domingo, 8 de janeiro de 2012

REENCONTRO - LIVRO DE CHICO XAVIER - CAPÍTULO 14 E 15

CONTINUAÇÃO

PROCURAR E ENCONTRAR
Emmanuel

Estudando o Evangelho em sua Divina simplicidade, jamais nos cansemos de aprender com a Natureza.
Não basta procurar para que o êxito te acompanhe.
É preciso saber o que fizeste daquilo que já encontraste.
O verme pede luz e recolhe a claridade solar.
Em troca, aduba a terra, auxiliando a sementeira.
A árvore reclama a presença da fonte que lhe refresque as raízes, obtendo o manancial que lhe assegura a seiva farta.
Em troca, entrega a quem passa todo um tesouro de serviços a expressar-se em frutos dadivosos, assistência e doçura.
A abelha suspira pelo néctar que lhe enriquece a moradia e recebe das flores preciosa alimentação. Em troca, oferece ao homem o milagre do mel.
Todos os elementos e todos os seres buscam algo e algo encontram, estendendo o câmbio valioso da cooperação e da simpatia que garantem o mundo em seus fundamentos.
Reflitamos o ensino e situemo-nos na posição do usufrutuário que dispõe consigo de infinitos recursos, em favor de si mesmo.
Procurávamos ocasião de resgatar o pretérito e clamávamos pelo reencontro com antigos adversários para o trabalho de recuperação e de reajuste.
Suplicávamos talentos, possibilidades, tempo e dons...
E, tudo isso brilha em nosso coração e em nossos braços, enquanto a oportunidade nos favorece agora a recomposição do destino...
Valorizemos, desse modo, os meios que já nos felicitam a existência e, em troca, do carinho com que a bondade celeste nos ampara, saibamos produzir mais trabalho, mais compreensão e mais fraternidade junto de nós.
Amanhã, sofreremos a inspeção da Contabilidade Divina.
Que não sejamos identificados na condição do servo ocioso que gastou a riqueza dos dias procurando vantagens e benefícios, quando benefícios e vantagens nos cercam por todos os ângulos do caminho.
Que a Justiça Eterna nos encontre por trabalhadores fiéis que fizeram do amor recebido mais ampla lavoura do amor, afim de que o amor, como Divindade Imperecível da Vida, nos coroe de paz e vitória, hoje e sempre.
CAP. 15
D. AMÁLIA, A SECRETÁRIA DE EURÍPEDES


