segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

BEM-AVENTURADOS AQUELES QUE TÊM OS OLHOS FECHADOS

Meus bons amigos, porque me chamaram? É para me fazer impor as mãos sobre a pobre sofredora que está aqui, e a cure? Ah! que sofrimento, bom DEUS! Ela perdeu a vista e as trevas se fizeram para ela. Pobre criança! Que ore e espere. Não sei fazer milagres, sem a vontade do bom DEUS. Todas as curas que puder obter, e que lhes foram assinaladas, não as atribuam senão àquele que é nosso PAI em tudo.
Em suas aflições, portanto, olhem sempre o céu, e digam, do fundo dos seus corações: “Meu PAI, cura-me, mas faça que minha alma doente seja curada antes das enfermidades do meu corpo; que minha carne seja castigada, se preciso for, para que minha alma até vós com a brancura que tinha quando a criastes” Depois desta prece, meus bons amigos, que o bom DEUS ouvirá sempre, a força e a coragem lhes serão dadas e, talvez, também essa cura que não tenhas pedido senão timidamente como recompensa de sua abnegação.
Mas, uma vez que eu estou aqui, numa assembléia onde se trata, antes de tudo, de estudos, eu lhes direi que aqueles que estão privados da vista deveriam se considerar como os bem-aventurados da expiação. Lembre-se de que o CRISTO disse que seria preciso arrancar seu olho, se ele fosse mau, e que valeria mais que ele fosse lançado ao fogo do que ser causa de sua perdição. Ah! quantos há sobre a sua Terra, que maldirão um dia nas trevas terem visto a luz! Oh! Sim, são felizes estes que, na expiação, são atingidos na vista! Seu olho não será motivo de escândalo e de queda; podem viver inteiramente a vida das almas; podem ver mais que vocês que vêem claro... Quando DEUS me permite ir abrir as pálpebras de algum desses pobres sofredores e devolver-lhes a luz, digo a mim mesmo: Alma querida, por que não conheces todas as delicias do Espírito, que vive de contemplação e do amor? Você não pediria para ver imagens menos puras e menos suaves do que aquelas que lhe é dado entrever em sua cegueira.
Oh! Sim, bem-aventurado o cego que quer viver com DEUS; mais feliz que vocês, que estão aqui, ele sente a felicidade, toca-a, vê as almas e pode se lançar com elas nas esferas espirituais que os próprios predestinados da sua Terra não vêem. O olho aberto está sempre pronto para fazer a alma falir; o olho fechado, ao contrário, está sempre pronto a fazê-la alçar para DEUS. Creiam-me bem, meus bons e caros amigos, a cegueira dos olhos é, freqüentemente, a verdadeira luz do coração, enquanto que a vista é, freqüentemente, o anjo tenebroso que conduz à morte.
E, agora, algumas palavras para você, minha pobre sofredora: espera e tem coragem! Se lhe dissesse: Minha filha, seus olhos vão se abrir, como serias ditosa! E quem sabe se essa alegria não lhe perderia? Tenha confiança no bom DEUS que fez a felicidade e permite a tristeza! Farei por você tudo o que me for permitido; mas a seu turno, ora e, sobretudo, medita em tudo o que acabo de lhe dizer.
Antes que me afaste, vocês todos que estão aqui, recebam a minha benção (VIANNEY, cura d’Ars)

NOTA: Quando uma aflição não é conseqüência dos atos da vida presente, é preciso procurar-lhe a causa numa vida anterior. O que se chama de caprichos da sorte não são outras coisas senão os efeitos da Justiça de DEUS.
DEUS não inflige punições arbitrárias; ELE quer que entre a falta e a pena haja sempre correlação. Se, em sua bondade, lançou um véu sobre os nossos atos passados, nos coloca, entretanto, sobre o caminho, dizendo: “Quem matou pela espada, perecerá pela espada”; palavras que podem se traduzir assim: “Sempre se é punido naquilo em que pecou”. Se, pois, alguém está aflito pela perda da vista, é porque a vista foi para ele causa de queda. Pode ser, também, que foi causa da perda da vista num outro; talvez alguém tenha se tornado cego pelo excesso de trabalho que lhe impôs, ou em conseqüência de maus tratos, de falta de cuidados, etc. e, então, suporta a pena de talião. Ele mesmo, em seu arrependimento, pôde escolher essa expiação, em se aplicando estas palavras de JESUS: “Se vosso olho vos é um motivo de escândalo, arrancai-o”.

(Trecho extraído do Evangelho Segundo o Espiritismo)

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