quarta-feira, 19 de novembro de 2008

A INFELICIDADE REAL

Todo mundo fala da Infelicidade, todo mundo a experimentou e crê conhecer o seu caráter múltiplo.
Venho lhes dizer que quase todos se enganam, é que a Infelicidade Real não é tudo aquilo que os homens, quer dizer os infelizes, a supõem. Eles a vêem na miséria, no fogão sem lume, no credor ameaçador, no berço vazio do anjo que sorria, nas lágrimas, no féretro que se acompanha de cabeça descoberta e de coração partido, na angústia da traição, na nudez do orgulhoso que gostaria de se cobrir de púrpura e que esconde com dificuldade sua nudez sob os farrapos da vaidade. A tudo isso, e outras coisas ainda, se chama de Infelicidade na linguagem humana. Sim, é a Infelicidade para aqueles que não vêem senão o presente. Mas a verdadeira Infelicidade está nas conseqüências de uma coisa, mais do que na própria coisa. Diga-me se o acontecimento mais feliz para o momento, mas que tem conseqüências funestas, não é em realidade mais infeliz que aquele que causa primeiro uma viva contrariedade, e acaba por resultar no bem? Diga-me se a tempestade que quebra suas árvores, mas saneia o ar dissipando os miasmas insalubres que causariam a morte, não é antes uma felicidade do que uma Infelicidade.

Para julgar uma coisa é preciso, pois, ver-lhe as conseqüências. É assim que, para apreciar o que é realmente feliz ou infeliz para o homem, é preciso se transportar além desta vida, porque é lá que as conseqüências se fazem sentir. Ora, tudo o que se chama infelicidade segundo sua curta visão, cessa com a vida e encontra sua compensação na vida futura.

Vou lhes revelar a Infelicidade sob uma nova forma, sob a forma bela e florida que acolhes e desejas com todas as forças das suas almas equivocadas. A Infelicidade é a alegria, é o prazer, é a fama, é a agitação vã, é a louca satisfação da vaidade, que fazem calar a conseqüência, que comprimem a ação do pensamento, que atordoam o homem sobre seu futuro. A Infelicidade é o ópio do esquecimento que reclamas ardentemente.

Esperai, vocês que choram! Tremei vocês que riem, porque seus corpos estão satisfeitos! Não se engana a DEUS. Não se esquiva do destino. E as provas credoras mais implacáveis que a mantilha excitada pela miséria, espreitam seus repousos ilusórios para lhes mergulhar de repente na agonia da verdadeira Infelicidade, daquela que surpreende a alma enfraquecida pela indiferença e pelo egoísmo.

Que o Espiritismo lhes esclareçam, pois, e recoloque em sua verdadeira luz a verdade e o erro, tão estranhamente desfigurados pela suas cegueiras! Então agireis como bravos soldados que, longe de fugirem do perigo, preferem as lutas dos combates temerários, à paz que não pode dar nem glória, nem progresso. Que importa ao soldado perder no túmulo suas armas, sua bagagem e seus uniformes, contanto que dele sai vencedor e com glória! Que importa àquele que tem fé no futuro deixar sobre o campo de batalha da vida sua fortuna e seu manto de carne, contanto que sua alma entre radiosa no REINO CELESTE?

(Trecho extraído do Evangelho Segundo o Espiritismo)

Nenhum comentário: