quinta-feira, 29 de outubro de 2009

ESPIRITISMO NO BRASIL

Décima Oitava Parte

BEZERRA DE MENEZES

SUAS OBRAS

A leitura foi sempre a minha distração predileta, mas dava-se a este respeito o mesmo que a respeito de escrever, abria um, outro, outro livro sobre ciência, sobre literatura, sobre o quer que fosse, mas não tolerava a leitura de uma página sequer.
Um dia, meu companheiro de consultório trouxe da rua um exemplar da Bíblia, tradução do padre Pereira de Figueiredo, entressachado de estampas finíssimas.

Tomei o livro, não para ler, que já não tentava semelhante exercício, mas para ver as estampas, com verdadeira curiosidade infantil. Passei todas em revista, mas no fim, senti desejo de ler aquele livro que encerrava minhas perdidas crenças, e também porque era vergonha para um homem de letras dizer que nunca o lera.

Comecei, pois, e esqueci-me a ler o belo livro, até perder a condução para minha casa; e, depois que cheguei à residência, sentia prazer em pensar que voltaria a lê-lo! Eu mesmo fiquei surpreendido do que se passava em mim.

Li toda a Bíblia e, quando mais lia, mais vontade tinha de continuar com aquela leitura. Quando acabei, eu sentia a necessidade de crer, não nessa crença imposta à fé, mas numa crença firmada na razão e na consciência. Onde lhe descobrir a fonte? Atirei-me à leitura dos livros sagrados, com ardor, com sede; mas sempre uma falha ao que meu Espírito reclamava.

Começaram a aparecer as primeiras notas espíritas no Rio de Janeiro; mas eu repelia semelhante Doutrina, sem conhecê-la nem de leve! Somente porque temia que ela perturbasse a tal ou qual paz que me trouxera ao Espírito a minha volta à religião de meus maiores, embora com restrições. Um colega (Doutor Joaquim Carlos Travassos), porém, tendo traduzido “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec, fez-me de presente de um exemplar, que aceitei, por cortesia. Deu-mo na cidade, e eu morava em Tijuca, a uma hora de viagem de bonde.

(continua amanha)

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