quinta-feira, 5 de novembro de 2009

ESPIRITISMO NO BRASIL

23ª - Parte

BEZERRA DE MENEZES

SUAS OBRAS


Um dia, deixei de ir à Câmara dos Deputados, de que fazia parte, e, pelas duas horas da tarde, passeava, na varanda, lendo uma obra que tinha me chegado às mãos, quando me apareceu um vizinho, Senhor Andrade Pinheiro, filho do Presidente da Relação de Lisboa, e moço de inteligência bem cultivada. O Senhor Pinheiro não conhecia o Espiritismo, senão de conversa, e como eu fazia experiência em mim, ele aproveitava a minha experiência, para fazer juízo sobre a verdade ou falsidade da nova Doutrina. Depois dos primeiros cumprimentos, perguntou-me como eu ia com tratamento espírita.

Respondi-lhe com estas palavras: “Estou bom; sinto apenas um dorzinha nos quadris e uma fraqueza nas coxas, como quem está cansado de andar muito”.

Conversamos sobre o fato de minha cura em três meses, quando nada alcancei com a medicina oficial, em cinco anos, e passamos a outros assuntos, até que, uma hora pouco mais ou menos depois, entrou meu primo com os vidros de remédios e com um bilhete, escrito a lápis, que me mandava Nascimento, e que dizia: “Não, meu amigo, não estás bom como pensas. Esta dor nos quadris que acusas, esta fraqueza das coxas, são a prova de que a moléstia não está de todo debelada. És médico e sabes que muitas vezes elas parecem combatidas, mas fazer erupções, porventura perigosas. Tua vida é necessária; continua teu tratamento”. É fácil compreender a surpresa, a admiração, o abalo profundo que produziu na minha alma um fato tão fora de tudo o que tinha visto em minha vida. Repetiram-se, da cidade, textualmente, as minhas palavras, como só poderia fazer quem estivesse ao alcance de ouvi-las!

Efetivamente, calculado o tempo que leva o bonde da casa do Nascimento á minha, reconhecemos, eu e Pinheiro, que aquela resposta me fora dada, da cidade, precisamente à hora em que eu respondia, na Tijuca, à interpelação de meu visitante.

Pode haver fatos mais importantes no domínio do Espiritismo; eu, porém, não tive ainda nenhum que me impressionasse como este, e, atendendo-se ao tempo em que ele se deu (quando eu estava sujeitando à prova experimental a nova Doutrina) compreende-se que impressão poderia causar-me. Creio que se eu fosse ainda um incrédulo, dessem que fecham os olhos para não ver, ainda assim não poderia resistir à impressão que me causou semelhante fato. Saulo não teve, mais do que eu teria, razão para fazer-se Paulo. Influência física, nenhuma senti,; porém, moralmente sou outro homem. Minha alma encontrou finalmente onde pousar, tendo deixado os espaços agitados pelo vendaval da descrença, da dúvida, do cepticismo, que devasta, que esteriliza, que calcina, se assim me posso exprimir, recordando as torturas de quem sente a necessidade de crer, mas não encontra onde assentar sua crença.

(continua amanha)

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