Em 1974, a Fundação Educandário Pestalozzi, grande instituição espírita da cidade paulista de Franca, atravessava uma fase difícil, com problemas que muito preocupavam os seus fundadores e diretores, Dr. Tomaz Novelino e sua esposa, Profa. Maria Aparecida R. Novelino.
Nesta época, o casal receber em sua residência a visita de Chico Xavier, que, em certo momento do diálogo fraterno, pediu para que se recolhessem em prece, numa sala reservada, solicitando também papel e lápis. Logo atendido, o médium psicografou uma carta do Espírito de D. Amália Ferreira de Mello, escrita de coração para coração aos seus estimados amigos Novelino e Cida, - assim tratando-os como fazia, na intimidade, quando encarnada -, transmitindo-lhes oportunas orientações e muito conforto espiritual.
Como preâmbulo à leitura desta carta, ouçamos a palavra de D. Maria Aparecida, que, atendendo gentilmente o nosso pedido, nos apresentará a secretária de Eurípedes, e nos dirá do relacionamento feliz, seu e do esposo, com o médium amigo de Uberaba:
“D. Amália e eu
Conheci-a naquele longínquo 30 de abril de 1936, véspera de 1o de maio, data do nascimento de Eurípedes Barsanulfo, em casa da mãe do lembrado apóstolo, na cidade de Sacramento.
Eu me sentia, lembro-me perfeitamente, muito feliz. Estava naquele recanto mineiro em companhia de meu noivo que me levara até lá para me apresentar à família de Eurípedes ele que era muito chegado a ela e que fora, mesmo, discípulo do grande mestre.
Fiquei hospedada em casa de D. Meca e ninguém pode imaginar a alegria que então sentia. Sacramento parecia-me – e não será? – uma cidade carismática. Por suas ruas andara Eurípedes, seu ar fora por ele respirado, ali trabalhara intensamente e ali moravam ainda, naquela época, seus parentes e amigos. Por isso eu estava muito feliz, ainda mais que nas comemorações da noite seguinte deveria ler uma página que escrevera a respeito do mestre amado e do seu trabalho.
A casa de D. Meca, naquelas ocasiões, tinha em ambiente de festa. Os filhos todos, e eles eram muitos, noras, genros, netos, amigos de várias cidades, todos ali se reuniam, entrando e saindo, cumprimentando-se, abraçando-se, conversando numa alegria sadia e fraterna. E D. Meca querida ia me apresentando a todos. Chega a vez de D. Amália, apresentada como a secretária de Eurípedes. Estava ela como sempre depois a vi, sorridente, pequenina e magra, trajando um singelo vestido branco. Assim a conheci e terna amizade selou-nos a vida.
Soube que D. Amália tinha dois irmãos que mais tarde conheci, duas cunhadas e vários sobrinhos. Casara-se bem jovem mas o casamento não lhe trouxe a paz desejada e dentro de quatro anos viu-se separada do companheiro. Foi então para Sacramento fazer tratamento com Eurípedes e D. Meca a acolheu em sua casa, de onde nunca mais se afastou a não ser por breves períodos, algum tempo com a mãe e depois em visitar aos irmãos e sobrinhos.
Data, ainda, dessa época, talvez pelo desequilíbrio nervoso que sofrera, a insônia terrível que a acometeu e que a fez passar anos sem dormir. “Duas vidas numa só existência” costumava lhe dizer Eurípedes. Só bem próxima ao fim da jornada terrena conseguia uma ou duas horas de sono por noite.
Ao que ela me relatou, logo após seu tratamento com Eurípedes e sentindo-se mais restabelecida, começou a ajudá-lo na confecção de remédios de sua farmácia, bem como se tornou sua secretária nos labores que ele não tinha tempo de executar. E de ver-se em manuscritos antigos e letra linda, firme e uniforme que ela possuía, bem como a nobreza de suas frases.
Também na confecção de trabalhos manuais no arranjo de uma jarra com flores, em tudo que demandasse paciência, bom gosto e finura artística, ela era mestra exímia.
Todas as vezes que íamos a Sacramento, lá encontrávamos D. Amália sempre sorridente, sempre calma, sempre exemplo digno. Uma ocasião esteve em nossa casa, em Franca, por uns dois meses. Recordo-me que confeccionou duas maravilhosas capas de lã para minhas duas filhas mais velhas e era a amiga certa e firme nos trabalhos espirituais que então realizávamos. Dessa época, há pouco tempo, vi no Lar de Eurípedes uma fotografia que muita saudade me trouxe.
Mais tarde D. Amália, Corina Novelino e Maria da Cruz idealizaram e iniciaram a construção de um lar para meninas desamparadas – O Lar de Eurípedes. Não seguimos, meu marido e eu, o trabalho das três heroínas abnegadas. Também estávamos assoberbados com a estruturação do Educandário Pestalozzi e nenhum momento tínhamos para outra cousa, a não ser o trabalho que por anos ininterruptos nos tomou todas as forças.
Imagino, contudo, a luta que sofreram, os desânimos dos pessimistas que as afrontaram, a falta de recursos monetários que as abafou. D. Amália era a tesoureira da organização. Sua escrita era a mais honesta possível, os tostões contadinhos e ela procurava dar-lhes o melhor rumo. Foi daí em diante que ela se tornou a “tia Amália” de muitos e a “vó Amália” das internadas do Lar de Eurípedes.
