terça-feira, 25 de maio de 2010

O LIVRO DOS ESPIRITOS

LIVRO SEGUNDO

CAPÍTULO VI

VIDA ESPÍRITA


Nonagésima Quinta Parte

ENSAIO TEÓRICO SOBRE A SENSAÇÃO NOS ESPÍRITOS

Eis porque o Espírito não diz que sofre mais da cabeça do que dos pés. É preciso, de resto, não confundir as sensações do perispírito, que se tornou independente, com as do corpo, não podemos tomas estas últimas como análogas, mas apenas como termo de comparação. Liberto do corpo, o Espírito pode sofrer, mas esse sofrimento não é corporal, embora não seja exclusivamente moral como o remorso, uma vez que ele se queixa do frio e do calor. Ele não sofre mais no inverno que no verão e o temos visto passar através das chamas sem nada experimentar de penoso; a temperatura não lhes causa, pois, nenhuma impressão. A dor que ele sente não é propriamente uma dor física, mas um vago sentimento íntimo que o próprio Espírito nem sempre entende, precisamente porque a dor não está localizada e não produzida por agentes externos; é mais uma lembrança que uma realidade, porém, uma recordação também penosa. Há, algumas vezes, entretanto, mais que uma lembrança, como iremos ver.

A experiência nos ensina que no momento da morte o perispírito se liberta mais ou menos lentamente do corpo. Durante os primeiros instantes, o Espírito não entende sua situação; não se crê morto porque se sente vivo; vê seu corpo de um lado, sabe que é seu, mas não entende por que está separado dele. Este estado perdura enquanto existe alguma ligação entre o corpo e o perispírito. Um suicida nos disse: Não, não estou morto – e ajuntou – entretanto, sinto os vermes que me roem. Ora, seguramente, os vermes não roíam o perispírito, e muito menos o Espírito; roíam apenas o corpo.

Entretanto, como a separação do corpo e do perispírito não tinha se completado, resultava uma espécie de repercussão moral que lhe transmitia a sensação do que se passava no corpo. Repercussão pode não ser, talvez, a palavra certa, pois faria supor um efeito muito material; era, antes, a visão do que se passava no corpo, ligado ainda no seu perispírito, que produzia nele uma ilusão, na qual tomava por uma realidade. Assim, não era uma lembrança, pois que, durante sua vida não havia sido roído pelos vermes, era sentimento de um fato atual. Vêem-se, por ai, as deduções que se podem tirar dos fatos, quando são observados atentamente. Durante a vida, o corpo recebe as impressões exteriores e as transmite ao Espírito por intermédio do perispírito que constitui, provavelmente, o que se chama de fluido nervoso. Morto o corpo, ele não sente mais nada, visto que não há mais nele Espírito, nem perispírito. O perispírito, desprendido do corpo, experimenta sensação, mas como esta não lhe chega mais por um canal limitado, é generalizada.

Ora, como na realidade ele não é mais que um agente de transmissão, pois é no Espírito que está a consciência, resulta disso que, se pudesse existir um perispírito sem Espírito, ele não sentiria mais do que um corpo morto. Da mesma forma, se o Espírito não tivesse o perispírito, seria inacessível a toda sensação penosa, como ocorre com os Espíritos completamente purificados. Sabemos que, quanto maias eles se purificam, mas a essência do perispírito se torna etérea, do que se segue que a influência material diminui à medida Espírito progride, quer dizer, à medida que o próprio perispírito se torna menos grosseiro.

(CONTINUA AMANHÃ)

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