sexta-feira, 5 de março de 2010

O LIVRO DOS ESPIRITOS

LIVRO PRIMEIRO

AS CAUSAS PRIMEIRAS

CAPÍTULO TERCEIRO

CRIAÇÃO


Décima oitava Parte


PLURALIDADE DOS MUNDOS

CONSIDERAÇÕES E CONCORDÂNCIAS BÍBLICAS REFERENTES À CRIAÇÃO.

Admitindo-se que o homem apareceu pela primeira vez sobre a Terra, 4000 anos antes de CRISTO, se 1650 anos depois toda a raça humana foi destruída, à exceção de uma só família, disso resulta que o povoamento da Terra data de Noé, quer dizer, de 2350 anos antes da nossa era. Ora, quando os Hebreus emigraram do Egito, no décimo oitavo século, encontram esse país muito povoado e já bem avançado em civilização. A história prova que nessa época a Índia e outros países estavam igualmente florescentes, sem mesmo se levar em conta a cronologia de certos povos que remontam a uma época bem mais recuada. Seria preciso, pois, que, no vigésimo quarto ao décimo oitavo século, quer dizer, num espaço de 600 anos, não somente a posteridade de um único homem pudesse povoar todos os imensos países então conhecidos, supondo-se que os outros não o fossem, mas que, nesse curto intervalo, a espécie humana pudesse se elevar da ignorância absoluta do estado primitivo, ao mais alto grau de desenvolvimento intelectual, o que é contrário a todas as leis antropológicas.
As diversidades das raças vêm, ainda, em apoio desta opinião. O clima e os costumes produzem, sem dúvida, modificações nos caracteres físicos, mas se conhece até onde podem chegar as influências dessas Causas, e o exame fisiológico prova que há, entre certas raças, diferenças constitucionais mais profundas que aquelas que podem o clima produzir. O cruzamento das raças produz os tipos intermediários. Ele tende a apagar os caracteres extremos, mas não os produz, apenas cria variedades. Ora, para que houvesse cruzamento de raças era preciso que houvesse raças distintas, e como explicar sua existência dando-lhes um tronco comum e, sobretudo, ainda próximo? Como se admitir que, em alguns séculos, certos descendentes de Noé se transformaram a ponto de produzirem a raça etíope, por exemplo? Uma tal metamorfose não é mais admissível que a hipótese de um tronco comum para o lobo e o cordeiro, para elefante e o pulgão, para o pássaro e o peixe. Ainda uma vez, nada pode prevalecer contra a evidência dos fatos. Tudo se explica, ao contrário, em se admitindo a existência do homem antes da época que lhe é vulgarmente assinalada; que as ordens são diversas; que vivendo há seis mil anos, Adão tenha povoado uma região ainda desabitada; o dilúvio de Noé como uma catástrofe parcial confundida com o cataclismo geológico; tendo em conta, enfim, a forma alegórica particular ao estilo oriental e que se encontra nos livros sagrados de todos os povos. Por isso, é prudente não se negar, apressadamente, como falsas, doutrinas que cedo ou tarde, como tantas outras, podem desmentir aqueles que as combatem. As idéias religiosas, longe de perderem, se engrandecem, caminhando com a Ciência; esse é o único meio de não apresentarem, ao ceticismo, um lado vulnerável.

(CONTINUA AMANHÃ)

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