sexta-feira, 7 de maio de 2010

O LIVRO DOS ESPIRITOS

LIVRO SEGUNDO

CAPÍTULO V

CONSIDERAÇÕES SOBRE A PLURALIDADE DAS EXISTÊNCIAS

Setuagésima Sétima Parte.

Suponhamos que falamos a pessoas que crêem em um futuro qualquer depois da morte, e não àqueles que tomam o nada por perspectiva, ou que pretendem afogar sua alma no todo universal, sem individualidade, como as gotas de chuva no oceano, o que vem a ser o mesmo. Se, pois, credes num futuro qualquer, não admitireis, sem dúvida, que ele seja o mesmo para todos, de outro modo, onde estaria a utilidade do bem? Por que se reprimir, não satisfazer todas as suas paixões, todos os seus desejos, mesmo à custa de outros, uma vez que não teria conseqüências?

Credes que este futuro será mais ou menos feliz ou infeliz segundo o que fizermos durante a vida; tendes, pois, o desejo de que seja tão feliz quanto possível, uma vez que deve sê-lo pela eternidade. Teríeis, por acaso, a pretensão de serdes um dos homens mais perfeitos dos que existiram sobre a Terra e de ter, assim, o direito de alcançar sem dificuldade e felicidade suprema dos eleitos? Não. Admitis que haja homens que valem mais que vós e que têm direito a uma melhor situação, sem que com isso estejais entre os condenados. Muito bem! Colocai-vos, por um instante, pelo pensamento, nessa situação intermediária que seria a vossa, como o admitis, e supondo que alguém venha dizer-vos: “Sofreis; não sois tão felizes como poderíeis ser, enquanto tendes diante de vós seres que gozam uma felicidade perfeita, quereis trocar vossa posição com a deles?” - Sem dúvida direis, “que é preciso fazer?” –

Menos que nada, recomeçar o que fizestes mal e procurar fazer melhor
– Hesitaríeis em aceitar mesmo ao preço de várias existências de provas? Tomemos uma comparação mais prosaica. Se a um homem que, sem estar entre os últimos dos miseráveis, sofre privações em conseqüência da escassez de seus recursos, viessem dizer: “Eis uma imensa fortuna de que podeis gozar, sendo necessário, para isso, trabalhar arduamente durante um minuto”. Fosse ele o mais preguiçoso da Terra e diria sem hesitar: - “Trabalhemos um minuto, dois minutos, uma hora, um dia se for preciso; que importa isso se vou terminar minha vida na abundância?” Ora, O que é a duração da vida corpórea em confronto com a eternidade? Menos que um minuto, menos que um segundo.

(CONTINUA AMANHÃ).

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