sábado, 14 de janeiro de 2012

SOMBRAS DO PASSADO - Livro de Haroldo Freitas

CONTINUAÇÃO

Trouxe também mais trabalho e responsabilidade. Quando não estava viajando, para as filiais na América do Sul ou para a Matriz, em Miami, ficava em reuniões até altas horas da noite. Nos finais de semana, quando não recebia em casa amigos e clientes, estava visitando-os em suas casas. No principio, Cida adorava receber e visitar pessoas diferentes, fazer novas amizades. Mas, com o passar do tempo, aquilo foi tornando-se uma rotina cansativa e maçante. Já não tinha tempo de ficar a sós com o marido. Quando voltavam dessas visitas e festas, estavam exaustos.
Ronaldo, absorvido com os problemas da Empresa e a expansão dos negócios, não tinha tempo para dar atenção a Carol e, quando Cida, nos poucos momentos de intimidades, falava dos problemas com a filha, era motivo para discussões e brigas. Ele alegava que tinha muitos problemas da Empresa resolver e os domésticos ela é quem deveria resolvê-los.
Cida amava o marido e sabia que era amada, mas estava vendo, que aos poucos, o seu casamento estava acabando. Tudo por causa do comportamento de Carol, o que a fazia não ter paciência para conversar com a filha, de maneira ponderada e compreensiva.


Sabia que ela estava errada e tinha a obrigação de consertá-la de qualquer maneira, como se fosse um objeto ou uma máquina.
Por seu lado, Carol, que fora criada, desde o seu nascimento, com suas vontades, desejos e caprichos atendidos sem a menor contestação, achava-se com direito, principalmente agora que já se considerava adulta, de escolher o que era melhor para si. Da sua turma, a única que tinha uma mãe chata e careta era ela. As outras meninas da turma, algumas mais novas, tinham total liberdade de suas mães, que eram modernas e tinham consciência que estavam vivendo nos anos noventa e não como a sua mãe, que parecia estar nos anos cinquenta. O relacionamento entre as duas nem parecia de mãe e filha e sim de duas pessoas estranhas e inimigas.
D. Beatriz, avó de Carol, por parte de pai, tivera somente um filho, o Ronaldo. Ficara viúva a pouco mais de dez anos e não aceitava ir morar com o filho, preferindo morar sozinha, embora tendo um ótimo relacionamento com a nora. Gostava muito da neta e era a sua confidente, principalmente nos conflitos com a mãe. Cida tinha dois irmãos, ambos casados e, era a caçula.

Ficara órfã aos quatros anos, quando um acidente de automóvel tirou a vida de seus pais. Ela e os irmãos foram criados por uma irmã de seu pai. Foram educados muito bem, inclusive, os dois irmãos, Edson e Abelardo formaram-se em advogado e dentista, respectivamente. A educação doméstica, desde o dia que passaram para a responsabilidade da tia, foi muito rígida. Tinham os direitos que toda criança e adolescente devem ter, também tinham obrigações e deveres, ou seja, os seus direitos tinham limites. Cida casou aos dezoito anos. Um casamento que tinha tudo para dar certo. Os noivos eram jovens, bonitos, com boa formação moral e intelectual e tinham total apoio de suas famílias, que eram conhecidas e amigas há muito tempo.
No inicio, apesar das dificuldades naturais de todos recém-casados, foi um período maravilhoso. Ronaldo voltava do serviço antes das dezenove horas encontrando Cida a sua espera, arrumada e cada dia mais bonita e apaixonada. O jantar, preparado pela empregada, era com os pratos preferidos dele. Nada tinha a reclamar, somente a agradecer a DEUS, por ter casado com uma mulher maravilhosa.
Logo, Cida ficou grávida de Rodrigo, que nasceu antes de completarem dois anos de casados.

A gravidez de Cida e o nascimento do filho uniram, ainda, mais o casal. Dificilmente passavam um final de semana em casa. Quando não iam para a casa de D. Beatriz ou para a casa dos irmãos de Cida, iam para a casa de praia, pertencente a D. Beatriz. Durante a semana, pelo menos uma noite, iam ao cinema ou teatro e aproveitavam para jantar fora. Sempre juntos, parecendo um casal de namorados.
Com o passar dos anos e a ascensão de Ronaldo na Empresa, que o obrigava a ficar trabalhando até tarde da noite, bem como as frequentes viagens, inclusive para Miami, o relacionamento foi esfriando. Rodrigo estava com cinco na os e Cida achou que estava na hora de ter outro filho, até porque, antes de casarem, tinham planejado ter dois filhos e, também, pensava que um novo filho, faria Ronaldo ser igual, como fora quando o Rodrigo nasceu. Porém, com o nascimento de Carol, as coisas pioraram. Cida passou a exigir mais atenção para ela e os filhos, principalmente para o bebê.
Ronaldo, para evitar as cobranças de Cida e, por conseguinte, as brigas diárias passou a viajar mais e prolongar as estadas fora da cidade, principalmente nos finais de semana. As viagens eram programadas, quase sempre, com partida as sextas e com retorno as terças feira.


Este clima desagradável se mantinha desde a gravidez de Carol até os dias atuais. Conforme Carol crescia, o relacionamento do casal piorava, estando, atualmente, em níveis insuportáveis. Quase não se falavam e quando acontecia era para brigarem e, o assunto era o comportamento de Carol.
Ronaldo pensara até em separação, mas amava a esposa e era fiel. Nunca tivera uma aventura fora de casa, por mais simples que fosse. Oportunidades não faltavam, principalmente durante as viagens. Na solidão dos quartos de hotéis, ficava pensando o que e porque daquela situação. O seu casamento estava, praticamente, acabado. No principio, com as dificuldades que passaram, eram felizes. Agora, com a sua vida profissional estabilizada, boa posição social, econômica e financeira, a felicidade acabara.
Não conseguia mais passar um fim de semana em casa com a família, preferia estar solitário nos quartos de hotéis para evitar ouvir cobranças e discutir com Cida e Carol. Já pedira conselhos a D. Beatriz, mas ao invés de conselhos, recebia convite para participar de uma sessão espírita, no Centro que sua mãe frequentava. Ela dizia que os problemas que estavam aparecendo em sua casa eram motivados por dividas contraídas em encarnações passadas.

CONTINUA AMANHÃ

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