa nova existência era a fonte de uma felicidade inefável para os que seguiram o bom caminho. Segue-se daí que os que sofrem, sofrem porque quiseram e só de sim mesmos podem queixar-se, tanto neste como no outro mundo.

(CONTINUA AMANHÃ)

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