Um dia perceber que as forças lhe iam faltando. Já não podia subir as escadas do edifício, já quase não se levantava, pouco se erguia da cama no canto de seu quartinho simples, no Lar. Foi aí que conversei com ela pela última vez. Entre tantos fatos bonitos – e como gostava de conversar! – narrou-me um sonho lindo que tivera, um que numa reunião, congresso talvez de espíritos luminosos, ela vira Bezerra de Menezes à presidência. Parece-me, hoje, depois dos livros maravilhosos de André Luiz conseguidos graças à psicografia inigualável de Chico Xavier, que D. Amália, em realidade, visitara a espiritualidade e estivera presente a uma alta reunião de espíritos redimidos.
Certa vez... a notícia. D. Amália partira. Sofrera muito. Diziam que era câncer nos intestinos, fígado, estômago, que se sabe? Ela se foi, era o fato consumado. No entanto, que maravilha é a Doutrina Espírita! – um dia... ou melhor, uma noite... 22 de abril de 1974... estávamos chocados com a súbita partida de uma de nossas professoras, desaparecida aos 22 anos em virtude de um acidente automobilístico...
Conhecemos Chico Xavier quando ainda residia numa singela casinha de sua amada Pedro Leopoldo. Estivéramos, meu marido, minhas filhas e eu, durante todo o mês no Rio de Janeiro, onde Novelino fizera um curso de cirurgia. Do Rio fomos a Belo Horizonte no intuito de chegarmos até Pedro Leopoldo e lá conhecer o Chico. Era 1944. Encontramos o querido médium à porta do Correio e de lá fomos a sua casa. À noite, na reunião costumeira que ele realizava, recebemos por seu intermédio uma maravilhosa comunicação de Eurípedes, incentivando-nos aos trabalhos que pensávamos realizar e alertando-nos contra os perigos que atravessaríamos. Alertou-nos quando disse: - “Os monstros do passado delituoso costumam atacar os trabalhadores desprevenidos” e incentivou-nos à luta ainda mesmo aguerrida quando continua – “mas os discípulos de bom ânimo perseveram até o fim.”
Naquela época o “Pestalozzi” para nós ainda estava na área do sonho, pois a primeira escolinha – “Escola Pestalozzi” – só se iniciou em agosto desse mesmo ano, 1944, e a Fundação em maio de 45.
E quantas lutas sofremos! Mas Deus sabe que nunca pensamos desistir!
Nesse ínterim mudara-se o Chico para Uberaba. Nessa cidade visitamo-lo apenas por duas ou três vezes. Mais não foi possível devido às preocupações imensas que nos assoberbavam e ao quase total regime de trabalho e servidão em que vivíamos naqueles anos titubeantes do “Pestalozzi”.
Em 1970, 20 de maio, comemorava o nosso Instituto o seu jubileu de prata e para as solenidades convidamos o Chico. Como por milagre acedeu, e tivemos com ele uma sensacional tarde de autógrafos e, à noite, uma sessão pública memorável. Ao final dessa reunião, recebeu uma poesia de Castro Alves, composta de oito estrofes de oito versos cada uma, bem no estilo próprio do poeta baiano, falando sobre a excelsitude da educação e assim terminando:
Companheiros do Evangelho,
Que o vosso amor vibre puro,
Edificando o futuro,
Na Luz Excelsa do Pai!
Eis que o Cristo nos conclama,
Sob o fulgor do Cruzeiro,
Repetindo ao mundo inteiro:
- “Espíritas, educai!...”
D. Amália, Chico e nós.
Ora, naquela noite, 22 de abril de 1974, dia do enterramento do corpo material da doce Ana Maria, como já foi lembrado, estando Chico Xavier em nossa casa, recebeu para nós uma mensagem da querida D. Amália. Passou a sua íntegra (*):
Comentando apenas alguns tópicos, afirmo que ela veio ao encontro de nossas necessidades do momento, visto estarmos em fase de muita desolação e aperturas:
“O trabalho é nosso, quase por privilégio, se pudéssemos falar em prerrogativas na Seara do Bem”.
“... rogamos a vocês dois paciência e coragem.”
“Não se sintam marginalizados por esse ou aquele motivo.”
“o alicerce é o mesmo. Vocês dois em Jesus”
“Vocês deveriam construir um reino em louvor de Jesus, com a fé e a cultura, coração e cérebro integrados pelo trabalho a se garantir com a precisa auto-suficiência e fizeram esse reino.”
Para que continuar? Seria preciso repetir a carta-mensagem de D. Amália para saborear, de novo, cada frase de carinho e observações que ela contém.
Sim, a suave D. Amália é, ainda continua a ser, a abnegada secretária de Eurípedes!
Nesse dia em que me foi solicitado escrever alguma cousa sobre o nosso relacionamento, faço-o com o coração e com a melhor das intenções, da emoção e da agridoce saudade. Não ofereço datas sobre a vida dela porque me faltam dados positivos e necessária seria uma pesquisa que não posso realizar. Relato apenas e simplesmente nosso conhecimento, nossa convivência, nossa amizade e o carinho que ela continua a nos ofertar no Mundo da Verdade em que hoje se encontra.

Maria Aparecida Rebêlo Novelino.”

CONTINUA AMANHÃ

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