sábado, 8 de maio de 2010

O LIVRO DOS ESPIRITOS

LIVRO SEGUNDO

CAPÍTULO V

CONSIDERAÇÕES SOBRE A PLURALIDADE DAS EXISTÊNCIAS

Setuagésima Oitava Parte.


Raciocinemos desta maneira: DEUS, que é soberanamente bom, não pode impor ao homem o recomeço de uma série de misérias e de tribulações. Concluiremos, por acaso, que há mais bondade em condenar o homem a um sofrimento perpétuo por alguns momentos de erro antes que lhe dar os meios de reparar suas faltas? “Dois fabricantes tinham, cada um, um operário que podia aspirar a vir a ser o sócio do patrão. Ora, aconteceu que esses dois operários empregaram uma vez muito mal a sua jornada de trabalho e mereceram ser despedidos. Um dos dois fabricantes despediu seu operário, malgrado suas súplicas, e ele não tendo encontrado trabalho, morreu na miséria. O outro disse ao seu:” perdeste um dia de e me deves outro em compensação. Executaste mal o teu trabalho e me deves a reparação. “Eu te permito recomeçar; trata de executá-lo bem e eu te conservarei, podendo ainda aspirar sempre à posição superior que te prometi”.

Há necessidade de se perguntar qual dos dois fabricantes foi mais humano? Será DEUS, a própria clemência, mais impiedoso que um homem? O pensamento de que nosso destino está fixado paras sempre em razão de alguns anos de provas, ainda mesmo quando não tenha dependido de nós alcançarmos a perfeição sob a Terra, tem qualquer coisa de doloroso, enquanto que a idéia contrária é eminentemente consoladora: ela nos deixa a esperança. Assim, sem nos pronunciarmos pró ou contra a pluralidade das existências, sem admitir uma hipótese à outra, diremos que, se podemos escolher, não existe ninguém que prefira um julgamento sem apelação. Um filósofo disse que se DEUS não existisse seria preciso inventá-lo para felicidade do gênero humano; poder-se-ia dizer o mesmo da pluralidade das existências. Mas, como dissemos, DEUS não nos pede permissão, não consulta nosso gosto; isto é ou não é. Vejamos de que lado estão as probabilidades e tomemos a questão sob outro ponto de vista, sempre abstração feita do ensinamento dos Espíritos e unicamente como estudo filosófico.

(CONTINUA AMANHÃ)

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